Alinhamento do Triângulo do Lítio aos EUA reacende debate sobre novo colonialismo verde
Especialistas alertam para riscos de dependência tecnológica e perda de autonomia de Argentina, Bolívia e Chile diante da crescente demanda global por lítio.
Análise: O alinhamento do Triângulo do Lítio aos Estados Unidos traz uma versão 'verde' do velho pacto colonial. A vitória de José Antonio Kast nas eleições presidenciais do Chile consolidou a aproximação dos três países que compõem o chamado Triângulo do Lítio — Argentina, Bolívia e Chile — com os EUA. Juntos, eles detêm 50% das reservas globais do mineral, que ganhou destaque devido ao aumento da demanda, principalmente para baterias de veículos elétricos, sendo apelidado de "ouro branco" ou "petróleo branco".
A advogada Luciana Bauer alerta, em entrevista à Sputnik Brasil, que a corrida por minerais pode fortalecer um "colonialismo por cadeias de valor", no qual o Sul fornece matéria-prima e o Norte concentra tecnologia e lucros. Isso expõe Argentina, Bolívia e Chile à perda de autonomia e a uma "reprimarização 2.0". "Vender salmoura, concentrado, e importar cátodo, bateria, carro. Isso captura pouco valor e cristaliza dependência tecnológica. A versão 'verde' do velho pacto colonial", explica Bauer.
Ela também destaca a vulnerabilidade hídrica e a securitização dos territórios como riscos centrais. Segundo Bauer, a atual disputa geopolítica pode acelerar projetos sem governança adequada da água nem consulta às comunidades, gerando instabilidade. Além disso, a valorização dos minerais como ativos estratégicos pode resultar na militarização de fronteiras.