Nos anos 70, o Brasil vivia um momento peculiar em sua televisão. O Programa Silvio Santos, que estava no auge e dominava os domingos na TV Globo, não era apenas um show de entretenimento, mas também se tornava, ocasionalmente, um veículo de serviço público. Em um episódio menos conhecido, mas profundamente significativo, o programa do apresentador judeu que se tornaria uma lenda da TV brasileira, desempenhou um papel fundamental na vida da família de um dos maiores escritores do Brasil, Graciliano Ramos.

Graciliano Ramos, autor de obras clássicas da literatura brasileira como "Vidas Secas" e "Memórias do Cárcere", havia falecido em 1953. Contudo, sua filha, Maria Augusta, filha do primeiro casamento do escritor, havia desaparecido de vista, e seus parentes, especialmente seu irmão Ricardo Ramos e os conterrâneos de Palmeira dos Índios, cidade onde Graciliano foi prefeito, estavam ansiosos por notícias dela. A procura se intensificou na década de 70, quando o jornalista Ivan Barros, também natural de Palmeira dos Índios e atuante na Revista Manchete, a pedido de Ricardo Ramos, decidiu que era hora de encontrar Maria Augusta, que supostamente vivia no Rio de Janeiro.

A Revista Manchete, também de outro judeu, Adolfo Bloch. Na época, era a mais lida do país e estava localizada na Rua do Russel, no Rio de Janeiro, um ponto de encontro frequente para Silvio Santos que visitava sempre o amigo Moyses Weltman, diretor da Revista Amiga, integrante da Editora Bloch e que publicava notícias exclusivas sobre cantores e artistas brasileiros. Silvio, já era um gigante da TV e mantinha boas relações com os grandes veículos de comunicação da época. Foi neste contexto que o jornalista Ivan Barros, ao lado de Jofre Soares, grande ator alagoano, procuraram Silvio Santos com um pedido inusitado: que ele utilizasse o poder de sua audiência para ajudar a encontrar Maria Augusta Filha.

Silvio Santos, reconhecendo a importância do pedido e sensível à situação, prontamente atendeu. Durante uma de suas edições dominicais, ele anunciou que parentes de Maria Augusta, filha do icônico Graciliano Ramos, estavam à sua procura. O impacto foi imediato. O programa, com sua enorme audiência, foi capaz de alcançar uma vasta parcela da população, e a mensagem rapidamente chegou aos ouvidos certos.

Graças à intervenção de Silvio Santos, Maria Augusta foi localizada. Infelizmente, as notícias sobre suas condições não eram as melhores; ela vivia em uma situação financeira difícil, o que tornava o reencontro ainda mais urgente e necessário. A ajuda inesperada do apresentador fez toda a diferença, permitindo que Ricardo Ramos finalmente a encontrasse e oferecesse todo o suporte de que ela tanto precisava para restaurar sua saúde e condições econômicas.

Esse fato revela uma faceta menos conhecida de Silvio Santos: a de alguém que, além de entreter, estava disposto a usar sua influência e seu espaço na televisão para causas humanas e sociais, mesmo que de maneira pontual. A ligação entre Silvio Santos e Graciliano Ramos, portanto, foi forjada não apenas pelo encontro entre dois grandes nomes da cultura brasileira, mas também pela intervenção fundamental de um mutirão de pessoas em um momento de necessidade para a família de um dos maiores escritores do Brasil.