RÚSSIA

Momento unipolar ou não? Filósofo Dugin cita experiência histórica em discussão da questão

Este artigo é o segundo de um ciclo que revela a opinião do famoso filósofo russo Aleksandr Dugin sobre o caminho e o futuro da época em que vivemos e em que vamos viver.

Por Sputinik Brasil Publicado em 27/11/2024 às 09:52
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O debate sobre se se trata de algo irreversível ou, pelo contrário, temporário, transitório, instável, no caso de um ou outro sistema internacional, político e ideológico, tem uma longa história. Muitas vezes, os defensores de alguma teoria insistem veementemente na irreversibilidade dos regimes e transformações sociais com os quais são solidários, enquanto seus oponentes, ou simplesmente céticos e observadores críticos, apresentam a ideia alternativa de que se trata apenas de um momento.

É fácil ver isso no exemplo do marxismo. Se, para a teoria liberal, o capitalismo e o regime burguês são o destino da humanidade, ele começa e nunca termina, já que o mundo só pode ser liberal-capitalista e gradualmente todos se tornarão classe média, isto é, burguesia, então os marxistas consideram o próprio capitalismo um momento histórico de desenvolvimento. Ele era necessário para superar o momento anterior (feudal), mas, por sua vez, deve ser superado pelo socialismo e pelo comunismo, e o poder da burguesia deve ser substituído pelo poder dos trabalhadores, e após a destruição dos capitalistas e da propriedade privada apenas os proletários permanecerão na humanidade. O comunismo aqui para os marxistas não é mais um momento, mas, na verdade, é "o fim da história".

As revoluções socialistas do século XX, na Rússia, China, Vietnã, Coreia, Cuba, etc., foram uma prova séria que o marxismo estaria certo. Mas a revolução mundial não aconteceu e no mundo começaram a existir dois sistemas ideológicos. Esse era o mundo bipolar que existiu desde 1945 (após a vitória conjunta dos comunistas e capitalistas sobre a Alemanha nazista) até 1991. No confronto ideológico, cada campo afirmava que o campo oposto não era o destino, mas apenas um momento, não o fim da história, mas uma fase dialética intermediária. Os comunistas insistiam que o capitalismo entraria em colapso e o socialismo reinaria em todos os lugares, e que os próprios regimes comunistas existiriam "para sempre". As ideologias liberais respondiam: não, o momento histórico são vocês, vocês são apenas um desvio do caminho de desenvolvimento burguês, um mal-entendido, um desvio, e o capitalismo existirá para sempre. Este é, de fato, o conteúdo da tese de Fukuyama sobre o "fim da história". Em 1991, ele parecia ter razão. O sistema socialista entrou em colapso, e as ruínas da URSS e da China maoísta correram para o mercado, ou seja, passaram para os trilhos capitalistas, confirmando as previsões dos liberais.

Claro, alguns marxistas se esconderam e acreditam que ainda não acabou, o sistema capitalista ainda falhará e então chegará a hora da revolução proletária. Mas isso não é certo. Afinal, o proletariado no mundo está se tornando cada vez menor e, em geral, a humanidade está caminhando em uma direção completamente diferente.

Muito mais fundamentados são os pontos de vista dos liberais, que, seguindo Fukuyama, equipararam precisamente o comunismo a um momento e proclamaram o "capitalismo infinito". Os parâmetros de uma nova sociedade, na qual o capital atinge a dominação total e real, foram manipulados de várias maneiras pelos pós-modernistas, que propuseram métodos extravagantes de combater o capital por dentro, isso incluía o suicídio proletário, a transformação consciente do indivíduo em um deficiente ou vírus de computador, a mudança de sexo e até mesmo da identidade de espécie.

Tudo isso se tornou um programa da esquerda liberal nos EUA e é ativamente apoiado pela elite dominante do Partido Democrata: woke (cultura), cancel culture (cultura do cancelamento), agenda ecológica, transgêneros, transumanismo, etc. Mas tanto os defensores quanto os opositores do capitalismo vitorioso concordaram que esta não é apenas uma fase de desenvolvimento que vai ser substituída por algo mais, mas que esse é o destino e o estágio final do desenvolvimento da humanidade. Só pode haver uma transição para um estado pós-humano, a que os futurologistas chamam de "singularidade". A própria mortalidade do homem é aqui superada em favor da imortalidade mecânica da máquina. Em outras palavras, bem-vindos à Matrix.

Assim, na batalha dos dois sistemas ideológicos, a burguesia venceu e se tornou a criadora do paradigma dominante do fim da história.