DEPOIMENTO

'Nunca vi resistência tão feroz de um atirador', relata policial sobre caso de Novo Hamburgo

Publicado em 23/10/2024 às 15:19
'Nunca vi resistência tão feroz de um atirador', relata policial sobre caso de Novo Hamburgo Reprodução

O combate com o atirador de Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, que se iniciou na noite de terça-feira, 22, e terminou na manhã desta quarta-feira, 23, deixando três mortos e nove feridos, foi relatado pelos policiais como atípico pela resistência e por conta dos ataques do atirador, o caminhoneiro Edson Fernando Crippa, de 45 anos.

"Tenho 34 anos de Brigada Militar e até hoje não vi uma ocorrência com resistência tao feroz de um atirador, municiado com centenas de estoques. Ele deu mais de 100 tiros, além das centenas de munições intactas apreendidas na residência. A ocorrência toda foi extremamente complexa, diante da resistência dele, mas em especial a retirada das pessoas. É uma ocorrência muito diferente", relatou o comandante Claudio Feoli, comandante-geral da Brigada Militar.

Ainda de acordo com a polícia, além da resistência, Crippa tinha diversas armas e munições no interior do imóvel. "É um cenário de guerra. Ele tinha farta munição", classificou o chefe da Polícia Civil gaúcha, o delegado Fernando Sodré.

Os policiais ainda relataram que o atirador não cedia a nenhuma das tentativas de conversas e negociações, respondendo com muitos tiros. Foram mais de cem disparos.

Segundo a polícia, Crippa pertencia ao grupo de Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador (CAC), com três registros para posse de armas, na Polícia Federal e no Exército. Todas as armas estavam registradas e em acordo com a legislação.

A legislação exige laudo psicológico para CACs que ateste que a pessoa tem condições de adquirir uma arma. No entanto, Crippa tinha histórico de quatro internações por esquizofrenia, as quais a polícia diz não ter identificado se ocorreram antes ou depois do registro das armas.

"Qualquer um sabe que ao dar uma arma na mão de alguém com esquizofrenia, uma tragédia vai acontecer", disse o secretário de Segurança Pública, Sandro Caron de Moraes.

O atirador não tinha antecedentes criminais, mas já teve um boletim de ocorrência registrado em 2021 por ameaça. A polícia investiga as motivações do crime e a relação do atirador com grupos de tiros.

"Não temos a informação se ele participava de grupo de tiros, mas tudo indica que sabia atirar, porque acertou dois drones. Quem acerta drone com pistola não é uma pessoa que não tem noção de tiros", disse o comandante do BOPE, major Gabriel Hoff.

Devido à intensidade do combate, a Brigada Militar acinou os Batalhões de Choque e de Operações Policiais Especiais (BOPE), que precisou empregar uma técnica de saturação de fogo.

Foram feitas três aproximações - na primeira, foram resgatados os agentes feridos; na segunda, o policial Éverton Kirsch Júnior, já morto, com um disparo na cabeça; e na terceira, foi possível resgatar os familiares. Os agentes confirmaram, por meio de imagens de drone, que não haviam outros reféns no local antes de efetuar a entrada tática.

A perícia encontrou centenas de munições no quarto do acusado, além de garrafas de água e isotônico, o que poderia indicar uma possível premeditação do crime.

Chamado por desentendimento familiar

A polícia foi acionada no caso pelo 190 para uma ocorrência de violência familiar. O pai do atirador informou um desentendimento. Ao chegar na casa e registrar a ocorrência, Crippa reagiu disparando contra a Brigada Militar, relatam as autoridades policias.

"Quando a Brigada chegou ele entrou em surto e passou a disparar nos policiais", disse o secretário de Segurança Pública.

Segundo os familiares informaram, tanto o atirador quanto o pai, ambos mortos na ocasião, tinham esquizofrenia, transtorno mental em que a pessoa pode perder o contato com a realidade durante episódios psicóticos.

A irmã, que foi ferida pelo atirador mas sobreviveu e se encontra internada em estado grave, relatou à Polícia Civil, que investiga o caso, que Crippa era violento, especialmente com o pai, a quem maltratava.

As vítimas fatais do atirador foram o pai e o irmão, além do policial militar Éverton Kirsch Júnior, que tinha acabado de se tornar pai. Outras oito pessoas ficaram feridas, sendo seis PMs (um deles em estado grave e outro em estado gravíssimo) e a mãe e a cunhada do atirador (ambas em estado grave).