Homologação do território Xucuru-Kariri é adiada devido à cirurgia de urgência do presidente Lula
A homologação do território indígena Xucuru-Kariri, em Palmeira dos Índios, Alagoas, que estava prevista para ser discutida e possivelmente concluída nesta quarta-feira (11), foi adiada após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ser submetido a uma cirurgia craniana de urgência.
O território Xucuru-Kariri é a última das 14 terras prometidas para homologação pelo presidente Lula no início de seu terceiro mandato, em 2023. Apesar de avanços recentes, questões como desintrusão, reassentamento e indenização de ocupantes não indígenas continuam sendo entraves para a finalização do processo.
Avanços e expectativas frustradas
Na semana passada, durante o aniversário da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI), Lula homologou três novos territórios indígenas, mas o Xucuru-Kariri ficou de fora. O presidente havia se comprometido a concluir a homologação, desde que um plano detalhado de reassentamento fosse acordado com o governo de Alagoas e o assunto seria tratado nesta quarta-feira (10) com o governador Paulo Dantas.
Uma fonte presente em reuniões anteriores revelou que ajustes no plano de desintrusão ainda estavam sendo discutidos entre lideranças indígenas, governo estadual e representantes federais. A reunião que seria realizada em Brasília, considerada decisiva para resolver os últimos impasses, agora depende da recuperação do presidente.
A reação das lideranças indígenas
Lideranças do povo Xucuru-Kariri demonstraram preocupação com o presidente. “Entendemos a gravidade da situação e desejamos pronta recuperação ao presidente,” declarou uma liderança à Tribuna do Sertão
A ministra Sônia Guajajara e a presidente da FUNAI, Joenia Wapichana, também estão mobilizadas para garantir que os prazos sejam cumpridos. “A homologação é essencial para a dignidade dos povos indígenas e representa um compromisso do governo que deve ser honrado,” afirmou Guajajara em nota.
O que ainda falta?
O principal entrave é a apresentação de um plano viável para reassentar e indenizar os ocupantes não indígenas da terra. O governador de Alagoas havia condicionado a homologação à elaboração desse plano. Com o adiamento, a expectativa é de que o governo federal use o tempo adicional para alinhar detalhes e apresentar uma solução definitiva.
Homologação histórica
A homologação do território Xucuru-Kariri é uma promessa histórica e um marco esperado não apenas pelos povos indígenas de Alagoas, mas por toda a política indigenista brasileira. A mobilização continuará enquanto a nova data para discussão e homologação não for definida.
Enquanto isso, a prioridade do governo é a saúde do presidente Lula, cuja liderança será essencial para concluir o processo e reafirmar o compromisso com os direitos dos povos originários.
Advogado lidera solitariamente voz contrária à homologação das Terras Xucurú-Kariri em Palmeira
Enquanto a homologação do território indígena Xucurú-Kariri em Palmeira dos Índios segue como pauta prioritária do governo federal, o advogado Adeilson Bezerra emerge como a principal voz contrária à medida.
Em uma atuação isolada, sem a solidariedade dos demais ocupantes de terras na área demarcada, Bezerra tem usado suas redes sociais para criticar abertamente o processo, apontando potenciais impactos sociais e econômicos caso a homologação seja oficializada ainda esta semana. Hoje (10), Bezerra ocupou os microfones de algumas emissoras de rádio da cidade para tentar amplificar seu protesto.
Segundo Bezerra, a homologação representaria um retrocesso para a economia do município, uma vez que o território reivindicado pelos Xucurú-Kariri abrange cerca de 1/3 da área de Palmeira dos Índios. “Estamos falando de um impacto direto em propriedades produtivas e em famílias que dependem dessas terras para viver,” declarou ele em uma de suas postagens.
Apesar do tom incisivo e da disposição para se expor publicamente, Bezerra permanece praticamente sozinho na defesa dos ocupantes das terras. Até o momento, outros proprietários não adotaram o mesmo posicionamento veemente, optando por discussões discretas e reuniões fechadas em um escritório de um grande supermercado da cidade.
Campanha digital
A luta contra a homologação ganhou novos capítulos com a estratégia digital de Adeilson Bezerra. Em meio aos debates acalorados, Bezerra trouxe à tona um vídeo do então deputado federal Renan Filho, hoje ministro no governo Lula, onde ele se posicionava veementemente contra a demarcação, ressaltando possíveis impactos sociais e econômicos.No vídeo, Renan Filho argumenta que, segundo parecem técnicos da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI), não havia posse indígena sobre uma área em questão há mais de um século. Ele destacou que uma área a ser demarcada, de aproximadamente 7 mil hectares, afetaria majoritariamente minifúndios, com propriedades médias de 2 hectares, pertencentes a pequenos agricultores que lutaram por anos para adquirir suas terras.
“Demarcação afeta coração da economia e desrespeita direito à propriedade", disse Renan Filho em vídeo resgatado por Bezerra
“Essa decisão não afeta apenas os habitantes que serão removidos de suas terras, mas também o coração da economia daquela cidade, já que é a área mais produtiva de Palmeira dos Índios que está sendo demarcada”, disse Renan Filho no vídeo.
O Clamor dos Minifundiários
Bezerra ampliou sua campanha digital ao incluir depoimentos emocionados de minifundiários residentes na área de demarcação.
Em um deles, um agricultor relata a angústia de perder a terra que sua família cultivou por gerações: “Meu avô comprou essa terra nos anos 1930. É nosso único sustento. Não sei o que será de nós se formos expulsos.”
Outro depoimento reforça a insegurança: “Investimos tudo o que temos aqui. Essa terra é pequena, mas é nossa vida. O que vamos fazer se nos tirarem?”
Esses relatos, combinados com o vídeo de Renan Filho, intensificaram o debate público e geraram uma onda de apoio nas redes sociais a Bezerra, ainda que a resistência política e social à homologação continue fragmentada.
O Contexto e os questionamentos
Os argumentos apresentados por Bezerra ecoam preocupa-se com o impacto da homologação para a economia local. Além do deslocamento de famílias, ele destaca a desvalorização de terrenos e a interrupção de atividades produtivas em uma das áreas mais férteis de Palmeira dos Índios.
Por outro lado, especialistas e lideranças indígenas apontam que a demarcação é uma peça histórica, corrigindo a expropriação de terras que pertencem originalmente ao povo Xucurú-Kariri.
O Papel de Renan Filho
A exposição do vídeo gerou questionamentos sobre o posicionamento atual do ministro Renan Filho, que agora integra um governo comprometido com a pauta indígena. Sua declaração no passado, de que a demarcação seria um equívoco técnico e social, contrastava com o alinhamento esperado com as diretrizes do presidente Lula.
Enquanto o ministro ainda não se pronunciou sobre a repercussão do vídeo, o episódio reaqueceu o debate político e trouxe à tona as divergências históricas sobre a questão fundiária em Palmeira dos Índios.
Os Próximos Passos
A homologação, prevista para ser oficializada até o Natal, depende da conclusão de um plano de desintrusão e reassentamento. Bezerra, no entanto, promete manter sua campanha e ampliar a pressão sobre o governo federal e as autoridades locais, destacando as vozes dos pequenos agricultores afetados.
“Eu sou daqui, nasci e cresci nesta terra. Já fiz além do meu limite. Não vou desistir de lutar pela nossa gente”, declarou Bezerra em uma postagem recente.
A questão segue polarizada, envolvendo interesses econômicos, direitos indígenas e o futuro de centenas de famílias. A resolução deste impasse será decisiva para o município de Palmeira dos Índios e poderá servir de exemplo para outras disputas fundiárias no país.
Prefeito age como Diana, “é azul e encarnado” e assim estará na comemoração do lado vencedor da contenda
A tensão entre os grupos contrários e favoráveis à homologação também coloca o prefeito-imperador de Palmeira dos Índios em uma posição delicada. Segundo fontes, o gestor municipal tem adotado uma postura de neutralidade estratégica, dialogando com ambas as partes, mas sem assumir uma posição clara. Para um grupo, o prefeito diz estar solidário, para o outro diz a mesma coisa. Para o público age como mediador. Comparado à Diana do pastoril, o prefeito é azul e encarnado - diz aos indígenas que está ao lado deles e aos ocupantes das terras, o contrário. E assim estará na comemoração do vencedor. É aquele que “acende uma vela para Deus e outra para o diabo”, evitando desgaste político enquanto tenta equilibrar interesses opostos.
Os bastidores do debate
Enquanto Bezerra vocaliza sua preocupação, os ocupantes de grandes áreas permanecem em silêncio estratégico, aguardando que o prefeito lidere alguma medida que atenda suas demandas. No entanto, a falta de unidade e a postura vacilante das lideranças locais enfraquecem o movimento contrário à homologação, que enfrenta a pressão de lideranças indígenas, do governo federal e de movimentos sociais.
A disputa pelo território Xucurú-Kariri representa um desafio que vai além das questões de posse da terra. Envolve o equilíbrio entre direitos históricos dos povos indígenas e interesses econômicos de ocupantes de terras que consideram suas atividades legítimas.
Em nota à imprensa da capital, o prefeito-imperador disse: “Reconhecemos a relevância do tema e defendemos que todas as discussões ocorram de forma respeitosa, transparente e em conformidade com a legislação vigente, sempre buscando o equilíbrio entre os direitos das populações indígenas, os interesses das comunidades locais e o desenvolvimento sustentável do município. Nossa gestão acredita que a união de esforços pode trazer soluções justas e pacíficas”.
Prazo incerto agora
Com o prazo prometido pelo presidente Lula para homologação até o Natal e agora com o problema de saúde surgido, os próximos dias serão incertos. Enquanto isso, Adeilson Bezerra segue como o principal rosto de um movimento que, ao menos por ora, carece de unidade e de maior respaldo público.
A contenda em torno do território Xucurú-Kariri evidencia o delicado equilíbrio entre política, economia e justiça social em Palmeira dos Índios, tornando-se um dos temas mais sensíveis para o futuro do município.