JUROS

Em sessão volátil, taxas reduzem ritmo de alta de olho em BC e quadro eleitoral

Publicado em 18/12/2025 às 18:57
Reprodução / Agência Brasil

Se, na primeira etapa do pregão, o reforço do tom conservador do Banco Central no Relatório de Política Monetária (RPM) e o pessimismo sobre as eleições presidenciais provocaram abertura generalizada dos juros futuros negociados na B3, no início da tarde desta quinta-feira, 18, os ânimos se acalmaram, ainda que de forma comedida.

Em sessão volátil, as taxas curtas passaram a rondar os ajustes anteriores e os vértices longos e intermediários reduziram o ritmo de elevação por volta das 13h. O movimento ocorreu após declarações do presidente do BC, Gabriel Galípolo, lidas como mais 'dovish' do que o RPM.

No campo político, entrevista ao Valor Econômico concedida pelo presidente nacional do PP e um dos líderes do Centrão, o senador Ciro Nogueira (PI), indicou que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ainda está no páreo como possível presidenciável da direita em 2026.

Também aliviou a dinâmica da curva local o ambiente externo, com redução dos rendimentos dos Treasuries em reação ao CPI de novembro, que renovou expectativas de continuidade de cortes dos juro básico americano em 2026. O dado subiu 0,2% ao fim de novembro, ante setembro, e 2,7% no comparativo anual. Ambos ficaram abaixo da mediana do Projeções Broadcast, de 0,3% e 3,1%, respectivamente.

"A inflação abaixo do esperado em novembro deu aos membros mais moderados do Federal Reserve um forte argumento a favor de um corte nas taxas em janeiro. Trata-se apenas dos dados de um mês, e não se pode descartar distorções, mas a queda acentuada na inflação anual deixa o Fed com poucos argumentos para não responder ao aumento do desemprego", afirmou Seema Shah, estrategista-chefe global da Principal Asset Management.

Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 passou de 13,826% no ajuste anterior para 13,860%. O DI para janeiro de 2029, que chegou a operar em máxima intradia de 13,510%, oscilou de 13,33% no ajuste a 13,34%. O DI para janeiro de 2031 marcou 13,635%, vindo de 13,631% no ajuste.

Gestor de fundos multimercados da Azimut Brasil Wealth Management, Marcelo Bacelar avalia que os dados e o noticiário doméstico não trouxeram novidades - mostraram um Banco Central conservador, dependente de dados e piora no cenário político -, mas o índice inflacionário americano aquém do previsto ajudou a moderar a alta dos DIs.

Por aqui, publicado antes da abertura e considerado alinhado à última ata do Copom, o RPM observa que as expectativas inflacionárias caíram desde o último trimestre, mas seguem acima do centro da meta, de 3%. Nos prognósticos do BC, o IPCA acumulado em 12 meses só vai alcançar o alvo central no primeiro trimestre de 2028. A projeção para o segundo trimestre de 2027, atual horizonte relevante da política monetária, foi mantida em 3,2%.

Segundo participantes do mercado, a manutenção foi interpretada como um sinal hawkish, reforçando perspectivas de que a Selic não deve ser reduzida em janeiro. Ao comentar o documento, porém, o presidente do BC, Gabriel Galípolo, reafirmou que a autoridade monetária tem postura dependente dos dados e não dá sinalizações à frente, mas declarou que não há "portas fechadas" sobre as próximas decisões do Copom.

"Galípolo foi dovish dizendo que a porta para janeiro está aberta - muito mais explicitamente do que nas comunicações escritas", disse um economista de uma grande tesouraria à Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado. A fala não chegou a mexer consideravelmente nas apostas do mercado para a trajetória da Selic, mas foi suficiente para reduzir a alta das taxas futuras, que passaram a rondar os ajustes após a coletiva do BC.

Cálculos de Flávio Serrano, economista-chefe do banco BMG, indicam que a curva apontava, por volta das 16h, 44% de chances de corte de 0,25 ponto da Selic em janeiro, 100% de probabilidade em março, e taxa terminal de 12,80% em 2026, praticamente sem mudanças em relação a quarta.

Já outro participante do mercado, também em condição de anonimato, avaliou que as falas do comandante do BC foram mais dovish do que o RPM, mas que a moderação do ritmo de alta dos juros futuros a partir do meio da tarde está mais relacionada ao ambiente eleitoral. Em entrevista ao Valor, o presidente da federação União Brasil-Progressistas, senador Ciro Nogueira (PI), descartou que a candidatura de Tarcísio à presidência esteja "sepultada".

Bacelar, da Azimut, não vê grande peso no fluxo de notícias desta quinta, mas afirma que a possibilidade de ficar aplicado em juros voltou a ser discutida, devido ao nível das taxas, que têm muito prêmio ainda para queimar. Atualmente, o gestor não tem nenhuma posição no mercado nominal de juros. "Antes eu achava que o nível era alto e o risco, ruim. Agora, voltamos a discutir o nível das taxas".

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