ECONOMIA

Análise: BRICS pode ser porto seguro, mas Brasil precisa aumentar integração comercial com o grupo

Publicado em 14/03/2025 às 18:31
© AP Photo / Eraldo Peres

Recentemente, o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, levantou um alerta ao citar o Brasil como um dos países que poderia ser afetado pela nova política de taxações, o que tem sido amplamente discutido como "tarifaço" nos meios de comunicação.

Diante dessa situação, surge a questão sobre o futuro da economia brasileira e a possibilidade de reduzir a dependência do mercado norte-americano. Para isso, muitos veem o BRICS como alternativa estratégica.

De acordo com a diretora adjunta do BRICS Policy Center, Maria Elena Rodriguez, o Brasil tem avançado na diversificação de seus parceiros comerciais, buscando ampliar relações comerciais com outras potências além dos Estados Unidos.

Ela avalia que, apesar de a China ser o maior parceiro comercial do Brasil, os Estados Unidos ainda ocupam a segunda posição e possuem uma importância estratégica considerável, não apenas como compradores de produtos primários, como petróleo e açúcar, mas também como grandes investidores no país, com destaque para áreas como energia limpa, tecnologia e mineração.

"Os Estados Unidos são o nosso segundo parceiro comercial, e eles são bem importantes, ou seja, têm uma centralidade bastante grande, uma centralidade de anos. […] Sempre importante encontrar novos parceiros comerciais, sobretudo para diversificar nossos produtos que, como todos sabemos, a gente está muito refém de nossas exportações, basicamente de produtos primários", avaliou à Sputnik Brasil.

Embora o BRICS — grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Etiópia, Irã e Indonésia — tenha apresentado avanços no comércio intragrupo, a especialista aponta que ainda é cedo para afirmar que a relação com os países do BRICS poderia substituir o comércio com os Estados Unidos.

O Brasil tem experimentado um aumento significativo nas trocas comerciais com países como Rússia, China e Índia, mas a maior parte de suas exportações permanece dependente de produtos primários.

Além disso, segundo pontuou, a economia norte-americana, por ser a maior do mundo, ainda exerce uma influência dominante. Mesmo que o Brasil consiga ampliar suas exportações e diversificar suas relações comerciais, o impacto imediato das taxas e sanções dos EUA ainda pode ser significativo.

Bruno de Conti, professor livre-docente do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pesquisador do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica (Cecon), disse à Sputnik que "a aproximação do Brasil com o BRICS fortalece e traz possibilidades para o país, mas a verdade é que a integração comercial do Brasil com o BRICS ainda é muito baixa — exceção feita à China".

"Eventuais sanções dos Estados Unidos contra o Brasil infelizmente nos atingem, é inegável. Os Estados Unidos ainda são uma grande potência, são a principal economia do globo, se considerado em dólar nominal", argumentou.

Segundo o especialista, a crescente rejeição de muitos países do Sul Global aos Estados Unidos — somada ao distanciamento do país norte-americano em relação às questões globais — abre um espaço crucial para os países que compõem o grupo liderarem uma nova agenda internacional.

Para o professor, o BRICS não deve se isolar ou se tornar um grupo fechado. Pelo contrário, ele defende que o bloco amplie sua representação, incluindo novos países de maneira associada, mesmo que não se tornem membros plenos.

Embora reconheça os desafios que essa expansão pode trazer para a governança interna do grupo, de Conti considera que a diversificação dos membros tornaria o BRICS ainda mais representativo dos interesses e anseios do Sul Global. Isso, por sua vez, fortaleceria a ideia de um sistema multilateral mais justo e equitativo, capaz de contrapor a hegemonia norte-americana.


Por Sputinik Brasil