A Manicure do Clima Bom
- Depois de velho, você ficou relaxado, coisa feia! Não corta o cabelo, unhas grandes, vou contratar manicure. Se eu morrer você vai virar lobisomem. Vivia reclamando Dona Flávia aos ouvidos de Rui.
Certo sábado pela manhã, a campainha do apartamento tocou, uma morena sorridente se apresentou, Raissa, manicure. Dona Flávia tirou o marido da leitura dos jornais na varanda. Hora de fazer as unhas, ele levantou-se e sentou-se na poltrona, cumprimentou a jovem, acionou o controle remoto da televisão. Colocou os pés numa bacia de água quente para amolecer as unhas. Dona Flávia deixou o marido entregue à manicure, foi às compras, sábado é dia de Shopping, encontro de amigas, só retornaria na hora do almoço.
Durante o cortar das unhas de mão, Raissa alisava a mão de Rui com suavidade, ele sentiu uma sensação gostosa, carícia no toque de mãos, olhou para manicure com curiosidade, ficou inquieto ao perceber o generoso decote da manicure, seios duros, empinados, há tempo não excitava-se com uma mulher. Puxou conversa.
- Menina você é a boa manicure, sabe cortar com suavidade, onde aprendeu essa delicadeza?
- Eu precisava de uma profissão, ganhar dinheiro, sustentar minha filha, fiz um curso no SENAC, hoje tenho bons fregueses, não paro de cortar unhas, os clientes gostam. Ser manicure foi muito bom para mim. Ganho meu sustento.
- E seu marido, pai de sua filha, não lhe ajuda?
- Marido não, meu vizinho, namorei com ele, me emprenhou ainda menina, eu tinha 15 anos. Danou-se para o Rio de Janeiro, sonhava ser cantor de rádio e televisão, canta bem. Há mais de cinco anos não tenho notícias dele, soube que é traficante no morro. Eu vivo com minha mãe no Clima Bom.
Conversaram muito, Raissa contou sua vida, trabalhadora. Ao terminar, ele olhou os pés, as mãos, admirou as unhas simetricamente cortadas, perfeitas. Perguntou o preço do serviço, pagou R$ 35,00, cinco reais a mais do valor pedido. A morena agradeceu, guardou o material. Rui ficou encantado ao perceber o corpo da morena dentro do vestido azul claro, quase transparente. Raissa despediu-se perguntando quando era para retornar.
- Venha no próximo sábado. Disse Rui com entusiasmo admirando o rebolado da manicure em direção à porta.
Na hora do almoço Dona Flávia inspecionou as mãos e os pés do marido, aprovou. Perguntou se havia gostado da manicure, Rui resmungou, fez-se indiferente, entretanto, a jovem não saía da cabeça.
Dois meses Rui alimentou-se de fantasia, sonhava com a morena acariciando seus pés. Ficava feliz desde sexta-feira. Em conversas enquanto cortava unhas, tornaram-se amigos íntimos, certa vez ela confessou ter sido garota de programa, não gostou. Num sábado cheio de sol, ao pagar a manicure, Rui encorajou-se, alisou seu pescoço e o colo, deu-lhe um beijo na testa. Ela reclamou baixinho. -“Não Seu Rui, não...” Ele a trouxe num abraço apertado, beijou-lhe a boca. No apartamento da Ponta Verde, embalado pela carícia do vento Nordeste, em cima do tapete comprado na Capadócia fizeram amor pela primeira vez.
Dona Flávia ao chegar notou a cara de felicidade do marido tomando uma cervejinha, cantando na varanda, achando o mar e a vida bonita. Convidou a mulher para almoçar, variar de comida, de tempero, foram à Barraca Pedra Virada na orla da Ponta Verde, encontraram amigos, passaram uma tarde maravilhosa conversando. Ao chegar em casa amaram-se como nunca mais tinham amado. Dona Flávia, antes de adormecer, conseguiu perguntar, o que deu em você hoje?
No sábado. Rui, homem decente, conversou sério com a manicure, não ficava bem fazer amor dentro de sua casa, era falta de respeito. Marcou, estabeleceu com Raissa, encontrarem-se uma vez por semana num motel para deliciosa tarde de amor, com ajutório. Rui está sentindo-se mais jovem, cabelo cortado, camisa da moda. Nunca mais Dona Flávia reclamou o relaxamento do marido.