Coalizão governante da Alemanha implode: o que o futuro reserva a Olaf Scholz?
A coalizão tripartidária governante da Alemanha entrou em colapso depois que o chanceler Olaf Scholz demitiu o ministro das Finanças, Christian Lindner, do Partido Democrático Liberal (FDP, na sigla em alemão) na quarta-feira (6).
A postura antirrussa da Alemanha durante a crise da Ucrânia levou a antiga potência industrial à estagnação, com custos de energia crescentes e inflação paralisante causando desindustrialização. Os índices de popularidade do chanceler Olaf Scholz foram alguns dos mais baixos já registrados por um líder alemão, com apenas 18%.
A coalizão estava em terreno instável em meio a crescentes disputas sobre gastos e reformas econômicas. Com um déficit orçamentário grande para 2025, Scholz e Lindner passaram a discordar em diferentes matérias, desde como fazer para cobrir os gastos públicos, a enviar ou não mais ajuda à Ucrânia.
O chanceler havia submetido um "plano abrangente" ao ministro das Finanças para fechar o déficit orçamentário estimado em € 10 bilhões (cerca de R$ 61,4 bilhões). O plano incluía mais empréstimos estatais para reduzir os custos de energia, resgatar empregos na sitiada indústria automotiva alemã, oferecer incentivos fiscais para empresas que fazem investimentos e aumentar o apoio à Ucrânia.
Scholz se recusou a aceitar outras opções, insistindo que "este 'um ou outro' é um veneno — segurança ou coesão, apoio à Ucrânia ou investimento no futuro da Alemanha".
O orçamento de Scholtz exigiria que Linder quebrasse o limite de gastos constitucionalmente consagrado conhecido como freio da dívida que restringe o déficit federal a 0,35% do produto interno bruto (PIB). Mas ele rejeitou as propostas de Scholz, dizendo que tal movimento teria "violado meu juramento de posse".
Scholz alegou que Lindner "não demonstrou disposição para implementar nenhuma de nossas propostas" e frequentemente "bloqueou leis de maneira inapropriada", envolvendo-se em "táticas político-partidárias mesquinhas".
Já Linder argumenta que defendeu a contenção financeira, a adesão a regras rígidas de gastos e o corte de impostos.
Um documento do Ministério das Finanças vazado na semana passada listou uma série de propostas financeiras e econômicas que incluíam o corte de pagamentos de assistência social, a redução de medidas de proteção climática para estimular o crescimento econômico e a oferta de cortes de impostos para empresas. Os parceiros da coalizão do FDP se opuseram a tais medidas.
Após sua demissão, Lindner disse que Scholz "há muito não reconheceu a necessidade de um novo despertar econômico em nosso país" e "há muito tempo minimizou as preocupações econômicas de nossos cidadãos".
O partido de oposição eurocético Alternativa para a Alemanha (AfD, na sigla em alemão) saudou a implosão da coalizão governante que levou a Alemanha a um abismo econômico.
"Após meses de impasse e inúmeras sessões de terapia egocêntricas, agora precisamos urgentemente de um novo começo político fundamental para tirar a economia e o país como um todo da grave crise em que foi mergulhado pelas políticas orientadas pela ideologia do Partido Social Democrata [SPD, na sigla em alemão], Verdes e FDP", disseram os líderes parlamentares da AfD, Alice Weidel e Tino Chrupalla.
O que acontece depois?
Scholz, que agora vai liderar um governo minoritário com seu Partido Social Democrata (SPD) e os Verdes, pediu um voto de confiança em seu governo previsto para 15 de janeiro.
Friedrich Merz, líder do principal partido de oposição, a União Democrata-Cristã da Alemanha (CDU, na sigla em alemão), está pressionando por um voto de desconfiança imediato.
"Nós simplesmente não podemos nos dar ao luxo de ter um governo sem maioria na Alemanha por vários meses agora, e então fazer campanha por mais alguns meses, e então possivelmente conduzir negociações de coalizão por várias semanas", disse Merz.
Se Scholz perder a votação, o presidente alemão Frank-Walter Steinmeier teria que dissolver o parlamento e convocar uma eleição geral antecipada dentro de 21 dias.
Como líder da oposição, Merz provavelmente lideraria o próximo governo como chanceler. Uma pesquisa eleitoral do Politbarometer descobriu que 48% disseram que prefeririam Merz e a CDU para liderar um governo.
Apenas 28% apoiaram Scholz e 26% — os Verdes liderados pelo ministro da Economia, Robert Habeck, enquanto 14% apoiaram Alice Weidel da AfD. Merz apoiou o fornecimento de mísseis de cruzeiro Taurus e caças a Kiev — algo que o atual governo tem resistido — insistindo que a Ucrânia "deve vencer". Ele também se descreve como um "europeu convicto" e um defensor ferrenho da União Europeia (UE).
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que é alemã, comentou a atual situação política no país nesta quinta-feira (7), dizendo que é uma questão para o povo alemão resolver.
"O contexto alemão é para a Alemanha discutir agora. Em democracias, temos eleições e temos a construção de governos. Para a União Europeia, é importante manter o curso em que nos engajamos há tantos anos, e é um curso bem-sucedido", disse von der Leyen em uma reunião da comunidade política europeia em Budapeste, quando questionada sobre o papel das instituições europeias na superação da crise alemã, causada em parte pelo apoio de Berlim a Kiev.