Romênia anula 1º turno de eleição após suposta interferência russa em favor da extrema direita
Um importante tribunal da Romênia anulou nesta sexta-feira, 6, o primeiro turno das eleições presidenciais do país, dias após alegações de que a Rússia realizou uma campanha online coordenada para promover o candidato de extrema direita que venceu a disputa.
A decisão sem precedentes do Tribunal Constitucional - que é final - ocorreu depois que o presidente Klaus Iohannis tirou a confidencialidade de informações de inteligência na quarta-feira (4) que alegavam que a Rússia realizou uma ampla campanha envolvendo milhares de contas de mídia social para promover Calin Georgescu em plataformas como TikTok e Telegram.
Os arquivos de inteligência eram do Serviço de Inteligência Romeno, do Serviço de Inteligência Estrangeiro, do Serviço Especial de Telecomunicações e do Ministério do Interior.
Apesar de ser um grande outsider que declarou zero gastos de campanha, Georgescu surgiu como o favorito em 24 de novembro. Ele deveria enfrentar a reformista Elena Lasconi, do partido União Salve a Romênia, em um segundo turno no domingo (7). Uma nova data será definida para repetir a primeira rodada do pleito.
Lasconi condenou veementemente a decisão do tribunal, dizendo que ela era "ilegal, imoral e esmaga a própria essência da democracia". "Deveríamos ter seguido adiante com a votação. Deveríamos ter respeitado a vontade do povo romeno. Gostemos ou não, de um ponto de vista legal e legítimo, 9 milhões de cidadãos romenos, tanto no país quanto na diáspora, expressaram sua preferência por um candidato em particular por meio de seus votos. Não podemos ignorar a vontade deles!", disse ela.
"Eu sei que teria vencido. E vencerei porque o povo romeno sabe que lutarei por eles, que os unirei por uma Romênia melhor. Defenderei nossa democracia. Não desistirei". Para ela, a questão da interferência russa deveria ter sido abordada após a eleição ter sido concluída.
Na semana passada, o mesmo tribunal ordenou uma recontagem dos votos do primeiro turno, o que aumentou as inúmeras controvérsias que envolveram um ciclo eleitoral caótico.
Cristian Andrei, um consultor político baseado em Bucareste, disse que a decisão do tribunal equivale a uma "situação de crise para a democracia romena".
"À luz das informações sobre a interferência externa, a interferência massiva nas eleições, acho que isso não era normal, mas previsível, porque não são tempos normais de forma alguma, a Romênia é um território desconhecido", disse ele à The Associated Press. "O problema aqui é, temos as instituições para administrar tal interferência no futuro?"
O sucesso surpreendente de Georgescu deixou muitos observadores políticos se perguntando como a maioria das pesquisas locais estavam tão distantes, colocando-o atrás de pelo menos cinco outros candidatos antes da votação.