Argentina se opõe a taxar super ricos e ameaça derrubar iniciativa de Lula no G20
Em nova frente de debates no G20, uma delegação da Argentina indicou nesta sexta-feira, dia 15, que se opõe à proposta de tributação de grandes fortunas, antes de ser aprovada por todos os países do grupo. O gesto dos argentinos preocupa membros do governo brasileiro, que veem risco de uma proposta de ser derrubada.
Um membro do Ministério da Fazenda entende a mudança de posição como "uma linha vermelha" cruzada pela Argentina e confirmou ao Estadão a postura beligerante da delegação enviada ao Rio por Buenos Aires. Diplomatas do Itamaraty também disseram que há dificuldades de convencimento dos argentinos.
Flagrado pelo Estadão ao telefone num intervalo da reunião final dos sherpas, o ex-senador e negociador diplomático da Argentina Federico Pinedo negociou a revelação quais são as objeções levantadas pelo governo. A reportagem disse a ele que se processava a informação de que se havia insurgido contra a tributação, vazada da reunião a portas fechadas.
"Nós somos sérios, se há outros que não são, lamento. A negociação não terminou. Até que termine, não vamos falar nada", disse o representante de Javier Milei.
O presidente ultraliberal Javier Milei planejou uma blitz sobre a diplomacia argentina, que convive com demissões há meses, num processo de intervenção da Casa Rosada, com raízes ideológicas. Milei substituiu recentemente a economista Diana Mondino, até então ministra das Relações Exteriores, pelo empresário Gerardo Werthein, antes de seu embaixador nos Estados Unidos.
No G20 as equipes não foram trocadas, mas alteraram sua posição, segundo membros da Fazenda e do Itamaraty.
Informações extraoficiais também indicam que a Argentina ainda não aderiu ao projeto de Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza. Segundo negociadores que participaram da reunião, os enviados argentinos também retornaram a expor resistências a questões de clima e costumes - como questões de gênero - embora um embaixador pondere que Buenos Aires tem interesse em financiamento climático, com expectativa de receber recursos.
Milei confirmou presença no G20. Ele deve discursar duas vezes, às portas fechadas, diante dos demais presidentes e primeiros-ministros. Escolheu fala sobre os temas da Fome e Pobreza e Reforma da Governança Global, mas não sobre Clima. Segundo um secretário do Itamaraty, cada líder vai discursar duas vezes na cúpula. Apenas o Lula poderá falar na abertura de cada sessão de debates.
O Libertário também não conseguiu ainda abrir portas com Lula para uma reunião bilateral já solicitada antes. Rivais ideológicos, eles cultivam um histórico de ofensas e provocações públicas, além de critérios de desculpas não atendidas.
Os sherpas dos países do G20 estão reunidos há quatro dias no Rio, finalizando os acordos do grupo e as referências a eles, a fim de que constem na Declaração de Líderes do Rio, a ser assinada e divulgada durante a cúpula, nos dias 18 e 19. O comunicado oficial do G20 usaria como base o consenso alcançado nos debates de Finanças anteriores.