Juros: Taxas sobem acompanhando pressão dos Treasuries e do câmbio, além de risco fiscal
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Os juros futuros subiram nesta segunda-feira, de forma mais acentuada nos vencimentos de longo prazo, com a curva local ganhando inclinação a exemplo dos Treasuries. O reforço nas apostas de vitória de Donald Trump na eleição presidencial em novembro, declarações conservadoras do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, e os riscos fiscais domésticos deram sequência ao movimento de realização de lucros do mercado, após as taxas terem devolvido prêmios de risco desde o começo do mês até meados da semana passada.
No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 10,575%, de 10,586% no ajuste de sexta-feira. O DI para janeiro de 2026 tinha taxa de 11,16%, de 11,12% no ajuste da sexta-feira, e o DI para janeiro de 2027, taxa de 11,44% (de 11,33%). A taxa do DI para janeiro de 2029 subia de 11,63% para 11,78%.
O atentado contra Trump, no sábado, foi visto como reforço tanto nas chances de eleição do ex-presidente, que já vinham subindo após o desempenho visto como fraco do seu oponente Joe Biden no debate da semana retrasada, como também nas do Partido Republicano no Congresso. A leitura é de que um novo governo Trump trará pressão aos cenários fiscal e monetário dos EUA. "Há fundamentos para a perda de dinamismo econômico no médio e longo prazo, com maior risco inflacionário (maior ativismos de governos já muito endividados, mais gastos, inclusive com defesa)", escreve Ana Paula Vescovi, economista-chefe e sócia do Santander Brasil.
Nesse contexto, o dólar se fortaleceu e puxou para cima os juros dos Treasuries de longo prazo, enquanto os curtos oscilaram entre queda e a estabilidade, com a expectativa de queda do juros pelo Fed a partir de setembro se firmando como majoritária, assim como a de um orçamento total de 75 pontos-base em 2024. Em evento do Clube Econômico de Washington, Powell afirmou, porém, que os dados do segundo trimestre ampliaram a confiança de que a inflação caminha de volta à meta de 2%, mas que não pretende enviar sinais sobre em qual mês os cortes de juros vão começar.
O estrategista-chefe da Monte Bravo, Alexandre Mathias, viu a curva local alinhada à inclinação da americana, potencializada pelas incertezas fiscais, que, afirma, têm respondido por uma certa mudança no "padrão de volatilidade" dos ativos. "O aumento de 5, 10 pontos-base, nos DIs já não é considerado expressivo. Apesar da pausa nas críticas do presidente Lula ao Banco Central e do anúncio de corte de gastos em potencial de quase R$ 26 bilhões, o risco permanece e a tramitação das medidas é algo a se acompanhar", disse.
Mathias vê com grande preocupação a proposta do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), sobre a renegociação da dívida dos Estados, que, diz, pode trazer impacto de 2% a 3% no PIB. "É um atentado ao bom senso a ideia de federalizar a dívida de Estados mal geridos. A reforma tributária já tinha sido uma peneira, pela pressão dos lobbies, como a de isenção para as carnes", disse. O Senado afirmou, em manifestação encaminhada ao Supremo Tribunal Federal, que o projeto deve ser votado só na primeira quinzena de agosto.
Já a novela da desoneração da folha de pagamentos, em tese, tem data para acabar. Por ordem do STF, uma solução tem de ser encontrada até o dia 19, caso contrário, as empresas de 17 segmentos da economia, além de pequenos municípios, serão reonerados. O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse nesta tarde que há acordo no governo para acolher todos os itens do Senado para compensar desoneração, mas o aumento da CSLL para todos os setores "está na mesa", caso as medidas não sejam suficientes. Ele aproveitou para ressaltar que há um compromisso "inegociável" do presidente Lula com as regras de controle das contas públicas previstas no arcabouço.