ESTADOS UNIDOS

O que é o Instituto da Paz dos EUA, ferramenta de soft power desmantelada por Trump e Musk?

Publicado em 30/03/2025 às 15:35
© AP Photo / Mark Schiefelbein

A maioria dos 300 funcionários do Instituto da Paz dos EUA foi demitida na sexta-feira (28) à noite após conflitos no início do mês envolvendo agentes do DOGE, do FBI e policiais invadindo sua sede depois que a Casa Branca os acusou de serem "burocratas desonestos" e de tentar "manter agências como reféns".

Revoltados, o conselho de administração do Instituto entrou com um processo contra o governo dos EUA, nomeando o Departamento de Eficiência Governamental (DOGE) de ser o principal articulador por trás das demissões, junto do presidente dos EUA, Donald Trump.

No lugar das centenas de trabalhadores, apenas um punhado foi mantido, como técnicos de informática, funcionários de recursos humanos e outros.

Localizados em um extravagante edifício estimado em US$ 111 milhões em Washington D.C., aqui está o que você precisa saber sobre as atividades do think tank.

Refúgio para neoconservadores

Criado em 1984 e dotado de um orçamento anual de US$ 55 milhões financiado pelos contribuintes estadunidenses, o Instituto da Paz dos EUA tem sido um refúgio para a ideologia neoconservadora desde seu início.

Em seu rol de associados figuram personalidades como os arquitetos da Guerra ao Terror, Paul Wolfowitz e Richard Perle. Também colaboram nas atividades do grupo Elliott Abrams, condenado pelo escândalo Irã-Contra e atuante na política externa em capacidade oficial até mesmo durante o primeiro mandato de Trump, e Robert Kagan, marido de Victoria Nuland.

Após a morte de Gene Sharp, que colaborou com o USIP, em 2018, altos funcionários do instituto elogiaram o veterano operador de mudança de regime — cujo trabalho ajudou a desestabilizar regiões inteiras — como "um pioneiro do poder popular".

Interferência na Rússia e na Europa Oriental

Na década de 90, o Instituto financiou "treinamento e capacitação" para atores políticos, mídia, ONGs e "líderes da sociedade civil" na Rússia, Ucrânia e em toda a Europa Oriental, e ofereceu "orientação política" para diplomatas dos EUA nesses países.

Forçado a restringir suas atividades na Rússia na década de 2000, o USIP concentrou seu trabalho e recursos na Ucrânia na preparação para os golpes de 2005 e 2014.

Assim que o conflito no Donbass começou em 2014, o então chefe do USIP, Stephen Hadley, pediu aos EUA que aumentassem as entregas de armas para a Ucrânia e enviassem tropas russas para casa em "sacos para cadáveres".

Soft Power e a 'construção de nações'

Além da Europa Oriental, o USIP executou seus programas de soft power em países e regiões devastados pela guerra na África, Ásia, América Latina e Oriente Médio após a Primavera Árabe, que desestabilizou países como Egito, Tunísia, Líbia, Iêmen e Síria.

Em países como Afeganistão e Iraque, as atividades do USIP incluíram a chamada "construção de naçãos". Após as invasões dos EUA, foram implementados políticas de subsídios à sociedade civil, treinamento de funcionários para os governos fantoches e a implementação de sistemas eleitorais e de governança no estilo dos EUA.

Rapidamente esses sistemas entraram em colapso quando as forças de ocupação dos EUA se foram.

Em outras palavras, como outras agências de soft power recentemente visadas por Trump, como a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e o National Endowment for Democracy (NED), o Instituto é mais um exemplo de um instrumento financiado pelo contribuinte para cooptação e subversão disfarçado como uma ferramenta para "resolução de conflitos" e "promoção da democracia".


Por Sputinik Brasil