FUTEBOL

Em atrito com a Fifa, FIFPRO publica estudo para atacar sobrecarga de jogos no futebol mundial

Publicado em 05/09/2024 às 10:55
Em atrito com a Fifa, FIFPRO publica estudo para atacar sobrecarga de jogos no futebol mundialfifa.webp Reprodução

Julian Alvarez foi relacionado para 83 jogos na temporada europeia passada. Darwin Núñez, Luis Díaz e Phil Foden jogaram 72 partidas cada. Cristian Romero viajou mais de 160.000 quilômetros para jogos internacionais. Em comparação, Erling Haaland teve uma pausa de verão sem torneios de seleção e começou a nova temporada revigorado, com muitos gols pelo Manchester City.

As demandas físicas e psicológicas sobre os jogadores de futebol de elite na temporada passada foram detalhadas nesta quinta-feira por seu sindicato global, a FIFPRO, que está enfrentando a Fifa na Justiça em dois processos.

A FIFPRO publicou seu relatório anual de Monitoramento da Carga de Trabalho do Jogador, que entrevistou cerca de 1.500 jogadores. O estudo visa apoiar argumentos legais de que muito está sendo exigido dos membros do sindicato sem a devida consulta sobre a expansão constante do calendário de competições internacionais nos últimos anos.

"Esta será a temporada decisiva", disse Maheta Molango, membro do conselho da FIFPRO, sobre um calendário congestionado de 2024-25 que terminará com a primeira edição do novo Mundial de Clubes, de 32 equipes, organizada pela Fifa nos Estados Unidos.

Um anúncio online da FIFPRO sobre o relatório incluiu autoridades de sindicatos de jogadores na Inglaterra e na França, que entraram com uma ação contra a Fifa, em junho, no Tribunal de Comércio de Bruxelas. Em outro caso legal, a divisão europeia da FIFPRO está se unindo a ligas nacionais para registrar uma reclamação na Comissão Europeia em Bruxelas contra a forma como a Fifa decide expandir suas competições, incluindo a Copa do Mundo, que terá 48 equipes a partir de 2026.

"A lacuna entre aqueles que planejam e programam competições internacionais complexas e aqueles que as jogam e as vivenciam nunca foi tão grande", disse o diretor de políticas da FIFPRO, Alexander Bielefeld.

O sindicato tem como alvo a Fifa e não a Uefa, órgão do futebol europeu, que também adicionou mais jogos a partir desta temporada à Liga dos Campeões e à Liga Europa. "Muitas pessoas nos dizem: 'Por que vocês também não atacam a Uefa?'", reconheceu o dirigente do sindicato francês David Terrier. "A diferença é que tivemos discussões com a Uefa. Há uma vontade de encontrar soluções juntos. Não foi o caso da Fifa."

O novo Mundial de Clubes, que será disputado a cada quatro anos, foi um ponto de inflexão para a expansão de competições internacionais, disse o sindicato. O argumento da Fifa de que os jogos das seleções representam uma pequena fração do total de jogos em comparação ao futebol de clubes foi "uma perspectiva enganosa", afirmou a FIFPRO.

O último relatório de carga de trabalho do jogador muda o foco do número de jogos e minutos jogados para o tempo gasto em serviço de trabalho. Isso incluiu a seleção em seus dias de jogos e também em dias de treinamentos, o que adicionou estresse em viagens e preparação para as partidas, segundo o sindicato.

Jogadores que estiveram na Eurocopa deste ano passaram 17% do seu tempo de trabalho na temporada passada com seleções nacionais, sugeriu o relatório, acrescentando que esses jogadores tiveram apenas 42 dias de descanso e recuperação ao longo do ano.

Haaland não jogou na Eurocopa porque a Noruega não se classificou, observou Molango, CEO do sindicato dos jogadores na Inglaterra, e estava totalmente descansado para começar o Campeonato Inglês. Ele tem sete gols em três jogos pelo Manchester City. "Agora você vê o resultado. Ele voltou a ser a máquina que vimos quando ele entrou pela primeira vez", disse Molango.

Ele também destacou o rápido início de Mohamed Salah no Liverpool após não jogar nenhum torneio durante as férias com a seleção do Egito.

O relatório também comparou Jude Bellingham, Real Madrid, jogando muito mais jogos na mesma idade - 21 - do que Wayne Rooney, uma estrela adolescente anterior da Inglaterra. "Não há proteção", disse Darren Burgess, pesquisador da FIFPRO. "A ciência nos diz que esses atletas ainda estão crescendo e estamos colocando-os sob cada vez mais carga, o que geralmente leva a lesões."