Rússia acusa Ucrânia de lançar drones contra residência oficial de Putin; Zelenski nega
A Rússia acusou a Ucrânia nesta segunda-feira, 29, de lançar 91 drones durante a noite contra a residência de Vladimir Putin na região de Novgorod, alertando que Moscou "revisaria" sua posição nas negociações para resolver o conflito na Ucrânia.
"O regime de Kiev lançou um ataque terrorista usando 91 drones contra a residência oficial do presidente Vladimir Putin", disse o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, no Telegram. Ele ainda alertou para uma "retaliação".
O presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, negou os ataques e afirmou que as declarações de Lavrov eram mentirosas. "Mais uma mentira da Federação Russa", declarou o líder ucraniano durante uma conversa virtual com jornalistas, afirmando que Moscou está "simplesmente preparando o terreno para ataques, provavelmente contra a capital e possivelmente contra prédios do governo".
A troca de acusações ocorre logo após o presidente Donald Trump se reunir com o Zelenski, neste domingo, 28, na tentativa de avançar em um possível acordo para acabar com a guerra, que começou em fevereiro de 2022 com a invasão das tropas russas ao território ucraniano.
Os Estados Unidos ofereceram à Ucrânia garantias de segurança por 15 anos. Zelenski, entretanto, pediu um prazo superior a três décadas. "Eu realmente queria que as garantias fossem mais longas. Eu disse a ele que realmente queremos considerar a possibilidade de 30, 40, 50 anos", afirmou em uma entrevista coletiva virtual. Trump respondeu que pensaria na possibilidade, acrescentou.
Após o encontro, Zelenski também afirmou que a Ucrânia suspenderá a lei marcial quando a guerra com a Rússia terminar. "Em primeiro lugar, todos queremos que a guerra termine e só então a lei marcial será suspensa", disse. "Este é o único caminho. No entanto, o fim da lei marcial acontecerá quando a Ucrânia obtiver garantias de segurança".
Durante as negociações recentes, os EUA concordaram em oferecer certas garantias de segurança à Ucrânia, semelhantes às oferecidas a outros membros da Otan. A proposta surgiu quando Zelenski disse que estava disposto a desistir da candidatura da Ucrânia à aliança de segurança se o país recebesse proteção contra futuros ataques russos.
"Sem garantias de segurança, não se pode considerar que esta guerra tenha realmente terminado. Não podemos aceitar que tenha terminado porque, com um vizinho assim, continua existindo o risco de outra agressão", acrescentou Zelenski.
Trump diz que acordo de paz está 'mais próximo que nunca'
Por sua vez, Trump insistiu que a Ucrânia e a Rússia estão "mais próximas do que nunca" de um acordo de paz. No entanto, ele reconheceu que as negociações são complexas e ainda podem fracassar.
"Em algumas semanas, saberemos de uma forma ou de outra, acho", disse Trump. "Pode ser que um item que você não está pensando seja um item importante e acabe com tudo. Tem sido uma negociação muito difícil. Muito detalhada."
Trump insistiu que acredita que Putin ainda deseja a paz, mesmo que o presidente da Rússia tenha lançado novos ataques à Ucrânia enquanto Zelenski voava para os Estados Unidos para a última rodada de negociações. O presidente americano disse: "Acredito que a Ucrânia também fez alguns ataques muito fortes".
"A Rússia quer ver a Ucrânia ter sucesso", disse Trump durante uma coletiva de imprensa no domingo, ao lado de Zelenski após a reunião. Ele elogiou repetidamente o ucraniano como "corajoso".
Trump e Zelenski reconhecem que ainda há questões espinhosas, incluindo se a Rússia pode manter o território ucraniano que controla, bem como as garantias de segurança.
Após a discussão, os dois presidentes ligaram para um amplo grupo de líderes europeus, incluindo Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, e os líderes da Finlândia, França, Alemanha, Reino Unido e Polônia.
Zelenski agradeceu a Trump por seu trabalho. "A Ucrânia está pronta para a paz", disse ele.
Trump e Putin marcaram nova conversa
Trump disse que daria sequência à reunião com outra ligação para Putin. No início do domingo, o assessor de relações exteriores de Putin, Yuri Ushakov, disse que a ligação entre Trump e Putin foi iniciada pelo lado americano e foi "amigável, benevolente e profissional". Ushakov disse que Trump e Putin concordaram em conversar novamente "em breve" após a reunião de Trump com Zelenski.
Mas Ushakov acrescentou que "é necessária uma decisão política ousada e responsável de Kiev" sobre a região de Donbas, no leste da Ucrânia, e outros assuntos em disputa para que haja uma "cessação completa" das hostilidades.
Ambos os líderes identificaram a decisão sobre o futuro da região de Donbas como um grande ponto de discórdia.
Trump disse que as partes estavam se aproximando de um acordo. "É uma questão muito difícil, mas acho que será resolvida", disse ele.
Zelenski disse: "Nossa postura é muito clara. É por isso que o presidente Trump disse que esta é uma questão muito difícil e, é claro, temos posições diferentes da Rússia sobre ela".
A reunião entre Trump e Zelenski ressaltou o aparente progresso feito pelos principais negociadores de Trump nas últimas semanas, enquanto as partes trocavam rascunhos de planos de paz para acabar com os combates.
Zelenski disse aos repórteres na sexta-feira que a proposta preliminar de 20 pontos discutida pelos negociadores está "cerca de 90% pronta" - ecoando um número e o otimismo que as autoridades americanas transmitiram quando os principais negociadores de Trump se reuniram com Zelenski em Berlim este mês.
Semanas 'intensas' pela frente, diz Zelenski
Zelenski conversou no dia de Natal com o enviado especial dos EUA, Steve Witkoff, e Jared Kushner, genro de Trump. O líder ucraniano disse que eles discutiram "certos detalhes substanciais" e alertou que "ainda há trabalho a ser feito em questões delicadas" e que "as próximas semanas também podem ser intensas".
O presidente dos EUA tem trabalhado para acabar com a guerra na Ucrânia durante grande parte de seu primeiro ano de mandato. Trump demonstrou irritação com Zelenski e Putin, ao mesmo tempo em que reconheceu publicamente a dificuldade de acabar com o conflito.
Já se foram os dias em que, como candidato em 2024, ele se gabava de poder resolver o conflito em um dia. De fato, neste domingo, 28, Trump se referiu várias vezes à complexidade das negociações.
Depois de receber Zelenski na Casa Branca em outubro, Trump exigiu que tanto a Rússia quanto a Ucrânia cessassem os combates e "parassem na linha de batalha", dando a entender que Moscou deveria poder manter o território que tomou da Ucrânia.
Zelenski disse na semana passada que estaria disposto a retirar as tropas do coração industrial do leste da Ucrânia como parte de um plano para acabar com a guerra, se a Rússia também se retirasse e a área se tornasse uma zona desmilitarizada monitorada por forças internacionais.
Putin quer manter os ganhos russos e mais
Putin disse publicamente que quer que todas as áreas em quatro regiões-chave que foram capturadas pelas forças russas, bem como a Península da Crimeia, anexada ilegalmente em 2014, sejam reconhecidas como território da Rússia. Ele também insistiu que a Ucrânia se retire de algumas áreas no leste da Ucrânia que as forças de Moscou não capturaram. Kiev rejeitou publicamente todas essas exigências.
O Kremlin também quer que a Ucrânia abandone sua tentativa de aderir à Otan. Ele alertou que não aceitaria o envio de tropas de membros da aliança militar e as consideraria um "alvo legítimo".
Putin disse que a Ucrânia deve limitar o tamanho de seu exército e dar status oficial à língua russa, exigências que ele faz desde o início do conflito.
Ushakov disse ao jornal diário Kommersant este mês que a polícia russa e a guarda nacional permaneceriam em partes de Donetsk - uma das duas principais áreas, junto com Luhansk, que compõem a região de Donbas - mesmo que esses locais se tornassem uma zona desmilitarizada sob um possível plano de paz.
Ushakov alertou que tentar chegar a um acordo pode levar muito tempo. Ele disse que as propostas dos EUA que levavam em conta as exigências russas foram "pioradas" pelas alterações propostas pela Ucrânia e seus aliados europeus.
Trump tem se mostrado um tanto receptivo às exigências de Putin, argumentando que o presidente russo pode ser persuadido a encerrar a guerra se Kiev concordar em ceder terras ucranianas na região de Donbas e se as potências ocidentais oferecerem incentivos econômicos para trazer a Rússia de volta à economia global. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)