INCLUSÃO

Iniciativa de escola da rede estadual empodera meninas por meio do esporte

Publicado em 03/10/2024 às 09:23

Cecília Calado/Ascom Seduc, sob supervisão

Em diversas comunidades, o esporte é mais do que uma simples atividade física, revelando-se uma importante ferramenta de transformação e inclusão social. Para jovens em situação de vulnerabilidade, por exemplo, ele se apresenta como um agente de mudança, abrindo portas para novos sonhos e perspectivas de futuro. Nesse contexto, a educação desempenha um papel fundamental, atuando como a ponte que conecta jovens e crianças às práticas esportivas. E é no ambiente escolar que talentos são descobertos e futuros atletas encontram espaço para se desenvolver.

 

Na escola, o incentivo ao esporte começa nas aulas de educação física, um componente curricular obrigatório para todos os estudantes. Entretanto, a equipe pedagógica pode ir além, desenvolvendo projetos extracurriculares que atendam aos interesses e demandas específicas dos alunos, como é o caso da Escola Estadual Ovidio Edgar de Albuquerque. Por meio do projeto “Altinha Delas”, a professora Gedalva Queiroz acolheu um grupo de meninas que desejava praticar o esporte denominado altinha e por meio do qual elas já desenvolvem uma série de competências.

 

Início de tudo

 

A altinha é uma brincadeira que surgiu nas praias do Rio de Janeiro, já sendo considerada uma modalidade esportiva, em razão de sua popularidade, inclusive, na região Nordeste. A expansão é tamanha que a prática também invadiu o ambiente escolar, tornando-se uma ‘febre’ entre os alunos, como registrado na Escola Estadual Ovidio Edgar de Albuquerque – cuja professora de educação física notou o interesse dos estudantes e decidiu criar um projeto para incentivar, principalmente, a participação feminina.

 

“Percebi que muitas meninas estavam se interessando pela altinha, apesar de muitas vezes serem excluídas pelos meninos. Elas eram tão unidas que praticavam por conta própria, nos intervalos das aulas. Foi quando surgiu a ideia de criar um projeto para ajudá-las”, explica Gedalva Queiroz.

 

Hoje, o “Altinha Delas” conta com dois encontros semanais, reunindo 11 integrantes. Ele já possui até identidade visual e escudo estampado nas camisetas das alunas. Isso sem falar no mural da quadra da escola, que também recebeu imagens que simbolizam o projeto, reforçando, assim, a importância da iniciativa para a comunidade escolar.

 

Comunicação não-violenta

 

Na altinha, o objetivo principal é manter a bola no ar, usando pés, pernas, peito, cabeça e ombros. Embora essa seja a regra básica do jogo, Gedalva relaciona regras adicionais, como ter bom desempenho em sala de aula, ter bom comportamento e evitar palavras de baixo calão durante os treinos.

 

“Com o esporte, temos a oportunidade de trabalhar todas as dimensões do ser humano, a exemplo da questão socioemocional. Quando pensei em criar o projeto, quis trabalhar todos esses aspectos com as meninas. A comunicação violenta, por exemplo, ainda é muito presente no contexto escolar. Então, por meio do esporte, é possível trabalhar as expressões corporais, a linguagem oral, entre outros aspectos. O respeito ao próximo e a comunicação não-violenta são pilares do nosso projeto”, avalia.

 

Gestora da Ovidio Edgar de Albuquerque, Maria Gomes ressalta os resultados positivos junto às estudantes. “A gente já percebe a diferença no comportamento das meninas, na empatia que elas têm umas com as outras. Esse projeto é importantíssimo para despertar lideranças positivas e influenciar outros estudantes a também adotarem a comunicação não-violenta. O exemplo arrasta, e a iniciativa tem o apoio total da gestão escolar”, assegura.

 

Sororidade e rede de apoio

 

Iasmim Gabriele, do 6º ano, é uma das meninas que integram o “Altinha Delas”. A estudante destaca que o projeto é uma rede de apoio que mantém vivo o seu sonho de se tornar atleta. “Quando algo me desanima ou meu dia não vai bem, eu me apoio nas meninas. A gente se ajuda para continuar treinando e tentando, sem julgar quando alguma erra ou não vai bem nos treinos. Cuidamos umas das outras”, conta.

 

Já Rebeca Islane, aluna do 8º ano, revela que passou a gostar de esportes por causa da altinha. “Eu me sinto acolhida como antes nunca me senti, e tenho a liberdade de errar e tentar de novo. Tenho a liberdade de errar sem ser julgada. E eu nunca me interessei por esportes. Prova disso é que participava da aula de educação física apenas por ser obrigatória. Mas esse sentimento mudou depois do projeto”, garante ela.

 

Para outras meninas, a altinha representa um hobby e um momento de autocuidado, como descreve Lauany Tainá, do 8º ano. “Para mim, jogar altinha é uma terapia. Minha ansiedade tem diminuído bastante. Então, é um momento para cuidar de mim e de me divertir, apoiando minhas amigas e fazendo com que outras meninas também entrem para o grupo”, destaca a estudante.

 

Empoderamento feminino

 

O "Altinha Delas", como não poderia deixar de ser, também foca o enfrentamento ao machismo no esporte, uma realidade que ainda é muito presente, inclusive, no ambiente escolar. Eshyllen Cecília, do 8º ano, recorda as situações desconfortáveis que quase a fizeram desistir. “Podemos ser as melhores, mas, na boca deles sempre somos ruins. Para eles, nunca estaremos no ‘nível’ dos homens. Já ouvi muitas piadas, de que o esporte não é lugar para mim. Eu ficava muito triste, quase parei de jogar. Mas, hoje, meu sonho está mais vivo que nunca. Parei de ligar para esses comentários e passei a me dedicar apenas a mim e ao meu sonho, que é ser atleta”.

 

Dafinny Camila, também do 8º ano, é outra que também já vivenciou experiências semelhantes. “Já ouvi que eu não podia me interessar por altinha ou voleibol, porque mulher não sabe jogar. Depois do projeto e do incentivo da nossa professora, desenvolvi minha autoestima e segurança para ignorar tudo isso. A gente pode ser o que quiser. Se o nosso sonho é ser atleta, claro que podemos ser”, avalia.

 

Já na opinião da professora e idealizadora do “Altinha Delas” reafirma o combate às práticas machistas como um dos compromissos do projeto, reforçando, ainda, as perspectivas de futuro. “Nossa principal meta é formar cidadãs e expandir cada vez mais o projeto, para que mais meninas participem e nos ajudem a divulgar o esporte que pode, futuramente, integrar a relação de modalidades dos Jogos Estudantis de Alagoas (Jeal). Tudo é possível, e é por isso que estamos aqui”.