Intervenção militar dos EUA na Venezuela provocaria uma 'catástrofe' na América do Sul, alerta Lula
Declaração ocorreu durante a Cúpula do Mercosul, realizada neste sábado (20) em Foz do Iguaçu, no Paraná. Na ocasião, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também comentou sobre o adiamento da assinatura do acordo entre o bloco e a União Europeia.
Em meio ao aumento das tensões na América do Sul e ameaças cada vez mais concretas de uma intervenção militar dos Estados Unidos na Venezuela, o presidente Lula voltou a alertar sobre os riscos da medida para todo o continente. Segundo Lula, a ação militar de Washington ainda representa "um precedente perigoso para o mundo".
"Passadas mais de quatro décadas desde a Guerra das Malvinas, o continente sul-americano volta a ser assombrado pela presença militar de uma potência extrarregional. Os limites do direito internacional estão sendo testados. Uma intervenção armada na Venezuela seria uma catástrofe humanitária para o hemisfério e um precedente perigoso para o mundo", afirmou Lula durante a cúpula.
Na última sexta-feira (19), o presidente norte-americano Donald Trump voltou a subir o tom e não descartou a possibilidade de iniciar um confronto militar com Caracas. Também nesta semana, Trump autorizou o início da apreensão de petroleiros venezuelanos sob a justificativa de que o país sul-americano retirou "direitos energéticos" dos Estados Unidos de explorarem petróleo na região.
Lula pretende ainda voltar a conversar com Trump antes do Natal para evitar o início do conflito no país vizinho. "Não queremos guerra no nosso continente. Todo dia tem uma ameaça no jornal e nós estamos preocupados", declarou na última quinta (18).
Acordo entre União Europeia e Mercosul: novo adiamento
Depois de prometer que, caso o acordo de livre comércio entre União Europeia (UE) e Mercosul não fosse assinado neste fim de semana, o Brasil deixaria de apoiar o tema, o presidente Lula voltou atrás no discurso durante a cúpula e garantiu que o documento entrará em vigor em janeiro. Segundo Lula, a medida vai ocorrer mesmo com a oposição da França, que pede mais garantias e proteção sobre os produtores agrícolas locais.
"Recebi ontem dos presidentes da Comissão Europeia [Ursula von der Leyen] e do Conselho Europeu [António Costa] carta em que ambos manifestam expectativa de ver o acordo aprovado em janeiro", disse.
O acordo é negociado há 26 anos e envolve um mercado consumidor de 722 milhões de habitantes. Lula pontuou que o novo adiamento da assinatura ocorreu por questões internas da Itália na distribuição de recursos europeus para a agricultura do bloco, e não por oposição ao texto.
"Eu tive uma conversa por telefone com ela [Giorgia Meloni]. Ela disse textualmente que no começo de janeiro ela estará pronta para assinar. Se ela estiver pronta para assinar e faltar só a França, segundo a Ursula von der Leyen e o Antonio Costa, não haverá possibilidade de a França, sozinha, não permitir o acordo. O acordo será firmado e eu espero que seja assinado, quem sabe, no primeiro mês da presidência do Paraguai, pelo companheiro Santiago Peña [presidente do Paraguai]", justificou.
Cooperação contra o crime organizado
Uma das principais pautas em discussão nos países-membro do Mercosul, o combate ao crime organizado também foi citado no discurso de Lula. Para o presidente brasileiro, há necessidade de maior cooperação entre o bloco, independentemente do "perfil político dos governos" de cada um.
"A segurança pública é um direito do cidadão e um dever do Estado, independentemente de ideologia. O Mercosul demonstrou disposição de enfrentar as redes criminosas de forma conjunta. Há mais de uma década, criamos uma instância de autoridades especializadas em políticas contra as drogas. Neste semestre, assinamos um acordo contra o tráfico de pessoas. Criamos uma comissão para implementar uma estratégia comum contra o crime organizado transnacional", exemplificou.
Durante a cúpula, o Brasil passa a presidência temporária do grupo para o Paraguai. Além dos dois países, o Mercosul é formado por Argentina, Bolívia e Uruguai.
Por Sputinik Brasil