Como a indústria automotiva da China pode afetar o mercado mundial de petróleo?
A China representa 41% do crescimento anual das vendas globais de petróleo. No entanto, os analistas indicam que o país tem cada vez mais carros elétricos, portanto, em breve não precisará de tanta gasolina. Além disso, o enfraquecimento econômico prolongado está retardando o consumo.
A adoção cada vez mais pelos carros elétricos e consequente queda das importações de petróleo por parte da China causará um drástico impacto no mercado global de hidrocarbonetos, apontam vários especialistas a Sputnik. A OPEP terá que ajustar as cotas de produção para manter o equilíbrio entre oferta e demanda, acrescentam.
"A demanda por combustíveis na China começou a diminuir alguns anos antes do previsto pelos especialistas. Nos primeiros dez meses de 2024, as importações de petróleo caíram 3,4% em relação ao ano passado. É um sinal preocupante para os fornecedores", destaca à Sputnik o analista financeiro da empresa BitRiver, Vladislav Antonov.
A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), em resposta à desaceleração do consumo chinês, prorrogou seus cortes voluntários de produção, embora não tivesse planos de fazê-lo em outubro. Também revisou para baixo suas estimativas de demanda para 2024 e 2025.
"O que a OPEP pode fazer? Evidentemente, ou uma redução adicional proporcional da produção, ou reconhecer que o preço do Brent cairá abaixo de 70 dólares por barril. Caso contrário, não conseguirá manter sua participação de mercado", argumenta à Sputnik o especialista do Departamento de Pesquisa Estratégica da agência de marketing comercial TR, Yaroslav Ostrovski.
Ao mesmo tempo, os especialistas destacam que a disseminação de carros elétricos e o abandono do transporte a gasolina não são a única razão para a queda da demanda por petróleo.
As vendas de veículos elétricos na China são impulsionadas não apenas pela opção ecológica, mas também pela sobreprodução. Em uma tentativa de se proteger da afluência de automóveis chineses, os EUA impuseram tarifas de até 100% e as exportações para esse país deixaram de ser rentáveis.
Em meados de 2023, Pequim introduziu incentivos em grande escala para os veículos ecológicos, a fim de impulsionar as vendas internas. Nos próximos quatro anos, quem comprar automóveis elétricos, híbridos ou movidos a hidrogênio estará isento do imposto de compra. O valor total desse estímulo chega a mais de US$ 72 bilhões (cerca de R$ 4,3 bilhões).
O aumento da oferta no mercado interno com descontos contribuiu para as flutuações no mercado de petróleo no terceiro trimestre de 2024, assim como para a ideia de um "grande abandono chinês" do petróleo, aponta à Sputnik o chefe do departamento de Atendimento ao Cliente e Vendas da corretora Alfa-Forex, Alexandr Shneiderman.
O ritmo de eletrificação do transporte na China é sem precedentes. Em 2023, um a cada três carros novos comprados no gigante asiático foi elétrico e a participação nas vendas globais atingiu 60%. Em julho, foi registrado um ponto de inflexão: pela primeira vez, o número de carros elétricos e híbridos adquiridos superou o de carros com motor de combustão interna, aponta a mídia britânica.
Desafios
Por outro lado, há uma série de problemas tecnológicos que até agora impediram a expansão em grande escala do uso do transporte elétrico, aponta Antonov
"Cada bateria requer metais raros — lítio, cobalto, níquel. Sua extração causa enormes danos ambientais: gigantescas minas no Chile e no Congo, consumo colossal de água doce, contaminação do solo. Paradoxalmente, os veículos elétricos 'verdes' deixam, durante sua produção, uma pegada de carbono muito maior do que os carros tradicionais", destaca Antonov.
Outro ponto crítico é a utilização das baterias. Sua vida útil dura entre sete e dez anos, e a substituição custa entre 15 mil a US$ 20 mil (entre R$ 80 mil e R$ 120 mil). Ao mesmo tempo, apenas 5% das baterias de íons de lítio são recicladas completamente, explicou o especialista, um problema ambiental ainda sem solução. Portanto, ainda há muita incerteza sobre o destino dos motores a combustão, acrescenta o analista.
Existem fatores de contenção, como a demanda na indústria petroquímica e o interesse constante por combustível para aviões, de acordo com os analistas do Morgan Stanley. A consultoria FGE prevê que o pico das importações de petróleo estará em 11,2 milhões de barris diários em 2025.
E o consumo da China não tem previsão de queda, exigindo mais produção de energia. Recentemente Pequim aprovou um pacote de medidas para estimular a economia no valor de 1,4 trilhões (cerca de R$ 7 trilhões).
"Tudo isso é impossível sem energia e, em condições de guerra comercial com os EUA, o principal parceiro é a Rússia. Além disso, em caso de excesso de petróleo, é fácil vender o excedente para aqueles que não podem nos comprar diretamente. Claro, com uma margem confortável para o intermediário", comenta Shneiderman.
Em 2023, os fornecimentos de petróleo da Rússia para a China aumentaram 24%. Moscou manteve a liderança entre os exportadores, com 107 milhões de toneladas. A Arábia Saudita tem 86 milhões, enquanto o Iraque tem 59 milhões.
Por Sputinik Brasil