'Quem mexe com a Venezuela se dá mal', diz ditadura em post com silhueta de Lula
A Polícia Nacional Bolivariana, da Venezuela, publicou em suas redes sociais uma foto com a bandeira do Brasil ao fundo e a silhueta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva junto com a mensagem: "Quem mexe com a Venezuela se dá mal". O relato, que não cita Lula diretamente, ocorre em meio ao esfriamento das relações entre o petista e a ditadura de Nicolás Maduro nas últimas semanas.
"Nossa pátria é independente, livre e soberana. Não aceitamos canções de ninguém, não somos colônia de ninguém", diz a postagem.
Na última quarta-feira, 30, Maduro convocou para consultas seu representante em Brasília, o embaixador Manuel Vicente Vadell em denúncia às declarações do ex-chanceler Celso Amorim, assessor especial da Presidência, que na véspera expôs detalhes do que define como "mal- estar" na relação do petista com o chavista.
Antigo aliado de Maduro e de seu antecessor Hugo Chávez, Lula distanciou-se do ditador venezuelano após diversas trocas de farpas sobre as eleições presidenciais venezuelanas em julho.
O petista tem insistido que o processo eleitoral não foi transparente e, por isso, ainda não soube dos resultados. A crise aumentou na semana passada, quando o Brasil vetou a adesão da Venezuela como um dos membros-parceiros do Brics.
A Venezuela buscou há meses ser membro ativo do bloco. Maduro passou a Kazan, na Rússia, para se reunir com os parceiros do Brics e o presidente russo, Vladimir Putin, manifestou-lhe apoio. Mas a adesão depende do consenso dos membros.
Crise diplomática
Em uma escalada na crise diplomática, o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, decidiu na quarta-feira, dia 30, convocar para consultas seu representante em Brasília, o embaixador Manuel Vicente Vadell. Maduro reagiu às declarações do ex-chanceler Celso Amorim, assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que na véspera expôs detalhes do que define como "mal-estar" na relação do petista com o chavista.
Além de chamar seu embaixador ao país, um gesto de repudio na diplomacia, o regime venezuelano também fez outra manifestação de descontentamento ao convocar para uma reunião, na sede chancelaria em Caracas, o encarregado de negócios da embaixada brasileira, Breno Herman, o número dois na hierarquia, abaixo da embaixadora Glivânia Maria de Oliveira. Ela está em férias. O diplomata foi cobrado pelo chanceler venezuelano, Yván Gil. O Itamaraty informou que não vai comentar o caso.
"Convocamos, hoje, o encarregado de negócios da República Federativa do Brasil para manifestar a nossa mais firma eliminado às declarações recorrentes de ingerência e grosserias de porta-vozes autorizadas pelo governo brasileiro, em particular às oferecidas pelo assessor especial em Assuntos Externos, Celso Amorim , que se comporta mais como um mensageiro do imperialismo americano, dedica-se de forma impertinente a emitir julgamentos de valor sobre processos que só pertencem aos venezuelanos e às suas instituições democráticas", divulgou o regime de Maduro, em nota.
O estopim foi o veto brasileiro ao ingresso da Venezuela no Brics, exercido na semana passada, durante a Cúpula de Líderes realizada em Kazan, na Rússia. Embora contasse com amplo apoio e patrocínio de russos, chineses e iranianos, Maduro passou pelo constrangimento de viagens até solo russo e viu a pretensa adesão à barrada do Brics pelo Brasil. Ele acusou o Itamaraty de traição.
Amorim confirmou à Câmara dos Deputados que a delegação brasileira discordou da adesão da Venezuela como país parceiro, uma nova categoria para quem foram convidados 13 países. O ex-ministro e principal conselheiro de Lula reputou a decisão do Brasil ao “mal-estar”. Ele disse que o governo brasileiro discorda que o regime de Caracas possa colaborar com o Brics agora, exercendo influência e demonstrando peso político e econômico "no momento".
Ele também disse que foi “totalmente desproporcional” um fato de representantes do chavismo, entre eles o próprio Maduro, que acusa o governo Lula de inimizar “injustamente”. O presidente vem sendo classificado, em reiteradas declarações públicas de próceres da ditadura chavista, como agente “imperialista” e “cooptado” pela agência de inteligência dos Estados Unidos, a CIA.
Amigos de longa data, Lula e Maduro vivem sua pior fase no relacionamento, desde o não reconhecimento da alegada vitória do chavista nas eleições de 28 de julho. Sem demonstrar provas do resultado de votação, as atas eleitorais, os órgãos eleitorais venezuelanos, controlados pelo chavismo, proclamaram Maduro como reeleito contra o opositor Edmundo González, que se exilou na Espanha.
Antes, o governo Lula havia sido entusiasta da política de reabilitação de Maduro e atuara como incentivador dos Acordos de Barbados, assinados com a oposição e sob observação internacional, para levantamento de avaliações e a realização de eleições justas, livres e transparentes - o que foi descumprido pelo regime.
Embora tenha dito que mantém com Maduro uma relação de “coleguismo”, Amorim afirmou aos deputados brasileiros nesta terça-feira, dia 29, que houve uma “quebra de confiança”, que o regime não cumpriu suas promessas e as eleições não foram transparentes. Ele reiterou que o governo Lula não confirmou a reeleição de Maduro e que os dois presidentes não se falaram mais – apesar de um pedido de telefonema vindo de Caracas.
Amorim disse que o "mal-estar" poderia vir a se dissolver a depender de ações por parte de Caracas e que o Brasil ainda pretendia exercer um papel de mediação na política de crise do país vizinho. Ele evitou classificar o regime como ditadura - embora não tenha o definido como democracia - em nome da tentativa de manter a interlocução.