ELEIÇÕES EUA

Analista: Trump como presidente vai buscar acordos 'pragmáticos', sem dinheiro para manter a Ucrânia

O analista estratégico Paolo Raffone afirmou à Sputnik que o 47º presidente dos EUA, Donald Trump, não deve garantir o orçamento norte-americano "para manter a Ucrânia à tona". Para ele, Biden e seus acólitos europeus "são história".

Publicado em 06/11/2024 às 13:14

Ao longo de sua campanha eleitoral, Donald Trump expressou consistentemente sua relutância em continuar financiando a liderança de Vladimir Zelensky na Ucrânia. Após sua declaração de vitória na corrida presidencial dos EUA, Trump se dirigiu a seus apoiadores em um discurso comemorativo, prometendo "parar as guerras" em todo o mundo.

"Trump não vê nenhuma vantagem para os EUA continuarem gastando um orçamento enorme e capital político na Ucrânia. Se um acordo com a Rússia e a Ucrânia não puder ser alcançado, é possível que Trump pressione por uma 'política de conflito congelado' como uma espécie de controle de danos [...]. Os europeus terão que cobrir esses custos. Provavelmente será o fim da União Europeia [UE]", especulou o diretor da Fundação CIPI em Bruxelas.

À frente da política externa, o republicano provavelmente mostrará abertura para soluções "pragmáticas" com aliados e inimigos para alcançar "vantagem máxima" para os EUA, supôs o especialista.

"Espero uma grande barganha na qual Trump manterá a centralidade dos EUA como o 'interlocutor indispensável' nas relações bilaterais, também dentro da estrutura da multipolaridade. Provavelmente, haverá muito menos histeria sobre Rússia, Irã e China. O objetivo provável é 'reequilibrar o intercâmbio' com todos esses países. Eles podem não se tornar amigos, mas acordos são possíveis em interesse mútuo."

Em sua busca por uma agenda de interesse nacional, Trump pode redefinir as contribuições dos Estados Unidos para a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), enfatizando que a proteção dos EUA para a Europa "não é uma carona grátis", observou Raffone.

"Trump garantirá aos europeus o escudo militar, mas cada Estado europeu terá que contribuir muito mais para a OTAN. As administrações anteriores dos EUA pediram para aumentar os gastos militares europeus acima de 2% do produto interno bruto [PIB]. Tal meta provavelmente será insuficiente durante o novo governo Trump", disse Raffone.

É difícil para Trump "aceitar qualquer ideia de autonomia estratégica europeia", enfatizou o especialista. Ele supôs que um novo governo Trump brandiria "uma combinação de comércio, tarifas e imposto de segurança para forçar os europeus a aumentar seus orçamentos militares e comprar mais dos norte-americanos".

"A dependência energética e tecnológica europeia é um fato [...]. A Europa deve encontrar espaço para um compromisso para lidar não apenas com os EUA, mas também com a Rússia, China e Oriente Médio. As atuais posições ideológicas na Comissão da UE, Paris e Berlim não são encorajadoras", enfatizou o especialista.

Olhando para as eleições dos EUA de 2028, ninguém da "velha guarda" estará concorrendo, conjeturou Raffone, sugerindo que "novas forças surgirão durante o atual mandato de Trump".

"O governo Trump provavelmente será um momento de transição. O resultado será visível na política dos EUA na próxima década. Atualmente, os dois partidos dos EUA vivem um momento populista. O tempo dirá se a política surgirá novamente nos EUA", concluiu.