Bolsa e dólar ignoram IPCA e têm dia de estresse com inflação nos EUA
Após o repique provocado pelo reajuste de mensalidades escolares em fevereiro, quando chegou a 0,83%, a inflação oficial no País perdeu força e fechou o mês passado com variação de 0,16% - a menor taxa para o mês desde 2020, de acordo com o IBGE.
O resultado ficou praticamente no piso das estimativas dos analistas ouvidos pelo Projeções Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), que previam mediana de 0,24%. Em 12 meses, o IPCA acumula alta de 3,93%, dentro do teto de tolerância (de 4,50%) da meta de inflação perseguida pelo Banco Central em 2024, que é de 3%.
Ainda pela manhã, o resultado teve impacto nas taxas de juros no mercado futuro, que operaram em queda. Mas a virada no humor do mercado não demorou a chegar depois da divulgação da inflação nos EUA. O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) subiu 0,4% em março, bem acima da estimativa do mercado. Em 12 meses, o índice passou de 3,2%, em fevereiro, para 3,5% no mês passado.
Para analistas, esses números indicam que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) terá mais dificuldade para começar a cortar a taxa de juros no país - a previsão agora é de que isso aconteça só a partir de setembro. E isso terá impacto em todo o mundo, incluindo o Brasil, onde a taxa de juros, após o ciclo de cortes em andamento pelo BC, poderia acabar ficando mais alta do que projeta o mercado atualmente.
Em reação ao cenário internacional, o dólar teve alta de 1,41%, a R$ 5,07, maior valor de fechamento desde 13 de outubro. Já o Ibovespa, principal indicador da Bolsa, recuou 1,41%, para 128,0 mil pontos. A queda só não foi maior por causa do salto de Petrobras (ON +3,02% e PN +2,22%). Além da subida do petróleo, a estatal se apoia na perspectiva de distribuição de dividendos extras e de manutenção do seu presidente, Jean Paul Prates.
À GloboNews, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, classificou o resultado da inflação nos EUA como "muito ruim", mas ressaltou que "o cenário (projetado pelo Copom) não mudou substancialmente" e que os juros americanos e brasileiros "não estão mecanicamente relacionados".
Para o economista da CM Capital Matheus Pizzani, embora essa relação não seja automática o mercado aposta que o BC pode se guiar pelo diferencial de juros que deve afetar os fluxos internacionais e, por consequência, o câmbio. "A questão é se o câmbio vai pesar na inflação via bens comercializáveis, o que não temos visto por enquanto", afirmou. "O BC não precisa ser mais conservador tão logo, porque o juro real ainda é muito alto."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.