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Partido de Mandela perde maioria que tinha desde o apartheid e terá de negociar

Publicado em 01/06/2024 às 11:48

O Congresso Nacional Africano (CNA), partido do presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, perdeu a maioria parlamentar em um resultado eleitoral histórico neste sábado, 1.º, que coloca a África do Sul em um novo caminho político pela primeira vez desde o fim do sistema de apartheid de governo da minoria branca, há 30 anos.

Com mais de 99% dos votos apurados, o CNA obteve pouco mais de 40% nas eleições que foram realizadas na quarta-feira, 29, muito aquém da maioria que já possuiu desde o fim do apartheid, em 1994, quando Nelson Mandela (que morreu em 2013) foi eleito presidente. Os resultados finais ainda não foram declarados formalmente pela comissão eleitoral independente que conduziu as eleições, mas o CNA não pode passar dos 50% e por isso não terá maioria. No início das eleições, a comissão disse que declararia formalmente os resultados até domingo, 2, mas os resultados podem ser anunciados mais cedo do que o previsto.

Embora os partidos da oposição tenham saudado o resultado como um avanço importante para um país que luta contra a pobreza e a desigualdade, o CNA continuou sendo o maior partido. Mas terá de negociar para formar uma maioria e reeleger Cyril Ramaphosa para um segundo e último mandato.

"A forma de resgatar a África do Sul é quebrar a maioria do CNA e fizemos isso", disse o principal líder da oposição, John Steenhuisen. O caminho a seguir promete ser complicado para o país e ainda não há qualquer coligação sobre a mesa.

Oposição

O partido Aliança Democrática (AD), de Steenhuisen, obteve cerca de 21% dos votos. O novo partido MK, do ex-presidente Jacob Zuma, que se voltou contra o CNA que chegou a liderar, ficou em terceiro lugar, com pouco mais de 14% dos votos nas primeiras eleições que disputou. O partido Combatentes da Liberdade Econômica ficou em quarto lugar, com pouco mais de 9%.

Mais de 50 partidos disputaram as eleições, muitos deles com pequenas parcelas de votos, mas o DA e o MK parecem ser os mais óbvios para o ANC abordar para possíveis negociações. O parlamento precisa se reunir e eleger um presidente no prazo de 14 dias após os resultados finais das eleições terem sido oficialmente declarados, e as negociações devem ser complicadas.

Steenhuisen disse que seu partido centrista está aberto a discussões. O Partido MK afirmou que uma das condições para qualquer acordo era que Ramaphosa fosse destituído do cargo de líder do CNA e presidente da África do Sul. Zuma e Ramaphosa possuem uma forte briga política e o ex-presidente já anunciou que não deve reconhecer os resultados oficiais do pleito.

Economia

MK e os Combatentes pela Liberdade Econômica, de extrema-esquerda, apelaram à nacionalização de partes da economia. Já a Aliança Democrática é uma legenda vista como favorável aos negócios e os analistas dizem que uma coligação do CNA com a AD seria mais bem recebida pelos investidores estrangeiros, embora haja dúvidas sobre a viabilidade desta aliança por conta da forte oposição da AD ao governo de Ramaphosa nos últimos anos.

Uma coligação CNA-AD "seria um casamento de duas pessoas bêbadas em Las Vegas. Nunca funcionará", afirmou Gayton McKenzie, líder do partido menor Aliança Patriótica, à mídia sul-africana.

Apesar da incerteza, os partidos da oposição saudaram o novo quadro político como uma mudança muito necessária para o país de 62 milhões de habitantes, que é o mais desenvolvido de África, mas também um dos mais desiguais do mundo.

A África do Sul possui grandes níveis de pobreza e uma alta taxa de desemprego, de 32%. A pobreza afeta mais os negros, que constituem 80% da população e têm sido o núcleo do apoio do CNA durante os últimos anos. O CNA também foi responsabilizado - e agora punido pelos eleitores - por uma falha nos serviços básicos do governo que afeta milhões de pessoas e deixa muitos sem água, eletricidade e habitação adequada.

Quase 28 milhões de sul-africanos estavam registrados para votar e a participação deverá rondar os 60%, segundo dados da comissão eleitoral independente.

Fonte: Associated Press.