BC tem muita reserva em dólar e vai fazer intervenção se precisar, afirma Campos Neto
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta terça-feira que a autoridade monetária tem muitas reservas em dólares e intervirá no mercado de câmbio, se necessário. Mas reforçou que, até agora, não foi identificada nenhuma disfuncionalidade que exija a intervenção.
"O Banco Central tem muita reserva, vai fazer a intervenção se precisar", afirmou Campos Neto, respondendo a indagações de um deputado petista durante uma audiência da Comissão de Finanças e Tributação da Câmara. "Inclusive, o diretor da área de câmbio Gabriel Galípolo, de Política Monetária foi nomeado pelo governo."
Os números mais recentes, do dia 2 de agosto, mostram que o BC dispõe de US$ 366,356 bilhões em reservas internacionais. No fim de 2023, eram US$ 355,034 bilhões.
Campos Neto lembrou que o BC só intervém no mercado de câmbio quando identifica alguma disfuncionalidade, já que o câmbio flutuante serve para absorver choques. Na recente desvalorização aguda do real, ele disse, os diretores debateram e chegaram à conclusão de que não havia razão para interferir, já que a mudança na cotação do real teria sido causada por uma piora na percepção de risco.
Ele lembrou que uma intervenção equivocada no câmbio poderia levar a uma piora de outras variáveis, como a taxa longa de juros.
Economia dos EUA
O presidente do Banco Central afirmou também que a autoridade monetária trabalha com a expectativa de desaceleração da economia dos Estados Unidos.
Ele observou que, em relação aos Estado Unidos, o panorama mudou de ter preocupação com inflação alta para a desaceleração forte no crescimento. "Nós entendemos que é uma preocupação, vamos dizer assim, uma angústia um pouco antecipada e um pouco equivocada. A gente trabalha com o cenário mais provável de desaceleração nos Estados Unidos, de uma forma mais organizada, mas, sim, reconhecendo os riscos que isso pode causar", disse.
Ele acredita que há novos desafios globais, que impactam na volatilidade dos mercados, a começar pela eleição americana. "Quando a gente olha a eleição americana, as campanhas e o que está sendo dito pelos candidatos, a gente tem basicamente um conjunto de políticas que leva a crer que a inflação americana vai ser mais alta", disse.
A análise é que tanto democratas quanto republicanos falam de um fiscal mais solto. "O que isso pode significar - e de novo, promessas de campanha nem sempre são realizadas - é uma dificuldade maior dos Estados Unidos trabalhar com uma inflação bem mais baixa e, por consequência, ter um juros muito parecido com o que tinha antes da pandemia, que é o que hoje o mundo gostaria de ver", disse.
O presidente do BC lembrou que, hoje, a expectativa dos Estados Unidos é de queda de juros. "A gente vê que tem uma sincronia grande entre países, geralmente quando os Estados Unidos começam a ter uma precificação de maior queda, os outros também. No mundo emergente a gente tem o caso do Brasil e da Rússia, uma exceção, onde o mercado precifica alta de juros, e não queda de juros. Então, aqui é uma exceção", disse.
Para ele, se houver uma desaceleração lenta e organizada nos Estados Unidos, a desorganização temida pelo mercado não deve ocorrer.