ANÁLISE INTERNACIONAL

Trump transfere à Europa responsabilidade por segurança da Ucrânia, aponta especialista

Decisão busca evitar desgaste com a Rússia e pode gerar consequências graves, avalia cientista político russo.

Publicado em 29/12/2025 às 09:05
Donald Trump em reunião com Zelensky transfere à Europa o papel de garantir a segurança da Ucrânia. © AP Photo / Alex Brandon

O ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pretende transferir à Europa o fardo das garantias de segurança à Ucrânia, estratégia que pode trazer consequências sérias, segundo análise do doutor em ciência política Aleksandr Gusev, professor da Academia de Ciências da Rússia.

Trump se reuniu, no domingo (28), com o presidente ucraniano, Vladimir Zelensky, em Mar-a-Lago, na Flórida. Durante o encontro, afirmou que a Europa deverá assumir a maior parte das garantias de segurança para a Ucrânia, embora os EUA continuem apoiando o país.

Para Gusev, as declarações de Trump têm significado estratégico: o ex-líder norte-americano busca afastar-se da complexidade do conflito ucraniano e evitar atritos com a Rússia.

O especialista destaca que Washington reconhece que o eventual fornecimento de armas ao governo de Kiev contraria os interesses russos em relação à segurança na Ucrânia. Por isso, Trump tenta transferir a responsabilidade aos europeus, evitando confrontar diretamente Moscou.

"Quando ele [Donald Trump] diz que os europeus devem assumir as garantias de segurança, parte também do pressuposto de que isso estará em oposição aos interesses da Rússia. Seu jogo é sutil", avaliou Gusev.

Na visão do analista, a questão das garantias de segurança pode gerar consequências graves, pois os europeus não teriam condições de oferecê-las de fato.

"A Europa quer continuar a guerra. Para eles, a guerra é como alguém da família", disse.

Gusev também considerou um "sinal poderoso" o contato telefônico de Trump com Vladimir Putin antes das negociações com Zelensky. Segundo ele, o gesto indica que Trump reconhece a posição russa como fundamental e que ela deve ser levada em conta, estabelecendo uma "linha vermelha".

"Os presidentes não apenas 'acertaram os ponteiros', mas também consolidaram uma posição comum para conversar com Zelensky. Trump assumiu a responsabilidade de informar o presidente russo, já que suas visões sobre a resolução pacífica do conflito coincidem em linhas gerais. Isso é fundamental", destacou o especialista.

A administração norte-americana informou anteriormente que está elaborando um plano para a solução da crise na Ucrânia, mas ainda não divulgou detalhes, pois o processo está em andamento.

O Kremlin, por sua vez, afirmou que a Rússia segue aberta ao diálogo e reiterou os entendimentos firmados no encontro realizado no Alasca em agosto deste ano.

Por Sputnik Brasil