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Premiê de Bangladesh renuncia e foge do país após protestos com mais de 350 mortos

Publicado em 05/08/2024 às 17:01
Reprodução

A primeira-ministra de Bangladesh, Sheikh Hasina, renunciou e fugiu do país nesta segunda-feira, 5, em meio a uma onda de protestos contra o governo que já se estende há um mês e deixou mais de 300 mortos. Autoridades do país anunciaram a dissolução do Parlamento e a formação de um novo governo "o mais rápido possível".

Pelo menos 95 pessoas, incluindo pelo menos 14 policiais, morreram em confrontos na capital no domingo, 4, de acordo com o principal jornal diário em língua bengali do país, Prothom Alo. O país registrou 56 novas mortes nesta segunda-feira, totalizando mais de 350 desde o início das manifestações, em 1º de julho, segundo a AFP. Pelo menos 11 mil pessoas foram presas nas últimas semanas.

O chefe militar, Gen. Waker-uz-Zamam, disse que estava temporariamente assumindo o controle, e os soldados tentaram conter a crescente agitação. O presidente de Bangladesh, Mohammed Shahabuddin, anunciou na segunda-feira à noite, após se reunir com Waker-uz-Zamam e políticos da oposição, que o Parlamento seria dissolvido e um governo nacional seria formado o mais rápido possível, levando a novas eleições.

Centenas de milhares de pessoas saíram às ruas agitando bandeiras e aplaudindo para celebrar a renúncia de Hasina. Mas as celebrações logo se tornaram violentas em alguns lugares, com manifestantes atacando símbolos de seu governo e partido, saqueando e ateando fogo em vários prédios.

Manifestantes invadiram a residência oficial da premiê, na capital Daca, segundo imagens exibidas da televisão local. As imagens mostraram uma multidão entrando na residência de Hasina e acenando para as câmeras. Outros derrubaram uma estátua do pai de Hasina, Mujibur Rahman, herói da independência do país em 1971.

Para conter a violência, o governo suspendeu o acesso à Internet, fechou escolas e universidades, impôs toque de recolher e mobilizou o exército. Em meio a preocupações com a segurança, o principal aeroporto de Dhaka, a capital, suspendeu as operações. No entanto, alguns ex-oficiais militares manifestaram apoio aos manifestantes, criticando a repressão do governo.

Protestos

Os protestos em Bangladesh começaram pacificamente no mês passado, quando estudantes frustrados exigiram o fim de um sistema de cotas para empregos no governo que, segundo eles, favorecia aqueles com conexões com o partido Awami League do primeiro-ministro. Mas, em meio a uma repressão mortal, as manifestações se transformaram em um desafio sem precedentes para Hasina, destacando a extensão da crise econômica em Bangladesh, onde as exportações caíram e as reservas cambiais estão acabando.

Entre as vítimas, pelo menos 14 eram policiais, informou o porta-voz da polícia, Kamrul Ahsan. Os embates envolveram o uso de porretes, facas e balas, e uma delegacia em Enayetpour foi atacada, resultando na morte de 11 policiais.

A capital Daca transformou-se em um verdadeiro "campo de batalha", com veículos incendiados e repetidos tiros e explosões durante a noite, enquanto manifestantes desafiavam o toque de recolher imposto pelo governo.

Milhares de pessoas se reuniram em Daca exigindo a demissão de Hasina, convocados pelo grupo "Estudantes Contra a Discriminação", que promoveu atos de desobediência civil. Em contrapartida, Obaidul Quader, secretário-geral da Liga Awami, pediu à população para se mobilizar em apoio ao governo.

O general Waker-uz-Zaman, chefe do exército, declarou que os militares estão "sempre ao lado do povo", indicando uma possível mudança na postura das forças armadas em relação aos protestos.

ONU pede transição democrática

O secretário-geral da ONU, António Guterres, instou a uma "transição democrática" em Bangladesh, anunciou seu porta-voz. Guterres "insta todas as partes à calma e à moderação e destaca a importância de uma transição pacífica, ordenada e democrática", disse o porta-voz adjunto Farhan Haq.

Depois de "lamentar" a perda de vidas durante os protestos no país asiático, Guterres pediu "total respeito aos direitos humanos" e "uma investigação completa, independente, imparcial e transparente de todos os atos de violência", acrescentou o porta-voz em um comunicado. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)