Eleições Municipais em Alagoas revelam sucesso absoluto dos prefeitos em exercício, mas mostram dificuldade na transferência de popularidade para sucessores
Em Alagoas, as eleições municipais de 2024 revelaram um cenário complexo e intrigante, especialmente para prefeitos que não podiam disputar a reeleição e tentaram passar o bastão a candidatos apoiados por eles. Em 45 municípios do estado, prefeitos que encerravam seus mandatos apoiaram diretamente seus sucessores, e, desses, apenas quatro cidades não conseguiram manter a continuidade do grupo situacionista: Maribondo, Estrela de Alagoas, Joaquim Gomes e Quebrangulo.
O que chamou a atenção nessas eleições foi o fato de que, em muitos desses municípios, as gestões eram altamente aprovadas, com índices de satisfação que variavam de 70% a 90%. Mesmo assim, os candidatos apoiados não conseguiram captar a mesma força política nas urnas, obtendo resultados inferiores às expectativas baseadas na popularidade dos gestores.
A questão de Palmeira dos Índios: popularidade e transferência de votos
Entre os municípios que viveram essa tentativa de transferência de popularidade, Palmeira dos Índios, o quarto maior de Alagoas, merece destaque. O prefeito Julio Cezar, que conduzia uma gestão com expressiva aprovação, segundo pesquisas amplamente divulgadas, apoiou Julia Duarte, sua sucessora.
Contudo, o apoio não foi suficiente para garantir uma vitória folgada, e Julia obteve 57,43% dos votos — um índice abaixo da popularidade da gestão de Julio Cezar, que frequentemente ‘superava’ os 70%.
Em Palmeira dos Índios, a situação se tornou um símbolo da dificuldade dos prefeitos em transferir para seus sucessores não apenas as boas avaliações administrativas, mas também o carisma político necessário para vencer uma eleição competitiva. A cidade mostrou que, apesar do apoio do atual gestor, a popularidade pessoal nem sempre é uma garantia de sucesso eleitoral para os indicados.
O cenário nos demais municípios: altos índices de aprovação, baixos percentuais eleitorais
Esse mesmo fenômeno se repetiu em diversos outros municípios, como Água Branca, onde o prefeito Zé Carlos, com uma aprovação de 78%, apoiou Nayara, mas a candidata obteve apenas 59% dos votos. Em Anadia, Celino Rocha tinha 54% de aprovação, mas Victor Rocha, seu candidato, enfrentou uma eleição difícil. Em Colônia Leopoldina, Manuilson Andrade, com apoio expressivo de 51,67%, viu Gilberto Sobreira ser eleito, mas com uma margem menor do que a sua própria aprovação como prefeito.
Os dados em destaque: uma análise completa dos resultados
Veja a seguir um resumo dos resultados, destacando como a popularidade não se traduziu inteiramente em votos para os sucessores apoiados:
• Água Branca: Zé Carlos (78%) apoiou Nayara, que obteve 59% dos votos.
• Anadia: Celino Rocha (54%) apoiou Victor Rocha.
• Campo Alegre: Nicolas Pereira apoiou Pauline Pereira, que alcançou 59,17%.
• Canapi: Vinicius Filho de Zé Hermes (61,55%) apoiou Josefa, que obteve 61,55%.
• Carneiros: Geraldo Filho (67,29%) apoiou Ubiratânia Santana.
• Colônia Leopoldina: Manuilson Andrade (51,67%) apoiou Gilberto Sobreira.
• Dois Riachos: Ramon Camilo apoiou Rosa Camilo, com 59,05% dos votos.
• Girau do Ponciano: Davi Barros (71,42%) apoiou Bebeto Barros, que venceu.
• Ibateguara: Néa do Geo (75,79%) apoiou Geo Cruz.
Esses exemplos mostram que, mesmo gestores aprovados pela população, com índices variando entre bons e excelentes, enfrentaram dificuldades para garantir a eleição de seus indicados.
Fatores que Influenciaram os resultados
O jornalista Kléverson Levy apontou, em sua análise dos resultados, um elemento crucial para essa falta de transferência de votos: o papel do poder econômico e do uso de recursos financeiros para influenciar as eleições. Segundo Levy, "a eleição de 2024 mostrou que, apesar da aprovação popular, o dinheiro e a habilidade de comunicação são fatores decisivos." Ele ainda destacou que os recursos provenientes de concessões dos serviços de água e saneamento, especialmente no caso de empresas como a BRK Ambiental e Águas do Sertão, proporcionaram uma vantagem financeira aos grupos situacionistas, algo que a oposição não conseguiu igualar.
Em Palmeira dos Índios e em outras cidades, a aprovação das gestões não garantiu a transferência direta de votos. A lição que fica é que a política exige, além de uma boa administração, uma sólida estratégia de comunicação e um uso inteligente dos recursos disponíveis para alcançar o eleitorado e convencê-lo da continuidade do projeto.
A eleição e o papel do estado
Outro ponto destacado por analistas políticos foi o papel do governo estadual, que realizou investimentos em obras importantes como creches, estradas e pavimentação. Essas ações ajudaram a consolidar as candidaturas situacionistas e garantiram que muitos prefeitos saíssem vitoriosos. A situação de Alagoas em 2024 ilustra que, mais do que popularidade, a combinação de gestão eficiente, apoio estadual e recursos financeiros é o que define o sucesso nas urnas.
As eleições de 2024 em Alagoas evidenciaram que a popularidade pessoal de um gestor não é suficiente para garantir o sucesso de um candidato sucessor.
Palmeira dos Índios e outros municípios mostraram que o eleitorado, embora satisfeito com as gestões em curso, busca mais do que a continuidade: deseja ver confiança, identidade e um futuro claro. Essa é uma lição não apenas para os gestores que tentam transferir seu legado, mas também para o eleitorado, que continua sendo um decisor crítico e difícil de conquistar apenas por transferência de prestígio.