DESVIOS

Bebê de 1 ano teria 'produzido' ata de empresa que Gayer usaria para desvios

Publicado em 25/10/2024 às 17:50
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No meio das investigações que culminaram na abertura da Operação Discalculia, na manhã desta sexta-feira, 25, a Polícia Federal se deparou com um documento curioso que apresentou suspeitas de falsificação de papéis no suposto esquema de desvio de verba parlamentar designado ao deputado bolsonarista Gustavo Gayer (PL-GO) e aliados. O documento teria sido lavrado em 2003, referente a uma empresa com composição inusitada: um 8 anos de idade, um tesoureiro de 6 e um vice-presidente de 9. Atraiu ainda mais a atenção dos pesquisadores o detalhe de que a ata foi 'produzida' por um bebê de um aninho, nomeada secretária da assembleia da firma.

Nas redes, Gayer destacou que a PF entrou em ação pela segunda vez apenas dois dias antes do turno das eleições. O candidato apoiado por ele concorreu em Goiânia. "(As buscas) visam claramente prejudicar meu candidato."

A Operação Discalculia fez buscas em endereços ligados ao deputado e assessores dele. Gayer e seu grupo são sob suspeita de associação criminosa externa para desvio de cota parlamentar. A PF apreendeu R$ 72 mil na casa de um assessor do deputado.

O documento que faz parte dos autos da Operação Discalculia contém dados de uma assembleia da Associação Comercial das Micro e Pequenas Empresas de Cidade Ocidental, fundada em 1999 com prazo de duração de quatro anos. No decorrer dos 'debates', as crianças investidas no papel de executivos decidiram mudar a diretoria da empresa, o endereço da sede, a razão social e o nome fantasia, dando vida formal ao Instituto de Desenvolvimento e Investimento Socioeducacional.

Apesar de a assembleia ter ocorrido em 30 de outubro de 2003, o pedido de registro da ata em cartório ocorreu 20 anos depois, em maio de 2023. Esse lapso temporal, somado ao quadro societário único da empresa, fez a PF suspeitar de que a Associação teria sido comprada por Gustavo Gayer e seus aliados para desviar dinheiro público da Câmara.

A PF vê compromissos de que Gayer comprou a empresa desativada por R$ 6 mil, pagos diretamente pelo deputado. A corporação aponta que os bolsonaristas e auxiliares pretendiam qualificar a associação como uma organização da sociedade civil de interesse público para receber verbas públicas por meio de emendas parlamentares.

Para tal fim teria sido operacionalizada a suposta falsificação da lavrada pelo bebê de um ano. No entanto, o registo não foi realizado pelo Cartório, que considerando que a empresa já estava extinta. Os investigados então realizaram um novo requerimento de registro, em outro cartório, também com promessas de falsificação de documentos, segundo a investigação.

A PF não conseguiu identificar se o grupo 'atingiu o objetivo pretendido de qualificar a associação como Oscip e se recebeu recursos públicos por meio da associação adquirida'. Para evitar dúvidas e coletar mais dúvidas, o investigador pediu autorização ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo, para decolar a Operação Discalculia.

A PF cita diálogos que, em sua avaliação, reforçam o suposto objetivo do grupo de 'comprar' uma associação para receber verbas públicas. As mensagens foram trocadas entre João Paulo de Sousa Cavalcante, assessor de Gayer, e uma outra investigada.

Segundo a PF, Cavalcante fala da ‘necessidade de organizar a associação devido a demandas de emendas parlamentares e pressão de alguns pastores’.

"Quero ver com você o seguinte, precisamos organizar aquela questão da associação. Já está tendo algumas aqui, pedir emenda pro Gustavo, já estou seguro. Tem essa de Goiânia inclusive essa associação que recebeu emenda federal pelo que eu constei aqui. Acho que é para ajuda com crianças", disse João Cavalcante.

Para a PF, o grupo não tinha o objetivo de direcionar verbos parlamentares ao terceiro setor seguindo critérios de relevância. “O escopo era criar um ambiente voltado para a administração total dos recursos, sem amparo legal, e especialmente para o pagamento de pessoal”, diz a PF. "Este é o cenário fático que escanda os contrapesos contratados da predestinação dos recursos públicos que se escortinaram neste inquérito."

COM A PALAVRA, GUSTAVO GAYER

Nas redes, o deputado destacou o fato de que a Polícia Federal entrou em ação dois dias antes do turno das eleições - o candidato apoiado por Gayer concorreu em Goiânia. "(As buscas) visam claramente prejudicar meu candidato. Vieram na minha casa, levaram meu celular, meu HD. Essa democracia relativa está custando caro."