Tribunal israelense confirma vazamento de porta-voz de Netanyahu sobre a guerra de Gaza
A Procuradoria-Geral do Estado de Israel anunciou no domingo (17) que apresentaria acusações contra o porta-voz de Netanyahu e outro suspeito pelo vazamento deliberado de documento ultrassecreto manipulado pelo gabinete do premiê para a mídia.
No dia 1º de novembro, a mídia israelense relatou que os serviços de segurança do país detiveram vários indivíduos em conexão com uma investigação sobre o vazamento de um documento manipulado relacionado ao conflito de Gaza para a mídia estrangeira em setembro. O escândalo, que revelou ter envolvido o porta-voz do primeiro-ministro, Eliezer Feldstein, foi apelidado de BibiLeaks, em alusão ao apelido de Netanyahu.
Feldstein é acusado de primeiro tentar vazar as informações para a mídia local, que não as publicaria graças às rígidas leis de censura militar das Forças de Defesa de Israel (FDI), e depois para a mídia estrangeira, que publicou uma história baseada em uma versão alterada do material sensível.
"Em 6 de setembro de 2024, a mídia estrangeira publicou um artigo sobre as posições do Hamas em relação às negociações para a libertação de reféns. Este artigo incluía o uso de materiais e documentos confidenciais que foram ilegalmente retirados do sistema de inteligência das FDI", disse um documento judicial divulgado no domingo, detalhando as acusações contra Feldstein e seu coconspirador.
O artigo em questão, publicado pelo popular jornal alemão Bild, alegou, citando um documento supostamente retirado do computador do falecido presidente do Hamas, Yahya Al-Sinwar, que a milícia palestina havia se envolvido em uma campanha de "manipulação da comunidade internacional, torturando [psicologicamente] as famílias dos reféns e buscando se rearmar" por meio de negociações prolongadas de reféns.
A história do Bild foi recolhida por Netanyahu em uma reunião de gabinete logo após a publicação.
O documento do tribunal divulgado à mídia no domingo indicou que "após exame pelas FDI, foi determinado" que o documento em questão "poderia prejudicar tanto a realização de um dos objetivos da guerra (libertação de reféns) quanto as atividades operacionais das FDI e do Shin Bet na Faixa de Gaza contra o Hamas e em contextos adicionais". Investigações foram posteriormente iniciadas pelos serviços de inteligência e pela polícia israelense.
"Durante a investigação aberta, vários indivíduos foram presos (em etapas e de acordo com os desenvolvimentos): um suboficial da reserva, dois oficiais da reserva, um suboficial da ativa e Eliezer Feldstein, um consultor de comunicações civis empregado na Diretoria Nacional de Diplomacia Pública sob o gabinete do primeiro-ministro", disse o documento.
"A investigação revelou um mecanismo de cadeia sério para vazamentos, começando com um oficial não comissionado [NCO] da reserva que decidiu por iniciativa própria remover um documento ultrassecreto e sensível da posse das FDI ilegalmente, com a intenção de transferi-lo para o escalão político", acrescentou o documento do tribunal, esclarecendo que uma cópia do arquivo em questão foi transferida para Feldstein em abril, e uma cópia física e dois arquivos ultrassecretos adicionais foram fornecidos a ele em setembro.
"Conforme revelado na investigação, no início de setembro de 2024, Eliezer Feldstein decidiu distribuir o referido documento para veículos de comunicação em Israel com o propósito de publicar seu conteúdo, com o objetivo de influenciar a opinião pública em Israel sobre as negociações de reféns em andamento, particularmente sobre o impacto dos protestos no fortalecimento do Hamas", disse o tribunal.
Feldstein foi acusado de ter "alistado outra parte para ajudar a publicar a história".
As revelações contundentes podem ser um golpe ainda maior à posição de Netanyahu, com o primeiro-ministro enfrentando protestos recentemente pela demissão de seu ministro da Defesa, Yoav Gallant, no início deste mês, e uma investigação arrastada de anos sobre suposta corrupção, repetidamente adiada em meio aos conflitos em andamento em Gaza e no Líbano.
Por Sputinik Brasil