Planos dos EUA para supernavios enfrentam custos altos e atrasos
Projeto de nova frota de navios de guerra dos EUA esbarra em falta de recursos, atrasos industriais e críticas à estratégia adotada.
Promessas de uma frota "100 vezes mais poderosa" enfrentam obstáculos financeiros, atrasos industriais e questionamentos estratégicos, enquanto especialistas apontam contradições com a doutrina naval dos EUA.
O governo Trump apresentou uma visão ambiciosa para o futuro da Marinha dos Estados Unidos: uma nova classe de navios de guerra de superfície equipados com mísseis de cruzeiro com ogivas nucleares, armas hipersônicas, lasers e canhões eletromagnéticos, além de uma nova geração de porta-aviões. A proposta previa pelo menos 25 embarcações maiores e mais potentes do que qualquer destróier existente.
Segundo o então presidente Donald Trump, esses navios seriam "os mais rápidos, os maiores e 100 vezes mais poderosos" já construídos, marcando o retorno de um tipo de plataforma abandonada pela Marinha em 1944. Na época, o abandono ocorreu por razões ainda pertinentes: alto custo, complexidade técnica e utilidade questionável no contexto de guerra atual.
Atualmente, o projeto da chamada "Frota Dourada" enfrenta entraves básicos. Não há recursos reservados no orçamento do Pentágono, e fontes internas indicam que sequer existem planos de engenharia finalizados. Especialistas lembram que projetar e construir uma nova classe de navios fortemente armados pode levar até uma década.
O cronograma sugerido, de cerca de dois anos e meio, é considerado irrealista até mesmo para reformas modestas, muito distante do tempo necessário para construir um encouraçado com capacidade nuclear. O cenário se agrava diante dos atrasos acumulados nos estaleiros norte-americanos, onde quase todos os navios em construção apresentam atrasos superiores a um ano.
Além disso, operar uma frota composta por embarcações únicas e altamente complexas implicaria custos permanentes com treinamento, peças de reposição e logística durante décadas. A indústria naval dos EUA enfrenta ainda desafios estruturais, como falta crônica de mão de obra qualificada, infraestrutura envelhecida e gargalos na cadeia de suprimentos.
Ex-oficiais da Marinha alertam que manter um programa desse porte pode comprometer investimentos em outras áreas essenciais, desde a manutenção da frota atual até o desenvolvimento de aeronaves de próxima geração, a menos que navios mais antigos sejam aposentados antes do previsto.
Observadores internacionais ressaltam que a proposta vai na contramão da estratégia naval recente, que prioriza sistemas menores, não tripulados e distribuídos, considerados mais adequados para conflitos modernos do que grandes embarcações tripuladas.