Ibovespa encerra sessão na mínima do dia e recua 3,08% em setembro
Em baixa acentuada desde o meio da tarde desta segunda-feira, 30, o Ibovespa acumulou perda de 3,08% em setembro, que interrompe série de recuperação entre junho e agosto, a qual o havia retirado dos 122 mil pontos, no fechamento de maio, para nova máxima histórica, de 137,4 mil, em 28 de agosto. Após renovação de recordes no intradia e também no encerramento daquela sessão, o índice da B3 iniciou um movimento de correção gradual que o mantém agora pouco abaixo dos 132 mil pontos.
Nesta última sessão de setembro, o Ibovespa oscilou entre 131.816,44 - mínima do dia no fechamento, em baixa de 0,69% - e 133.119,79 pontos na máxima, saindo de abertura aos 132.761,20 pontos. O giro financeiro ficou em R$ 20,9 bilhões nesta segunda-feira. No ano, o Ibovespa cede 1,77%. A perda de 3,08% foi o pior desempenho mensal desde janeiro (-4,79%) e o pior setembro desde 2021 (-6,57%).
A última sessão do mês foi de fraco desempenho para os dois setores de maior peso no índice: commodities e finanças. Petrobras ON e PN cederam hoje, respectivamente, 0,63% e 0,28% - no mês, recuaram 8,5%, ainda sustentando ganho entre 9% (PN) e 13% (ON) no ano. O dia também foi ruim para os grandes bancos, em baixa de até 1,61% (Bradesco PN) no fechamento do dia - no mês, todas as maiores instituições recuaram, em especial Bradesco (ON -7,29%, PN -6,01%).
O desempenho do setor metálico também não correspondeu hoje ao forte avanço, de dois dígitos (+10,71%), nos contratos futuros de minério na China, após o anúncio de novas medidas de incentivo ao mercado imobiliário no país. Vale ON subia até o meio da tarde, mas mudou de direção (-0,70%), na mínima do dia no fechamento, acumulando ganho de 6,60% no mês - e ainda cedendo 11,40% no ano. Na ponta do Ibovespa na sessão, destaque para Azul (+4,87%), Vamos (+1,69%) e JBS (+1,67%). No lado oposto, Assaí (-8,00%), Petz (-3,87%) e Cogna (-3,76%).
"A virada em Vale firmou o Ibovespa em baixa do meio para o fim da tarde, com os investidores aproveitando para realizar um pouco de lucro em cima do ativo, o que descolou a ação, hoje, da alta nos preços do minério de ferro", diz Gabriel Mota, operador de renda variável da Manchester Investimentos, destacando ajuste mais forte nos ativos com exposição ao ciclo doméstico, em razão do avanço da curva de juros na sessão.
A piora do Ibovespa no meio da tarde ocorreu em paralelo ao observado em Nova York, durante fala do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, que colocou os três principais índices de ações nas respectivas mínimas da sessão. Ele reafirmou o sinal de que o Fed permanece dependente dos dados, e que a avaliação, de momento, não vai no sentido de desaceleração da economia americana - o que poderia justificar ritmo mais acelerado nos cortes das taxas de juros, iniciado no último dia 18 com redução de meio ponto porcentual que surpreendeu parte do mercado.
No discurso desta tarde, Powell ancorou expectativas para dois cortes ainda este ano, menores, de 0,25 ponto porcentual cada. Assim, no fim da tarde de hoje, a ferramenta do CME Group indicava probabilidade de 67,3% de corte de apenas 25 pontos-base em novembro pelo Fed. No fim de sexta-feira, a probabilidade era de 26,7%. Já a chance de redução de 50 pontos-base recuou de 53,3%, no fim da sexta, para 32,7% nesta segunda-feira. Ao fim, contudo, as bolsas de Nova York viraram ao positivo, mostrando altas de 0,04% (Dow Jones), 0,38% (Nasdaq) e 0,42% (S&P 500).
No fechamento de agosto, com o dólar de volta à casa de R$ 5,63, o Ibovespa, na moeda americana, marcava 24.135,58, refletindo a queda de 0,36% acumulada pela referência monetária no mês e o avanço de mais de 6% para o índice da Bolsa brasileira. Hoje, o dólar à vista fechou em alta de 0,21%, a R$ 5,4474, mas teve retração de 3,33% ao longo do mês. Combinando a variação nominal da moeda e da Bolsa em setembro, o Ibovespa em dólar chega ao fim deste mês a 24.198,04 pontos, um pouco acima do nível em que estava no fim de agosto, movido para cima pelo ajuste cambial no intervalo.
No encerramento de julho, o índice da B3, em dólar, estava em 22.572,06, um pouco acima do nível do mês anterior, e ainda muito descontado. Em julho, o dólar havia seguido em alta frente ao real, acumulando ganho de 1,20% no mês - e na última sessão de julho, a moeda americana subiu 0,68%, a R$ 5,6553, em nível semelhante ao do encerramento de agosto.
No trimestre julho-setembro, o terceiro do ano, o Ibovespa teve avanço nominal de 6%, vindo de perda de 3,27% no trimestre anterior e de 4,53% entre janeiro e março. No quarto trimestre de 2023, quando o Ibovespa também havia renovado máximas históricas no intradia e em fechamento, o ganho do índice foi a 15,11%, Considerando apenas o terceiro trimestre, o desempenho de julho a setembro em 2024 foi o melhor desde 2022 (+11,66%) - no ano passado, havia colhido perda de 1,28% no mesmo intervalo.
Perto do fechamento do período, "o Brasil seguiu sua tradição de conseguir estragar o que poderia ser um movimento de renovação de máximas históricas por conta de ruídos relacionados ao cenário fiscal", aponta Eduardo Plastino, analista de renda variável da Alta Vista Research. Ele se refere, em especial, à divulgação do relatório de receitas e despesas, pelo Ministério do Planejamento e Orçamento, que veio como uma "decepção" para o mercado.
"O resultado fiscal efetivo do governo deve elevar a dívida pública em quase R$ 70 bilhões, considerando a premissa nada conservadora de que o governo conseguirá se manter no limite inferior da meta. O mercado foi rápido ao inserir prêmio de risco na curva de juros", acrescenta.
No noticiário doméstico desta segunda-feira, "o setor público consolidado de agosto registrou déficit primário de R$ 21,4 bilhões, e ainda hoje sai o decreto de programação orçamentária e financeira, em que o governo indicará quais ministérios serão beneficiados pelo descongelamento de R$ 1,7 bilhão em gastos", destaca Hemelin Mendonça, sócia da AVG Capital.