PESQUISA

Repelente natural desenvolvido na Ufal protege sem causar efeito colateral

Patente e registro da propriedade intelectual, resultados da pesquisa de 20 anos, estão sendo viabiliza-dos nos Estados Unidos

Publicado em 21/04/2025 às 10:32
Professor Cícero Eduardo Ramalho, coordena o Laboratório de Genética da Ufal e conduziu a pesquisa

Prevenção é a palavra-chave para combater o animal que mais mata no planeta, o mosquito. Aedes aegypti, Aedes albopictus, Anopheles e o Culex são os principais transmissores das arboviroses dengue, zika, chikungunya e febre oropouche. Pensando nisso, ao longo de 20 anos de pesquisa, a Universidade Federal de Alagoas (Ufal) desenvolveu um repelente natural sem nenhum efeito colateral ou alergias, inclusive quando aplicado sobre a pele de crianças, a partir do nascimento. O Nooobites é o único repelente produzido por seleção de DNA vegetal, após o advento dos projetos genomas. A patente e o registro da propriedade intelectual estão sendo viabilizados nos Estados Unidos.

As pessoas que começaram a pesquisa já concluíram o curso. No entanto, vão participar da patente, que será internacional porque a pretensão é lançar o produto para o mundo. A equipe flutua muito. Atualmente, que o produto está pronto, apenas três pessoas trabalham desempenhando atividades relacionadas praticamente ao envase e à rotulação. O nome do repelente, Nooobites, vem do inglês e significa sem picadas. No entanto, há possibilidade de uma mudança na nomenclatura para um termo nacional. Sem dúvida, quando se tem um problema de saúde pública como as doenças, a partir das arboviroses, o mais importante é preservar vidas. Além de possibilitar essa condição, o produto é natural, não tem química, nem abrasivo, nem veneno, nem inseticida. Outro ponto positivo é o fato de o repelente natural ainda ser cheiroso, pois tem óleos essenciais de plantas. Para alguns, é considerado quase como um perfume.

Com a autoridade de quem dedica pelo menos duas décadas ao tema, o professor Cícero Eduardo Ramalho Neto, que coordena o Laboratório de Genética da Ufal e conduz a pesquisa, afirma existir no mundo 133 plantas que são repelentes de insetos. Desse total, 32 estão no Brasil. Para a pesquisa, a equipe escolheu quatro delas, mais uma planta de cicatrização e antisséptica, a fim de evitar a formação de feridas na pele. A junção é chamada pelo pesquisador de blend com uma fórmula inovadora e autossustentável.
A Ufal ganhou o prêmio de primeiro lugar nos projetos genoma do Brasil. O reconhecimento, registrado em uma placa enviada pelo CNPq e abrigada no laboratório do Campus de Engenharias e Ciências Agrárias (Ceca), credenciou a Ufal para ter acesso aos três principais bancos de dados internacionais públicos de sequência de nucleotídeos de DNA, depositado em diferentes grupos de pessoas no Brasil e no mundo: o NCBI, o EBI e o DDBJ.

As portas abertas para os bancos de dados levaram a pesquisa da federal de Alagoas a concluir a existência de 133 plantas, espécies vegetais conhecidas no planeta por produzirem metabólicos secundários referentes a insetos. “Extraímos óleos essenciais de plantas que a gente come. O inseto não gosta dos efeitos desses óleos essenciais, o que foi comprovado por experimentos científicos. Os repelentes de farmácia não têm comprovação científica nenhuma escrita e publicada. O nosso gerou um capítulo de livro que foi produzido pela editora Atena. O efeito final é uma sensação de alívio, de segurança e bem-estar duradouros, com agradáveis aromas do campo”, afirmou Ramalho.

A pesquisa foi totalmente concluída. A equipe saiu da pesquisa básica, passou pela parte inicial dos testes até chegar à pesquisa aplicada com a produção e a geração do produto de inovação tecnológica. “Talvez seja o primeiro produto do ramo, ou seja, de repelentes, como o primeiro produto mundial. Não ouvi falar de outro produto repelente que seja composto apenas de óleos essenciais de plantas. Então, a Ufal dispara na frente de todas as outras instituições de pesquisa como sendo a pioneira no desenvolvimento de um repelente desse nível de qualidade”, confirmou o pesquisador.

Mais vulneráveis

As crianças na fase escolar representam um dos grupos mais vulneráveis. Isso é fácil de explicar a partir da constatação da equipe envolvida na pesquisa. Meninos e meninas entram na escola pela manhã com centenas de mosquitos embaixo das carteiras. “Já vi a quantidade de mosquitos que saiu quando botei o repelente. O que saiu de mosquito para fora da sala foi um negócio impressionante”, alertou.

A equipe de pesquisa detecta sistematicamente crianças e adolescentes com pernas repletas de pústulas porque coçam o local e como a unha tem bactéria, penetra na ferida e forma a pústula. Ramalho afirma que a situação pode agravar após o recreio, pois, normalmente, as crianças suam e produzem o ácido lático, o que leva a aumentar, pelas narinas e pela própria pele, a exalação de maiores quantidades de dióxido de carbono, que são substâncias mais atraentes para os mosquitos.

Para muitos, o pensamento mais lógico é o extermínio dos mosquitos, ou seja, livrar-se de uma vez por todas. No entanto, a equipe de pesquisadores, do ponto de vista ecológico, é unânime em afirmar não ser necessário destruir os mosquitos. “A gente tem que manter os mosquitos vivos. Essa é a grande realidade, porque fazem parte de uma cadeia alimentar. Você não pode destruir esse animal, mas você pode se proteger dele. É possível manter esses insetos perigosos longe da nossa família, protegendo dessas doenças, principalmente, as arboviroses”, assegurou o pesquisador. A colocação tem como embasamento o fato de os mosquitos fazerem parte do ecossistema, servirem de alimento para outros pequenos animais como sapos, rãs, libélulas, peixes, lagartixas, entre outros.

Segundo o pesquisador, todos os repelentes das marcas conhecidas têm veneno. Já o Nooobites é eficaz, seguro para as pessoas e os animais, pois todos os princípios ativos são provenientes da natureza, ou seja, não têm produtos químicos. Com isso, não provoca danos aos humanos, aos animais, ao ambiente. Para Ramalho, o repelente natural, fruto da pesquisa da Ufal, é eficaz e eficiente. Na Universidade, como o produto não pode ser vendido, é feito um trabalho praticamente filantrópico. O interesse de pessoas físicas, farmácias e comércio de produtos naturais tem aumentado. Mesmo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) isentando de registro qualquer produto de origem vegetal, a equipe pensa em obter o registro para ficar completo, sendo um produto gerado pela Ufal.

O impacto social do produto pode ser imenso na saúde das pessoas e para o poder público, considerando que menos gente acometidas por arboviroses irá reduzir o número de atendimentos nas unidades públicas de saúde, o que vai gerar uma economia significativa para os cofres públicos. “O impacto social, do nosso ponto de vista, é erradicar essas arboviroses”, afirmou o professor Ramalho.

O pesquisador alerta que os cuidados precisam ser redobrados, pois o risco aumentou com a expansão da febre oropouche. Segundo ele, dados científicos apontam que a febre é mais dura do que todas as outras e pode causar microcefalia, matar o feto, e ainda causar a meningite. A transmissão do oropouche é feita, principalmente, pelo inseto conhecido como Culicoides paraensis (maruim). Depois de picar uma pessoa ou animal infectado, o vírus permanece no inseto por alguns dias. Quando o inseto atinge uma pessoa saudável, pode transmitir o vírus. O maruim é menor e mais difícil de ver, mas é igualmente nocivo.

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