Elevação da nota do Brasil pela Moody's e petróleo animam Ibovespa, que sobe mais de 1,5%
A elevação da nota do Brasil pela Moody's na terça-feira impulsiona nesta quarta-feira, 2, o Ibovespa, que ainda reflete a valorização em torno de 3,00% nas cotações do petróleo no exterior, conforme avança a tensão no Oriente Médio. A alta do principal indicador da B3 é limitada pela queda marginal das bolsas em Nova York. Nos Estados Unidos, a incerteza quanto ao ritmo de queda dos juros em novembro está no radar.
No período da manhã desta quarta, foi divulgado um novo dado do mercado de trabalho americano, que tem sido acompanhado com afinco pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) em suas decisões de política monetária. A pesquisa ADP mostrou que em setembro o setor privado dos EUA criou 143 mil empregos, ficando acima do esperado.
Neste sentido, tende a reforçar a aposta de um corte de 0,25 ponto porcentual em novembro ante o recuo de 0,50 ponto no mês passado. Os juros dos Treasuries renovavam máximas após a divulgação. No entanto, os juros futuros seguiam em queda, o que pode beneficiar principalmente ações mais sensíveis ao ciclo econômico no Ibovespa.
"A Bolsa está bem animada nesta manhã. Saiu o relatório do emprego privado nos Estados Unidos e o petróleo está disparando quase 3% por causa da guerra no Oriente Médio", pontua Felipe SantAnna especialista em mercado da mesa proprietária Star Desk. "Essa avaliação da Moodys deixando o Brasil mais perto de um grau de investimento está animando", completa SantAnna.
Ontem, o Índice Bovespa fechou com ganho de 0,51%, aos 132.495,16 pontos na sessão. No encerramento ainda não havia saído a decisão da Moody's, que veio na sequência. A agência de classificação de risco elevou a nota de crédito do Brasil de "Ba2" para "Ba1", deixando o país apenas um degrau abaixo do chamado grau de investimento, equivalente a um selo de bom pagador.
Para Marlon Glaciano, planejador financeiro e especialista em finança, a decisão da Moody's melhora a confiança dos investidores no Brasil e associada à redução do juro básico em setembro nos Estados Unidos e alta da taxa Selic tende a atrair capital estrangeiro. Contudo, cita que as condições fiscais não podem piorar. "As últimas informações relacionadas ao fiscal vão na linha de uma melhora", diz.
Além disso, a Moody's manteve a perspectiva para o rating brasileiro. Com isso, há chance de o Brasil reconquistar o grau de investimento antes de o terceiro e atual mandato do presidente Lula chegar ao fim.
"Não acho que o Brasil já esteja no patamar de investment grade, mas isso já ajusta valuation do mercado como um todo. Diminui o risco Brasil. Só por isso, tem uma melhora de patamares de preços", afirma Marcelo Vieira, head da mesa de renda variável da Ville Capital.
A decisão da Moody's pegou analistas e economistas de surpresa, inclusive a equipe econômica da MCM Consultores. "A elevação do rating do Brasil foi surpreendente, uma vez que as agências de classificação de risco costumam adotar uma postura pró-cíclica, ou seja, reagem após mudanças significativas nos prêmios de risco e nos preços de mercado", avalia em nota.
A despeito de considerar a decisão da agência positiva, Silvio Campos Neto, economista-sênior da Tendências Consultoria, faz ponderações. "Vem cercada de ceticismo em torno da avaliação do quadro fiscal, com a agência esperando o cumprimento das metas do governo nos próximos 2 a 3 anos e a estabilização da dívida em 82% do PIB, expectativas que podem ser consideradas otimistas", avalia em relatório.
O upgrade da dívida soberana brasileira pela Moody's é uma boa notícia, mas é importante dizer que tem outras duas agências - Fitch e S&P - que ainda estão bem atrás no seu rating, lembra Beto Saadia, diretor de investimentos da Nomos. Desta forma, segundo ele, para que o País atraia um volume grande de fluxo de investimento é interessante que as três agências, ou pelo menos duas delas, coloquem o Brasil em grau de investimento.
Ainda o investidor avalia o crescimento de 0,1% na produção industrial em agosto ante julho e de 2,2% em relação a agosto de 2023. Os resultados vieram iguais às medianas das expectativas.
Às 11h15, o Ibovespa subia 1,70%, aos 134.753,90 pontos, ante elevação de 1,83%, com máxima aos 134.921,66 pontos. De um total de 86 ações, só BRF caía (0,16%).