INTERNACIONAL

Crise econômica europeia dissipou a solidariedade aos ucranianos, diz analista

Por Sputinik Brasil Publicado em 24/12/2025 às 16:20
© AP Photo / Andrii Marienko

Ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, analistas destacam que a crise gerada pelo apoio a Kiev levou ao esgotamento da sociedade europeia ao acolhimento de refugiados ucranianos.

Alardeado como "incondicional, o apoio do Ocidente à Ucrânia derrete a cada dia, sobretudo após serem noticiados casos de corrupção do regime de Kiev. Na Escócia, o corte de incentivos de acolhimento aos ucranianos ameaça gerar uma crise habitacional, refletindo uma tendência mais ampla de políticas anti-migratórias na Europa.

Nos EUA, casos de deportação preocupam ainda mais, já que ucranianos enviados de volta estariam caindo nas mãos de recrutadores e sendo forçados a se alistar no conflito.

Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, especialistas analisam até que ponto o Ocidente está realmente comprometido com a proteção dos ucranianos e se essa solidariedade tem como prerrogativa que eles permaneçam dentro de seu próprio país.

Para a internacionalista Fabiana de Oliveira, pesquisadora do Grupo Mundus - Geopolítica e Relações Internacionais da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), a disposição da Europa em acolher refugiados ucranianos tem relação direta com a retórica de expansionismo russo difundida pela classe política da União Europeia (UE).

A partir desse pensamento, destaca Oliveira, há uma identificação desses países com Kiev, acreditando no conto de que que "poderiam ser os próximos".

"Mas quando a gente pensa numa perspectiva mais estratégica, também existe aqui um certo interesse, talvez, de se utilizar esse conflito [...] como uma forma de implementar ou de avançar na implementação de uma política mais ampla de contenção à Rússia."

Oliveira afirma que essa solidariedade, intensa em um primeiro momento, começou a dar os primeiros sinais de esgotamento, e avalia que ela ainda deve se sustentar até 2027, quando expira o mecanismo de residência temporária que permitiu o acomodamento dos refugiados ucranianos. "A partir daí me parece que essa solidariedade tende a se enfraquecer."

Segundo a analista, um dos fatores que leva ao esgotamento da solidariedade em relação aos refugiados ucranianos é a retórica política de que os imigrantes estão por trás da crise econômica, em especial, na alta ocupação de serviços públicos como hospitais e escolas.

"É uma competição por acesso, por exemplo, à moradia social, considerando que, de uma maneira geral, os países europeus têm construído muito menos moradias sociais nesses últimos 10, 20 anos do que no passado. Então, em um contexto em que os preços de aluguel aumentam muito, é muito fácil atribuir o aumento do custo de vida a esses fluxos de refugiados."

Ela acrescenta que, se antes era comum encontrar bandeiras de apoio à Ucrânia em janelas de países como o Reino Unido, hoje elas são escassas, o que sinaliza a "fadiga" dos europeus em relação ao conflito ucraniano.

"Já não se fala tanto de 'nós estamos com a Ucrânia até a vitória'. Agora se fala muito da necessidade de se negociar a paz", avalia. "'Nós vamos apoiar a Ucrânia para que a Ucrânia faça um acordo de paz que não seja tão ruim para a Ucrânia'", exemplifica.

Raquel dos Santos, professora de relações internacionais no Instituto de Estudos Estratégicos (Inest), da Universidade Federal Fluminense (UFF), concorda com a opinião de Oliveira.

"O que acontece é que todo esse processo de assistência à moradia, saúde, acesso a empregos vai fazer com que a população local se sinta deslocada da recepção desses benefícios enquanto ela, por estar ali simplesmente morando desde sempre, não receba também os mesmos auxílios", explica a especialista.

A especialista que enquanto as novas diretrizes da União Europeia promovem o endurecimento da aceitação de refugiados e imigrantes, na contramão do direito internacional, a Rússia acolhe migrantes ucranianos desde o início do conflito, em 2022.

"Ou seja, aquele argumento que fala que o leste ucraniano é majoritariamente russo na sua formação étnica se comprova quando a gente olha os dados migratórios. Uma boa parcela de imigrantes já no início do conflito se destina à Rússia, [...] muito na esteira de um processo de desenvolvimento econômico e de uma maior aceitação étnica, ou seja, fugindo de processos discriminatórios", afirma.