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Mídia: governo do Canadá barra publicação de lista de nazistas com medo de piorar situação de Kiev

Recentemente, vários departamentos do governo canadense recomendaram que os nomes de 900 criminosos de guerra nazistas, que se estabeleceram no Canadá após a Segunda Guerra Mundial, não fossem divulgados.

Publicado em 14/11/2024 às 23:29
© AP Photo / Eduardo Munoz Alvarez

Segundo informações veiculadas no portal The Globe and Mail, a divulgação desses nomes poderia ser usada pela Rússia para fortalecer sua "narrativa" no conflito com a Ucrânia e também colocar em risco a segurança de ex-integrantes da SS nazista sobreviventes que vivem no país.

No início deste mês, a Biblioteca e Arquivos do Canadá (LAC) recusou-se a liberar um relatório confidencial que contém os nomes desses criminosos de guerra nazistas, apesar das solicitações de acesso à informação feitas pelo The Globe and Mail e pela organização judaica B'nai Brith. A recusa foi justificada pelo receio de que a revelação do conteúdo fosse usada para supostamente manipular a opinião pública global e prejudicar a posição da Ucrânia na disputa geopolítica atual.

A Parte 2 do relatório da Comissão Deschênes de 1986, que detalha o envolvimento de antigos nazistas com o regime canadense, está sendo mantida em segredo há décadas. Essa decisão gerou críticas de grupos e historiadores judaicos, que argumentam que o governo canadense está tentando esconder fatos históricos importantes para proteger a imagem de figuras e grupos controversos. No entanto, o governo canadense alega que a divulgação poderia ser "manipulada" para fins políticos.

A principal preocupação de diversos departamentos, incluindo Justiça e Assuntos Globais, é que o relatório pudesse ser usado pela Rússia como uma ferramenta de suposta propaganda. A "máquina de desinformação russa", assim apelidada por hipotéticos analistas, poderia tirar proveito da situação, distorcendo os fatos e utilizando a revelação dos nomes como uma forma de atacar a narrativa da Ucrânia e fortalecer o discurso do Kremlin, que classifica a operação militar especial como uma reação contra o nazismo ressurgente no país vizinho.

Justin Trudeau aplaudiu nazista no Parlamento canadense

Em 22 de setembro do ano passado, o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, aplaudiu em pé e efusivamente Yaroslav Hunka, de 98 anos, na Câmara canadense pela sua atuação na Primeira Divisão Ucraniana, também conhecida como Divisão Galícia. Ao seu lado, estava o chefe do regime ucraniano, Vladimir Zelensky, que também aplaudiu o nazista. Na verdade, a Divisão Galícia atuava em conjunto com a SS, exército paramilitar do Partido Nazista de Adolf Hitler (1889–1945).

O caso se tornou um escândalo mundial. A Organização das Nações Unidas (ONU) rechaçou a homenagem prestada pelos parlamentares canadenses ao veterano nazista.

Os aplausos derrubaram o presidente do Parlamento, que renunciou ao cargo na semana seguinte.

Embora Trudeau tenha pedido desculpas pela homenagem, Zelensky, por sua vez, calou-se: não se pronunciou e tampouco pediu desculpas pelo ato.

O caso, no entanto, foi eclipsado pela eclosão da invasão israelense contra a Faixa de Gaza, no começo do mês seguinte.

Canadá foi único país a aceitar 'banalidade do mal' como defesa

Especialista em crimes de guerra nazistas na Europa Oriental, o diretor do escritório de Israel do Centro Simon Wiesenthal, Efraim Zuroff, afirmou à rede de televisão canadense CBC que já fez pedidos ao governo canadense sobre 252 indivíduos refugiados no país que têm suspeita de serem participantes ou colaboradores do Exército nazista.

Segundo Zuroff, apenas um de todos os nomes identificados pela organização foi acusado judicialmente.

Zuroff afirma ainda que, após a publicação dos relatórios na década de 1980, o código criminal canadense foi alterado para facilitar a investigação de criminosos de guerra nazistas.

Muito desse trabalho, no entanto, foi interrompido abruptamente após o julgamento de Imre Finta, antigo comandante de polícia húngaro acusado de organizar a deportação de mais de 8 mil judeus para campos de extermínio nazistas. Finta foi inocentado sob a defesa de que ele estava apenas seguindo ordens de seu superior.

Segundo Zuroff, os tribunais canadenses foram os únicos do mundo a aceitar esse veredito, e, consequentemente, ninguém mais foi processado.

Mais de 2 mil nazistas abrigados no Canadá

Reportagem publicada em 2020 na revista militar Esprit de Corps mostra que o Canadá abrigou mais de 2 mil nazistas após o fim da Segunda Guerra Mundial, parte deles egressos da 14ª Divisão de Granadeiros da SS, o exército paramilitar do Partido Nazista.

Sediada na região da Galícia, na Ucrânia, a Primeira Divisão Ucraniana foi incorporada à 14ª Divisão de Granadeiros da SS e organizada exclusivamente para combater soviéticos. Composta por voluntários, muitos eram admiradores de Stepan Bandera (1909–1959), colaboracionista nazista ucraniano durante a Segunda Guerra Mundial, ou viam os nazistas como aliados úteis para tentar conquistar autonomia ante Moscou. Essa divisão foi acusada de praticar diversos crimes de guerra.