Financiamento nuclear do BRICS liderado pelo Brasil pode reequilibrar acesso a tecnologias
Brasil assume liderança em grupo do BRICS voltado ao financiamento de projetos nucleares, promovendo cooperação e acesso tecnológico entre países emergentes.
A Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Atividades Nucleares (ABDAN) foi convidada a liderar o novo Grupo de Trabalho de Financiamento para Projetos Nucleares no âmbito do BRICS. A iniciativa visa criar diretrizes e instrumentos financeiros para expandir, de forma segura e sustentável, a energia nuclear entre os países membros.
Segundo o presidente da ABDAN, Celso Cunha, a escolha reflete a iniciativa brasileira em propor um trabalho focado em planejamento financeiro. O grupo de trabalho, criado há dois anos durante uma reunião em Moscou, reúne empresas dos países do BRICS+.
Cunha destaca que a ABDAN buscará fortalecer a coesão entre os membros, compartilhando experiências do programa nuclear brasileiro e políticas nacionais com outros países. Ele ressalta o papel da tecnologia nuclear na produção de hidrogênio e sua relevância para a transição energética.
Para a internacionalista Astrid Cazalbon, a cooperação e o financiamento nuclear no BRICS fazem parte de uma transformação mais ampla na ordem internacional. Ela ressalta que a Declaração de Kazan, de 2024, reafirma o compromisso do bloco com uma ordem mundial mais justa, baseada na cooperação, desenvolvimento sustentável e reforma das instituições globais, visando melhor representar os interesses dos países emergentes.
“Nesse sentido, iniciativas de cooperação e financiamento nuclear podem reduzir parcialmente as assimetrias, permitindo que países com acesso historicamente limitado às tecnologias nucleares desenvolvam seus próprios setores, especialmente em aplicações civis e energéticas”, explica Cazalbon.
Segundo a pesquisadora, esse movimento não implica necessariamente uma mudança direta no equilíbrio das potências nucleares militares, mas representa um reequilíbrio no acesso a capacidades tecnológicas e energéticas estratégicas.
Por Sputnik Brasil