Japão aprova orçamento recorde de 122,3 trilhões de ienes e reacende debate fiscal
Governo japonês amplia gastos para estimular economia, mas aumento da dívida e inflação elevam preocupações sobre sustentabilidade fiscal.
O governo do Japão aprovou um orçamento inicial recorde para o próximo ano fiscal, reforçando a estratégia de estímulo à economia em um contexto de inflação ainda acima da meta e expectativas de aperto monetário adicional. O plano, aprovado pelo gabinete japonês, prevê gastos de 122,3 trilhões de ienes (US$ 782 bilhões) no exercício que termina em março de 2027, superando os 115,2 trilhões de ienes (US$ 736,5 bilhões) do orçamento inicial anterior. A proposta ainda depende de aprovação do Parlamento.
O pacote reflete o compromisso da primeira-ministra Sanae Takaichi com uma política fiscal "responsável e proativa", mas tem gerado preocupações sobre o equilíbrio das contas públicas. O orçamento inclui 8,8 trilhões de ienes (US$ 56,2 bilhões) destinados à defesa e ao aumento das despesas com juros, diante de rendimentos mais altos dos títulos soberanos.
Os custos com o serviço da dívida, que abrangem juros e resgates, devem alcançar 31,3 trilhões de ienes (US$ 200 bilhões) no próximo ano fiscal, ante 28,2 trilhões de ienes no exercício de 2025. Para esse cálculo, o governo elevou a taxa de juros considerada para 3%, acima dos 2% usados anteriormente. O ajuste acompanha a recente alta dos rendimentos dos JGBs, impulsionada pelo debate fiscal e pela normalização monetária do Banco do Japão (BoJ).
Apesar das críticas, a equipe econômica defende que o aumento dos gastos "não é imprudente". A ministra das Finanças, Satsuki Katayama, destacou que indicadores como a dependência de títulos públicos apontam para a sustentabilidade fiscal. A taxa de dependência de bônus deve cair para 24,2%, frente aos 24,9% do orçamento inicial deste ano. A emissão de novos títulos está prevista em 29,6 trilhões de ienes (US$ 189,2 bilhões), um leve aumento em relação ao plano anterior, mas abaixo de 30 trilhões de ienes (US$ 191,7 bilhões) pelo segundo ano consecutivo.
No campo monetário, dados recentes indicaram desaceleração da inflação ao consumidor em Tóquio, embora ainda acima da meta. O núcleo do índice, que exclui alimentos frescos, subiu 2,3% em dezembro, abaixo de novembro e das expectativas do mercado.
De acordo com o Japan Times, a leitura da inflação na capital japonesa — considerada um termômetro para a tendência nacional — provocou enfraquecimento do iene, ao reduzir as expectativas de aumento de juros pelo BoJ.
*Com informações da Dow Jones Newswires