ASTRONOMIA

Superkilonova inédita pode revelar explosão dupla rara e desafiar modelos estelares

Evento observado a 1,3 bilhão de anos-luz pode ser o primeiro registro de uma superkilonova, fenômeno que desafia teorias sobre a evolução das estrelas.

Publicado em 24/12/2025 às 11:04
Representação artística de uma superkilonova: explosão dupla desafia modelos de evolução estelar. © Foto / Caltech/K. Miller and R. Hurt (IPAC)

A possível detecção de uma superkilonova, uma explosão dupla raríssima envolvendo supernova seguida pela fusão de estrelas de nêutrons, pode ter sido registrada pela primeira vez. A descoberta foi guiada por ondas gravitacionais, que conduziram astrônomos até um enigmático clarão a 1,3 bilhão de anos-luz da Terra.

Uma equipe liderada pelo Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech) identificou o que pode ser a primeira superkilonova já observada, um evento extremamente raro em que uma estrela explode duas vezes: primeiro como supernova e, em seguida, como kilonova. A investigação começou após a detecção de uma onda gravitacional no início do ano, sugerindo a sequência de uma supernova seguida pela fusão de estrelas de nêutrons.

Supernovas são causadas pelo colapso explosivo de estrelas massivas e de rotação rápida, geralmente deixando uma estrela de nêutrons como remanescente. Já as kilonovas ocorrem quando duas estrelas de nêutrons colidem de forma violenta, produzindo ondas gravitacionais que reverberam pelo espaço-tempo. Foi esse tipo de sinal que a colaboração LIGO-Virgo-KAGRA detectou em 18 de agosto de 2025, levando os astrônomos a localizar rapidamente um objeto transitório a 1,3 bilhão de anos-luz.

O fenômeno, batizado de AT2025ulz, apresentou características similares à histórica kilonova GW170817, observada em 2017, incluindo um brilho vermelho associado à formação de elementos pesados, como o ouro. Após o desaparecimento desse brilho, o objeto voltou a emitir luz, desta vez com hidrogênio em seu espectro — um traço típico de supernovas, mas não de kilonovas. Essa combinação inesperada levantou a hipótese de que ambos os fenômenos ocorreram em sequência.

Pesquisadores já haviam sugerido que, em situações raras, uma supernova poderia ejetar duas estrelas de nêutrons. Se essas estrelas colidissem quase imediatamente, uma kilonova surgiria logo após a explosão inicial. No caso da AT2025ulz, porém, a fusão teria ocorrido dentro da própria estrela em explosão, ocultando parte do sinal sob a massa ejetada, segundo o astrônomo Brian Metzger.

Outro aspecto surpreendente é que um dos objetos envolvidos na fusão aparentava ter massa inferior à de uma estrela de nêutrons típica, desafiando os modelos atuais de evolução estelar. A formação de estrelas de nêutrons subestelares nunca foi observada e permanece difícil de explicar. As teorias mais recentes consideram duas possibilidades: a fissão de uma estrela massiva em rotação extrema ou a fragmentação de um disco de gás formado após o colapso estelar.

No cenário da fragmentação, uma estrela com pelo menos 20 massas solares colapsaria em um disco giratório, que, em poucos segundos, se dividiria em múltiplos aglomerados. Cada um desses aglomerados colapsaria rapidamente em estrelas de nêutrons de baixa massa, num processo análogo à formação de planetas em discos ao redor de protoestrelas, segundo Metzger.

Embora ainda inconclusivo, o caso da AT2025ulz reforça como o Universo continua a surpreender e a esconder fenômenos complexos por trás de sinais ambíguos. A equipe ressalta que mais observações serão necessárias para confirmar a existência das superkilonovas e que futuras kilonovas podem se disfarçar como supernovas, dificultando sua identificação.

Por Sputnik Brasil