MERCADO FINANCEIRO

Taxas de juros longas atingem maior nível desde outubro em meio à incerteza eleitoral

A indefinição sobre os principais candidatos da oposição para 2026 e preocupações fiscais elevam os juros futuros no Brasil.

Publicado em 17/12/2025 às 18:41
Imagem ilustrativa gerada por inteligência artificial Nano Banana (Google Imagen)

O mercado financeiro reagiu nesta quarta-feira (17) à percepção de que o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) tende a ser o principal presidenciável da direita em 2026, enquanto a entrada do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), na disputa presidencial parece cada vez menos provável. Diante desse cenário, os juros futuros registraram forte alta no pregão.

As preocupações com o quadro fiscal aumentaram, pois um eventual novo governo Lula é visto pelo mercado como mais propenso a adotar uma política de gastos expansionista, enquanto Tarcísio seria associado a um possível ajuste nas contas públicas. Com isso, os vértices intermediários e longos da curva a termo operaram nos maiores patamares desde outubro.

A parte curta da curva também subiu, mas em menor intensidade, refletindo o tom conservador da última ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. A ausência de sinalização clara do comitê sobre o início de um ciclo de cortes nos juros reduziu as apostas em uma eventual baixa já em janeiro.

No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) avançou de 13,672% na terça-feira para 13,815%. O DI para janeiro de 2029 subiu de 13,099% para 13,330% — maior patamar desde 14 de outubro. Já o DI para janeiro de 2031 atingiu 13,635%, também o maior nível desde outubro, ante 13,386% no ajuste anterior. Apesar de a curva dos Treasuries ter aberto levemente no exterior, o cenário internacional ficou em segundo plano diante do estresse político local.

Uma pesquisa Genial/Quaest divulgada na terça-feira mostrou que Flávio Bolsonaro tem vantagem sobre Tarcísio entre eleitores de oposição ao presidente Lula. No final da tarde, o senador afirmou ter se reunido com empresários na Faria Lima para demonstrar a viabilidade de sua candidatura e "acalmar animosidades" em relação a Tarcísio. Na noite anterior, reiterou que sua candidatura é "irreversível".

Sem fatos concretos, mas diante das sinalizações políticas, investidores demonstram pessimismo com a resistência de Flávio em desistir da candidatura e com a perda de força de Tarcísio, o que elevou os prêmios de risco nas taxas futuras. O governador paulista é visto como o nome de maior competitividade contra Lula e o mais propenso a equilibrar a política fiscal em 2027.

A economista-chefe da CM Capital Markets, Carla Argenta, destacou que o mercado está cada vez mais atento às eleições de 2026. Segundo ela, não apenas a pesquisa divulgada, mas um conjunto de fatores tem levado investidores a considerar que Tarcísio não será o candidato da oposição. "É o fator que impulsionou a parte longa da curva, com o mercado enxergando maior probabilidade de um governo Lula 4. São movimentos políticos pressionando os juros", afirmou.

Argenta ressaltou ainda que o próprio governador paulista nunca anunciou oficialmente sua candidatura à presidência. Ela acredita que o impasse político reforça a expectativa de que a Selic não será reduzida na primeira reunião do Copom em 2026, mas apenas em março. "Vamos avaliar se o Relatório de Política Monetária (RPM) trará alguma mudança nas expectativas do Banco Central, mas não parece que haverá corte em janeiro", comentou.

Em revisão de cenário divulgada nesta quarta, o PicPay reduziu sua projeção para a Selic ao final de 2026, de 12,5% para 12%, mas também descarta cortes em janeiro. Segundo a instituição, o início do ciclo de flexibilização deve ocorrer em março, condicionado à consolidação da desaceleração da atividade econômica, continuidade da queda dos núcleos de inflação e ausência de novos choques adversos.