SEGURANÇA FINANCEIRA

PF firma parceria com BNDES e Febraban para enfrentar crime organizado na Faria Lima

Acordo de cooperação visa combater lavagem de dinheiro e fortalecer mecanismos de controle no sistema financeiro brasileiro.

Publicado em 22/12/2025 às 20:39
Marcelo Camargo/Agência Brasil

O avanço do crime organizado sobre o sistema financeiro, por meio de fintechs controladas por facções e sofisticados esquemas de lavagem de dinheiro, levou a Polícia Federal a firmar um acordo de cooperação com o BNDES e a Febraban nesta segunda-feira, 22. O pacto, com duração de sessenta meses, prevê ações estratégicas conjuntas para sufocar a atuação do crime organizado e evitar a repetição de esquemas como o do PCC na Faria Lima, desmantelado pela Operação Carbono Oculto em agosto passado.

"Antigamente, para assaltar um banco, utilizavam dinamite, metralhadoras e carros. Hoje, com um laptop e, às vezes, intimidando ou corrompendo servidores, realizam operações de grande vulto, transferindo centenas de milhares de reais para o crime organizado", afirmou o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante.

A cerimônia de assinatura do acordo, realizada na sede da Polícia Federal em São Paulo, reuniu Mercadante, o diretor-geral da PF, delegado Andrei Rodrigues, e o presidente da Febraban, Isaac Sidney. Participaram também Alexandre Abreu (áreas Financeira e de Mercado de Capitais) e Luiz Navarro (Risco e Compliance), ambos do BNDES, além do presidente do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), delegado Ricardo Saadi.

"Se o crime mudou, não podemos ficar parados no tempo e pensar em combater essas novas modalidades de delinquência com práticas do passado", destacou Andrei Rodrigues. "Agora que temos um brasileiro à frente da Interpol, esperamos em 2026 fechar um acordo para trazer a organização internacional para a nossa parceria."

Isaac Sidney, presidente da Febraban, reforçou a necessidade da colaboração: "Aqueles que não querem se somar para combater o crime no sistema financeiro precisam ser banidos. Ou pedem para sair, ou precisam ser retirados pelo devido processo legal". Sidney alertou ainda que "o crime organizado infelizmente já se infiltrou nos tecidos da economia".

Operação Carbono Oculto

Deflagrada em agosto passado, a Operação Carbono Oculto revelou a sofisticação do PCC na lavagem de dinheiro, sendo mencionada por Sidney durante a assinatura do acordo. "Após a operação, a Febraban iniciou um processo de autorregulação para que as instituições financeiras adotassem controles mais rígidos de integridade", explicou.

O inquérito da Carbono Oculto aponta que a facção assumiu o controle de refinarias, distribuidoras, mais de 1,2 mil postos e até de um terminal portuário, adulterando combustíveis em vários estados. O Ministério Público de São Paulo acredita que a facção ingressou no mercado financeiro para escoar bilhões, utilizando uma fintech que funcionava como "banco paralelo do crime organizado".

Para Sidney, "é impossível eliminar o crime", mas o setor bancário deve "zelar por solidez e resiliência diante das investidas criminosas".

Enfrentamento sem glamourizar o crime

Questionado sobre a ligação dos ataques ao sistema financeiro com o PCC, Andrei Rodrigues afirmou que evita citar nomes de facções para não glamourizar o crime. "Independentemente da nomenclatura, é preciso enfrentá-los com rigor, integração, cooperação, investimento e tecnologia", ressaltou.

Observatório do crime financeiro

Mercadante destacou que o acordo visa criar um "observatório do impacto do crime financeiro", fundamental para monitorar, diagnosticar e quantificar os danos ao desenvolvimento do Brasil. Segundo ele, a proliferação de fintechs preocupa o BNDES. "O Banco Central já tomou medidas em relação às contas balcão, mas sugiro um prazo de seis meses para que todas as fintechs se regularizem. Não regularizou? Fecha", defendeu.