Juros: taxas desaceleram alta com dados do Caged, Lula e virada do dólar para baixo
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Os juros futuros fecharam em alta a sessão desta quinta-feira, 27, em que prevaleceram os fatores domésticos ante o alívio visto na curva dos Treasuries. As máximas foram registradas pela manhã, com a leitura do Relatório de Inflação (RI) combinada à entrevista dos dirigentes do Banco Central e o novo avanço do dólar que impuseram uma postura defensiva aos agentes. À tarde, houve certa descompressão iniciada após os dados do Caged abaixo do esperado e consolidada com virada do dólar para baixo e declarações do presidente Lula.
No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 10,625%, de 10,622% ontem no ajuste. O DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 11,32%, de 11,26% ontem no ajuste. O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 11,73% (de 11,65%) e o DI para janeiro de 2029, taxa de 12,13%, de 12,07%.
Ainda que as taxas tenham melhorado ao longo da sessão, o mercado de juros mostrou-se mais resistente a ajustes em relação aos demais ativos locais, não conseguindo, por exemplo, zerar o avanço, como ocorreu com o dólar. Até porque a moeda segue no nível incômodo de R$ 5,50, considerado preocupante para o cenário inflacionário. "Os agentes já colocaram a alta da Selic no mapa de riscos muito a reboque do dólar, o que leva os investidores a se protegerem no DI", afirma o diretor de Investimentos da Nomos, Beto Saadia.
Além de respaldo do câmbio, a percepção de que o próximo movimento do Copom na Selic deve ser de alta foi reforçada pelo RTI, que trouxe revisão para cima no PIB de 2024 (1,9% para 2,3%) e atualizou a estimativa para o hiato do produto, que avançou de -0,6% para zero no segundo trimestre, diante das surpresas positivas com a atividade, segundo o diretor de Política Econômica do BC, Diogo Guillen.
Saadia, da Nomos, afirma que, enquanto o comunicado do Copom havia deixado um sentimento de Selic no modo "higher for longer", a ata e o relatório indicaram que as portas para uma elevação foram efetivamente abertas, ainda mais com o câmbio pressionado. "Com o hiato se fechando e a revisão do PIB para cima, o resultado será inflação", avalia. A Nomos estima Selic estável em 10,50% até o fim de 2024, mas tem uma alta de 50 pontos-base ainda este ano como cenário alternativo.
Vale destacar que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, ressaltou hoje que a comunicação da autarquia tem sido compatível com a estratégia de não fornecer guidance e que um movimento de alta dos juros, como tem sido precificado pelo mercado, não faz parte do cenário-base do BC. A curva a termo precifica 32% de chance de alta de 25 pontos-base para a Selic no Copom de julho, contra 68% de manutenção, e taxa a 11,15% no fim de 2024.
Com o BC olhando os dados do mercado de trabalho com lupa em função da inflação de serviços, os dados fracos do Caged de maio conseguiram trazer um pouco de alívio para a curva na segunda etapa, ainda que moderado, uma vez que em boa medida a frustração veio de um fator atípico, as enchentes no Rio Grande do Sul. O saldo líquido apontando criação de 131.811 vagas ficou abaixo do piso das estimativas coletadas pelo Projeções Broadcast, de 164 mil postos.
Ao mesmo tempo, o presidente Lula, em entrevista à rádio Itatiaia, baixou o tom das críticas em relação à necessidade de ajuste fiscal. Ele disse que o "Brasil tem muito subsídio e desoneração" e que "sempre tem lugar para cortar no orçamento". Além disso, elogiou o atual diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, qualificando-o como "menino de ouro, competente e honesto". Galípolo é o principal nome na lista de apostas para substituir Campos Neto.