Juros: taxas acompanham curva dos Treasuries e tombam por temor de recessão nos EUA
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Os juros futuros derreteram nesta sexta-feira, atropelados pela forte queda dos rendimentos dos Treasuries, por sua vez decorrente da leitura do payroll fraco de julho e de outros indicadores que acenderam um sinal de alerta sobre a economia norte-americana. No Brasil, as apostas para a Selic na reunião de setembro tiveram uma guinada e a expectativa de estabilidade passou a ser majoritária.
No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 10,550% (mínima), de 10,69% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 caía de 11,57% para 11,22%. O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 11,43% (11,83% ontem) e o DI para janeiro de 2029, de 11,69%, mínima, de 12,04%.
As taxas estiveram em queda desde cedo, mesmo com o salto da produção industrial de 4,01% em junho ante maio, muito acima do consenso de alta de 2,5%. Os mercados passaram a trabalhar mais fortemente com a possibilidade de uma recessão nos EUA depois do relatório de emprego apontar a criação de 114 mil vagas em julho, abaixo do consenso de 180 mil, com aumento da taxa de desemprego a 4,3%, ante previsão de estabilidade em 4,1%. Ainda, as encomendas à indústria americana despencaram 3,3% em junho, frustrando a previsão de alta de 0,5%. Nesse quadro, o mercado consolidou como majoritárias a aposta de queda de 50 pontos-base no juro na reunião do Federal Reserve em junho e um total de 125 pontos-base para 2024.
"A possibilidade de um corte em setembro parece cada vez mais real e provável, especialmente num cenário onde um dos principais mandatos do Fed, a estabilidade do mercado de trabalho, mostra sinais de enfraquecimento. A mudança de direção na política monetária é agora cada vez mais certa", afirma William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue.
O dólar derreteu ante moedas fortes e caiu menos ante emergentes, afetadas pelo tombo das commodities. A taxa da T-Note de dez anos desabava a 3,79% no fim do dia.
O economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, explica que o contexto de hoje pegou o mercado de juros no contrapé e exigiu ajustes técnicos expressivos. "Ontem, a curva inclinou com o comunicado do Copom e hoje é o contrário, com a ponta longa tomando uma surra. O posicionamento técnico ficou ruim. Com o tombo do petróleo e a queda do dólar, ficou difícil defender as posições tomadas de ontem e esse 'trade' teve de ser invertido", disse.
O ambiente externo colocou em xeque as apostas de alta da Selic ao longo de 2024. No fim da tarde, a precificação nos DIs era de apenas 9 pontos-base (de 21 pontos ontem), ou 64% de chance de estabilidade da taxa nos atuais 10,50% em setembro. Para o fim do ano, a curva projetava 11,03%, de 11,40% ontem.
"O mercado está precificando cortes de 50 pontos pelo Fed em setembro, em novembro e mais 25 pontos em dezembro. Muito difícil o Copom subir a Selic num contexto desse e com o petróleo ainda desabando", afirma Borsoi.