ENERGIA NUCLEAR

Angra 3: expectativa de conclusão é 'positiva', diz presidente da Eletronuclear à Sputnik (VÍDEOS)

Quase 40 anos depois, a usina nuclear de Angra 3, no Rio de Janeiro, pode ter seu destino selado em 4 de dezembro, quando o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) deve bater o martelo sobre sua continuidade.

Publicado em 21/11/2024 às 19:57
© Divulgação PAC

Em entrevista à Sputnik Brasil, o presidente da Eletronuclear, Raul Lycurgo, defendeu a finalização da terceira usina nuclear do país e afirmou que nuclearização no setor energético brasileiro é inevitável para se alcançar 100% da matriz energética limpa. Ele disse estar "extremamente otimista" com que o conselho aprove o início das obras.

"Minha sensibilidade com relação a essa decisão do CNPE é muito, muito boa, exatamente com base nos estudos de PNDS [Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde], de EPE [Empresa de Pesquisa Energética]. Mas também a situação de que Angra 3 vai contribuir com a resiliência do sistema elétrico brasileiro", disse ele ao podcast Jabuticaba sem Caroço. "Que venha logo para que a gente possa dar o tratamento interno que a gente precisa fazer junto ao TCU [Tribunal de Contas da União], publicar edital, fazer a licitação, assinar contrato, contratar o pessoal todo".

Atualmente, o Brasil possui duas usinas, Angra 1 e Angra 2, na cidade litorânea de mesmo nome localizada no Rio de Janeiro, que representam cerca de 1% de toda a produção de energia no país. Paralisada em 2015, Angra 3 tem 68% das obras concluídas.

Citando um estudo do BNDES sobre modelagem dos contratos e estruturação do financiamento para terminar Angra 3, ele esclareceu que os gastos de cerca de R$ 23 bilhões estimados para a conclusão das obras quase se equiparam às perdas, na ordem de R$ 21 bilhões, caso a usina não seja terminada.

"Precisamos tirar Angra 3 do papel de maneira rápida e urgente, primeiro, porque já são 39 anos de obra em andamento, depois R$ 12 bilhões já foram investidos, 12 mil equipamentos estão comprados no sítio de Angra esperando para ser comissionados", argumentou ele. "Há contratos que precisam ser rescindidos, se não for fazer, financiamentos que também devem ser pagos", ponderou ao salientar que somente em seguro e preservação os gastos anuais são de R$ 100 milhões.

Os gastos não param por aí, acrescentou, ao elencar R$ 120 milhões de pessoal ligado à usina, R$ 720 milhões anuais de serviço da dívida, ou seja, empréstimos que foram contratados, totalizando quase R$ 1 bilhão.

Caso a continuidade do projeto seja aprovada, a previsão, segundo ele, é de que haja um pool de bancos públicos e privados, nacionais e internacionais para financiar a obra durante os próximos cinco anos, ao lado da Eletronuclear, que nas primeiras duas décadas de concessão pagaria o financiamento com os recursos provenientes da produção de energia.

O presidente estimou que o projeto deve gerar aproximadamente 7,5 mil empregos pelos próximos 5 anos.

Ao defender o aumento do uso de energia nuclear no país, ele citou que de 2023 a 2024 o número de nações que anunciaram investimentos nesse tipo de fonte energética subiu de 25 para 31. No caso brasileiro, o presidente da estatal salientou a vantagem brasileira de ter enorme quantidade de urânio, que é a matéria prima para o setor, e pode tornar o país inclusive exportador do produto:

"Auxilia gerando trabalho, renda e emprego aqui, mas alto valor agregado, a gente não precisa ficar exportando commodity, temos cérebro brasileiro extremamente inteligente, extremamente competente, temos o domínio do ciclo do combustível, podemos fazer isso aqui e nos transformar no exportador mundial de combustível nuclear."

Lycurgo destacou que 60% da energia elétrica do mundo vem da queima de carbono, produzindo gases de efeito estufa, enquanto no Brasil 80% da matriz elétrica é limpa e o Plano Nacional de Energia (PNE) 2050 traz a ambiciosa meta de implementar na matriz brasileira cerca de 14 gigawatts de energia nuclear nos próximos 26 anos.

Tal missão, defendeu Lycurgo, exigirá um marco legal para permitir a entrada do setor privado:

"A Eletronuclear dá conta de fazer Angra três sem problema nenhum, agora pra atingir o PNE 2050 com mais oito a dez giga de energia nuclear até 2050, há necessidade, sim, de um novo marco legal e de que investimentos privados venham também auxiliar com essa infraestrutura extremamente complexa".


Por Sputinik Brasil