Prisão de Braga Netto: Veja quem mais já foi preso na investigação da tentativa de golpe
Na manhã deste sábado, 14, a Polícia Federal prendeu o general da reserva Walter Souza Braga Netto, ex-ministro da Defesa e candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro (PL), sob a acusação de obstrução da Justiça. A prisão está relacionada às investigações sobre uma tentativa de golpe de Estado ocorrida após a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência da República, em 2022.
Desde 2023, a PF conduz duas frentes de investigação sobre o caso. A primeira foca na participação de militantes extremistas, apoiadores e financiadores dos ataques aos prédios dos Três Poderes, em Brasília, no dia 8 de janeiro de 2023. A segunda linha de apuração mira políticos e aliados do ex-presidente Bolsonaro. Até o momento, os trabalhos resultaram na prisão de ex-assessores do ex-presidente, além de integrantes das Forças Armadas.
Antes da prisão de tenente-coronel Mauro Cid e de Braga Netto, outro general do Exército, três membros das Forças Especiais - conhecidos como "kids pretos" - e um policial federal foram detidos em novembro, sob a acusação de planejarem um golpe para impedir a posse de Lula e restringir o funcionamento do Poder Judiciário. A operação que levou a essas prisões recebeu o nome de Operação Contragolpe e revelou o plano Punhal Verde e Amarelo, que previa assassinato do presidente Lula, do vice Geraldo Alckmin e do ministro do STF Alexandre de Moraes.
Confira abaixo as principais operações realizadas pela PF e as prisões efetuadas até o momento:
Presos na Operação Contragolpe
Tentene-coronel do Exército Hélio Ferreira Lima: Ex-comandante da 3ª Companhia de Forças Especiais em Manaus, Hélio Ferreira Lima foi destituído de sua posição em fevereiro de 2024, durante investigações sobre planos antidemocráticos relacionados a Bolsonaro. Quando convocado a depor à PF sobre sua suposta ligação com o golpe de Estado, optou por permanecer em silêncio. Com formação em Operações Especiais, é membro do grupo de elite do Exército conhecido como "kids pretos", especializado em missões sigilosas de alto risco.
Segundo a PF, Ferreira Lima é integrante de dois núcleos da organização criminosa: desinformação e ataques ao sistema eleitoral e núcleo operacional de apoio às ações golpistas.
General de brigada reformado do Exército Mário Fernandes: General reformado, Mário Fernandes foi assessor do deputado Eduardo Pazuello (PL-RJ) e ministro interino da Secretaria-Geral da Presidência da República no governo de Jair Bolsonaro. Após deixar o governo, assumiu, entre 2023 e o início de 2024, um cargo na liderança do PL na Câmara dos Deputados, lotado como assessor de Pazuello, com um salário de R$ 15,6 mil. Ele foi desligado da função em 4 de março deste ano, após o ministro Alexandre de Moraes determinar seu afastamento das funções públicas.
Quando foi chamado a depor pela PF em 22 de fevereiro de 2024, Mário Fernandes, contudo, optou por ficar em silêncio, alegando não ter tido acesso ao inteiro teor dos conteúdos a investigação e, em especial, à delação do tenente-coronel Mauro Cid. Segundo a PF, o general teria promovido ações de planejamento, coordenação e execução de atos antidemocráticos, "inclusive com registros de frequência ao acampamento montado nas adjacências do QG do Exército, em Brasília, e, até mesmo, de relação direta com manifestantes radicais que atuaram no período pós-eleições de 2022".
Major das Forças Especiais do Exército Rafael Martins de Oliveira: Major das Forças Especiais, Rafael Martins é acusado de negociar com Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, o financiamento de R$ 100 mil para levar manifestantes a Brasília, como parte de um plano golpista. Em mensagens de novembro de 2022, ele discutiu custos de logística com Cid, incluindo hospedagem e alimentação para grupos vindos do Rio de Janeiro.
Rafael Martins de Oliveira foi preso pela Polícia Federal em fevereiro de 2024 durante investigações sobre sua participação na organização de movimentos antidemocráticos. Ele havia sido solto e usava tornozeleira eletrônica. Segundo a apuração, ele teria atuado, com outros militares, no financiamento e direcionamento das manifestações golpistas em curso naquele momento. O militar ainda teria participado do monitoramento de Alexandre de Moraes, em Brasília, em novembro daquele ano.
Major de Infantaria do Exército Rodrigo Bezerra de Azevedo: Considerado um militar altamente qualificado, Rodrigo Bezerra de Azevedo é doutorando em Ciências Militares pela Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme) e possui especializações em operações de guerra não convencional. Formado pela Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) em 2003, já serviu como instrutor no Western Hemisphere Institute for Security Cooperation, nos EUA, e participou de missões no exterior, como na Costa do Marfim. Além disso, comandou a Companhia de Comando do Comando Militar da Amazônia e tem expertise acadêmica em terrorismo e relações internacionais. Ele também integra o grupo "kids pretos", treinado para operações estratégicas.
Major de Infantaria, Rodrigo Bezerra servia no Comando de Operações Especiais do Exército. Segundo a PF, o militar era um dos integrantes da organização criminosa mais próximo do major Rafael Martins de Oliveira.
Policial federal Wladimir Matos Soares: Agente da Polícia Federal, Wladimir Matos Soares atuou como auxiliar do núcleo vinculado à tentativa de golpe de Estado. O policial teria fornecido, segundo a PF, informações relativas à segurança do então candidato eleito Luiz Inácio Lula da Silva. O Estadão busca contato com os investigados e seus advogados. O espaço está aberto para manifestações.
Presos na Operação Tempus Veritatis
Em fevereiro deste ano, a PF já havia deflagrado a Operação Tempus Veritatis, que cumpriu 33 mandados de busca e apreensão e quatro mandados de prisão contra aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro na investigação da suspeita de um golpe de Estado após as eleições de 2022. Entre eles, o major das Forças Especiais do Exército Rafael Martins de Oliveira, já citado.
Coronel do Exército Bernardo Romão Correa Neto: O coronel Bernardo Romão Corrêa Neto foi acusado de integrar um núcleo que incitava outros militares a aderirem a um golpe de Estado. O grupo realizava ataques pessoais contra comandantes que se opunham às investidas contra o Estado Democrático de Direito, de acordo com as investigações.
Corrêa Neto também é apontado pela PF como membro do "núcleo de apoio operacional". Ele seria responsável pela manutenção de acampamentos golpistas em frente a quartéis-generais do Exército no País. Para manter os protestos, agia em interlocução direta com Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, do qual era um "homem de confiança", segundo a investigação. O coronel é apontado como o responsável pela articulação dos "Kids Pretos" no planejamento da tentativa de golpe de Estado.
O militar foi preso em 11 de fevereiro deste ano e liberado no dia 8 de março em liberdade provisória, concedida pelo ministro Alexandre de Moraes. A defesa do coronel não se manifestou sobre o caso.
Ex-assessor especial de Assuntos Internacionais Filipe Garcia Martins: Filipe Garcia Martins foi um dos alvos da Operação Tempus Veritatis, que apura suposta tentativa de golpe de Estado gestada no governo Bolsonaro. O tenente-coronel Mauro Cid citou Martins em sua delação. Afirmou que o então assessor foi o responsável por entregar a Bolsonaro uma minuta golpista, que previa a prisão de autoridades como o ministro Alexandre de Moraes e a anulação do resultado da eleição. Martins nega.
Em agosto deste ano, Moraes acolheu parecer da Procuradoria-Geral da República e mandou soltar Filipe Martins. "Graças a Deus vencemos mais esse obstáculo", disse o advogado Ricardo Fernandes, que defende Martins, ao Estadão à época.