Lula relembra política com Silvio Santos e caso PanAmericano:'ele estava com medo de ser preso'
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva revelou, neste domingo, 18, passagens com o apresentador Silvio Santos, que morreu no sábado, 17, em São Paulo. Em uma delas, Lula confidenciou que Silvio teve medo de ser preso quando o rombo do Banco PanAmericano, que era dele, veio à tona em 2010. Lula estava no fim do segundo mandato.
Naquele ano, o Banco Central havia feito uma intervenção no PanAmericano por fraude contábil avaliada em R$ 4,3 bilhões a preços da época. Houve maquiagem das contas do banco, segundo as investigações. Um ano antes, o Grupo Silvio Santos havia vendido 36% das ações do PanAmericano para a Caixa.
Lula revelou que Silvio Santos o procurou e disse que teve medo de ser preso. O caso foi investigado pela Polícia Federal, o apresentador chegou a ser citado, mas a responsabilidade recaiu sobre executivos do banco, que foram multados pela CVM (Comissão de Valores Imobiliários).
"Quando teve aquele golpe no Banco PanAmericano, o Silvio Santos me procurou aqui muito preocupado, eu era presidente da República, ele estava com medo de ser preso", disse Lula. "Eu disse: primeiro não há porque te prenderem, nós vamos fazer investigação, o Banco Central vai ajudar a cuidar disso, o Ministério da Fazenda, e vamos ver como é que a gente resolve o problema. E o problema foi resolvido. Ele deu como garantia a televisão dele. Coisa que muita gente não quer dar o seu patrimônio (como garantia), ele deu".
Para evitar a insolvência do banco, Silvio Santos recorreu a um empréstimo do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), usando seu patrimônio como garantia. No ano seguinte, em 2011, o Grupo Silvio Santos vendeu sua fatia no PanAmericano para o BTG Pactual, que dez anos mais tarde compraria a fatia da Caixa e ficaria com 100% do renomeado Banco Pan.
A conversa entre Lula e Silvio Santos não havia vindo à tona até este domingo.
Outra revelação feita por Lula foi quando Silvio tentou virar político, em 1989. O presidente contou que tentou convencer o comunicador a abandonar a ideia de ser candidato - Silvio Santos acabou impedido pela Justiça Eleitoral.
"Naquele momento em que Silvio Santos era candidato a candidato a presidente da República, eu fiz uma viagem com ele no avião de São Paulo para Brasília. E eu tentei convencer, sabe, da não importância de ele participar do processo eleitoral. E por que que eu dizia isso? Porque ele era um homem inegavelmente, o Silvio Santos foi o melhor apresentador de televisão deste País. Chacrinha e ele juntos, não tem mais ninguém que nem sequer chegue perto deles", disse Lula.
O presidente não contou a resposta de Silvio Santos. O apresentador chegou a liderar a corrida eleitoral contra Fernando Collor de Mello. Na ocasião, a Justiça Eleitoral impugnou o partido dele, o então PMB (Partido Municipalista Brasileiro), e Silvio saiu da disputa.
Em sua fala, Lula elogiou o trabalho de Silvio como apresentador, disse que tinha relação afetiva com alguns de seus programas e que passava horas de domingo à frente da TV acompanhando os quadros dele no SBT.
"Eu achava mais interessante porque no programa dele, ele contava a história dele, ele não tinha vergonha de dizer quem ele era. Eu achava o Silvio Santos um homem de bem, de caráter, respeitoso e que não gostava de falar mal do governo, independentemente de quem fosse o governo", disse.
Lula contou ainda que questionou o apresentador sobre a ausência de um programa dedicado ao jornalismo em seu canal de TV: "Uma vez eu fui cobrar do Silvio Santos por que não tinha um programa de jornalismo grande no SBT? Ele falava eu não quero um programa em que as pessoas ficam falando mal do governo", disse Lula.
"Quem tem a minha idade viveu pelo menos metade dela vendo o Silvio Santos", afirmou o presidente. "A gente assistia ao Silvio Santos e depois na segunda-feira e na terça a gente discutia os blocos do programa. Portanto, o Silvio Santos tem muita responsabilidade com o entretenimento de milhões de brasileiros durante muitos anos. Eu acho que pessoas assim não morrem (...) As pessoas que a gente admira, elas não morrem, elas ficam no pensamento da gente. A gente lembra das coisas que aconteceram, e eu tenho boas e belas lembranças do Silvio Santos na televisão."