FILOSOFIA

Momento liberal como parte da filosofia de Hegel: filósofo Dugin explica

Este artigo é o quinto de um ciclo que revela a opinião do famoso filósofo russo Aleksandr Dugin sobre o caminho e o futuro da época em que vivemos e em que vamos viver.

Publicado em 03/12/2024 às 11:45
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Já usamos a noção de "o fim da história" muitas vezes. Agora é hora de dar uma olhada mais de perto nessa teoria. O conceito foi introduzido por Georg Wilhelm Friedrich Hegel, e é no contexto da filosofia de Hegel que ele faz sentido. Foi de Hegel que tanto Marx quanto Fukuyama (por meio do hegeliano russo-francês Aleksandr Kozhev) tomaram emprestado o conceito. Mas tanto Marx quanto os liberais submeteram Hegel a uma espécie de vivissecção. No modelo de Hegel, o fim da história está inextricavelmente ligado ao seu início. E em seu início está Deus escondido em Si Mesmo. Portanto, Ele passa (por meio da autonegação) para a Natureza, e então a Natureza, uma vez que tem a presença dialética de Deus (embora removida, aufgehebt), passa para a história. A história é o desdobramento do Espírito. Gradualmente, diferentes tipos de sociedades são criados na história. Primeiro, as monarquias tradicionais. Depois, democracias e sociedades civis, e então chega a época do grande Império do Espírito. Em cada estágio, Deus se manifesta cada vez mais claramente na história e na política.

O fim da história, de acordo com Hegel, é quando Deus se manifesta da forma mais completa possível no Estado. Mas não em um Estado comum, mas sim no Estado dos filósofos, no Estado do Espírito. Essa manifestação é precedida pela criação de uma sociedade civil dispersa e atomizada (e esse é o nosso liberalismo), na qual a Natureza já foi completamente superada e o Espírito ainda não encontrou sua manifestação mais elevada, que só é possível no Império. Agora está claro que Hegel entende o liberalismo precisamente como um momento. Ele segue a dissolução dos antigos Estados e precede a criação do novo e verdadeiro Estado, no qual a história termina.

Os marxistas e liberais não acreditam em Deus, por isso truncam a doutrina de Hegel, rejeitando seu primeiro início – Deus-em-si-mesmo. E eles mesmos começam a contar a partir da Natureza. A própria Natureza (por alguma razão, não está claro por quê?) se desenvolve e dá origem à sociedade. Em seguida, a sociedade entra na história e chega à sociedade civil, ou seja, ao liberalismo. Os liberais param por aí (de acordo com Fukuyama, o fim da história chega quando toda a população da Terra se torna uma "sociedade civil"). Os marxistas vão mais além e argumentam que dentro da própria "sociedade civil" (mas sem ir além dela!) há uma fase de ordem capitalista baseada em classes e uma fase de ordem comunista sem classes. Mas em ambos os casos o fim da história é precisamente a "sociedade civil". Não há Império do Espírito no final da história em nenhum dos casos. Isso é lógico, porque ao cortar o início (Deus) da teoria de Hegel, eles negam o fim (o Império do Espírito). Tendo começado com a Natureza (de acordo com Hegel, esse é o segundo momento, não o primeiro), eles concluem com a sociedade civil (de acordo com Hegel, isso não é o fim da história, mas a fase anterior, ou seja, o próprio "momento liberal").

E embora o liberalismo seja apenas um momento para os marxistas, ele ainda é algo preliminar na interpretação mais geral (hegeliana) da "sociedade civil", especialmente porque o próprio Hegel não estava familiarizado com a interpretação distorcida feita por Marx de sua própria doutrina (não se sabe que tipo de discípulos os grandes filósofos têm).

Assim, no contexto da filosofia de Hegel, o momento liberal abrange toda a "sociedade civil" (inclusive a sociedade comunista, que, no final do século XX, acabou sendo apenas um desvio do liberalismo e, na década de 1990, retornou à sua matriz burguesa capitalista).

Aplicando o modelo completo (não truncado, nem reduzido) da filosofia da história de Hegel à questão que estamos considerando, obtemos o esclarecimento que faltava sobre o que exatamente pode vir depois do liberalismo, cujo fim Hegel previu e, além disso, considerou inevitável, porque se Deus (alfa) está no início de tudo, Ele também deve estar no fim de tudo (ômega). Hegel considerava essa encarnação de Deus no final da história como algo análogo ao que hoje é comumente chamado de Estado-Civilização. Ou seja, o fim do liberalismo não é o fim da história, mas o fim de um determinado estágio, que tem seu próprio significado no contexto geral da mudança de ciclos e épocas, e que é um prelúdio necessário (embora negativo) para o estabelecimento do Império do Espírito.


Por Sputinik Brasil