Crise da água em Palmeira dos Índios expõe omissão da legislatura passada e silêncio sobre destino de R$ 100 milhões
Vereadores autorizaram venda da concessão à Águas do Sertão, mas população segue sofrendo com desabastecimento e sem saber onde foi parar o dinheiro

PALMEIRA DOS ÍNDIOS – O caos no abastecimento de água em Palmeira dos Índios, agravado por sucessivos episódios de desatenção da empresa Águas do Sertão, não é fruto apenas da má gestão da concessionária. Parte da responsabilidade recai sobre os vereadores da legislatura passada, que, em 2021, autorizaram a venda da concessão de água e esgoto do município sem o devido cuidado com a transparência e a proteção dos interesses da população.
Aprovada com rapidez e sem a devida pressão por mecanismos de controle e fiscalização, a concessão transferiu à iniciativa privada a operação de um serviço essencial, em troca de mais de R$ 100 milhões, segundo anunciou à época o então prefeito Júlio Cezar. No entanto, passados quase três anos da venda, o contrato jurídico da transação nunca foi disponibilizado à população, nem mesmo aos atuais parlamentares que já solicitaram formalmente acesso ao documento.
Enquanto isso, moradores de comunidades rurais como Riacho Santo, Monte Alto e Lagoa do Caldeirão enfrentam racionamentos constantes, poços sem manutenção e energia elétrica cortada, comprometendo até mesmo o consumo básico de água potável. Na sessão desta quarta-feira (9), vereadores voltaram a criticar a Águas do Sertão e prometeram convocar representantes da empresa para prestar esclarecimentos.
Dinheiro sumido, prestação de contas ignorada
Se o serviço não melhorou – e, de fato, piorou –, a pergunta que ecoa nas ruas, nas redes sociais e nos microfones da Câmara é: onde estão os R$ 100 milhões da venda da Casal? A promessa era de que os recursos seriam aplicados em obras estruturantes e ações de impacto social, mas nenhum relatório detalhado foi apresentado ao povo.
Além disso, não há informação pública sobre o destino, uso ou saldo restante desses valores, o que levanta suspeitas e alimenta a revolta da população, especialmente diante da falta de água e da precariedade de diversos serviços básicos no município.
Vereadores também têm culpa
A omissão da legislatura anterior é cada vez mais lembrada. Ao autorizar a venda sem exigir contrapartidas claras, mecanismos de controle ou garantia de transparência, os ex-vereadores contribuíram diretamente para o cenário atual de colapso. A ausência de cláusulas que obrigassem a concessionária a prestar contas ou manter padrões de qualidade mínimos agravou o problema.
Hoje, a população paga uma tarifa alta e recebe um serviço deficiente, enquanto os agentes políticos que deveriam representar o povo mantêm silêncio sobre a falta de acesso ao contrato e sobre o paradeiro dos milhões recebidos.
Clamor por responsabilização
Diante desse cenário, cresce entre os moradores o clamor por uma investigação séria do Ministério Público e a exigência de que o contrato entre o município e a Águas do Sertão seja finalmente tornado público. Também se cobra uma prestação de contas detalhada do uso dos recursos, uma medida mínima para recuperar a confiança abalada entre o povo e o poder público.
Enquanto o Cidadão sofre com torneiras secas, promessas esquecidas e tarifas que não correspondem à realidade, o silêncio institucional sobre os R$ 100 milhões da água permanece como uma ferida aberta no coração de Palmeira dos Índios.