Com trégua, Putin sinaliza a disposição da Rússia em desescalar o conflito, nota analista (VÍDEOS)

Em entrevista à Sputnik Brasil, analista aponta que a trégua de Páscoa anunciada por Moscou é como se Putin passasse "a bola" para Kiev, que agora vai ter de mostrar ao mundo se desja ou não a desescalada no conflito ucraniano.
O presidente russo, Vladimir Putin, anunciou neste sábado (19) uma trégua de Páscoa no conflito ucraniano, com prazo de 30 horas. Paralelo ao anúncio, o Ministério da Defesa da Rússia afirmou ter realizado uma troca de 246 prisioneiros de guerra, além de 31 ucranianos feridos por 15 russo feridos como um gesto de boa vontade.
À Spunik Brasil, o analista político Raphael Machado afirma que o gesto de Putin sinaliza a parceiros internacionais a disposição de Moscou para desescalar o conflito e chegar a uma posição negociada. Ele afirma que Vladimir Zelensky tem uma postura intransigente quanto à negociação de paz e "tende a colocar a culpa do conflito exclusivamente sobre as costas da Rússia". Agora, avalia o analista, "é como se a bola estivesse com a Ucrânia".
"Com esse gesto, você sinaliza para, por exemplo, os EUA, que a Rússia tem um interesse ou uma disposição para desescalar o conflito, para reduzir a intensidade do conflito, de modo que é como se passasse a bola para a Ucrânia, para que o mundo veja se ela vai ou não vai respeitar essa trégua, se ela vai corresponder a esse desejo de desescalada ou não", afirma.
Questionado se presidente estadunidense, Donald Trump, que recentemente ameaçou retirar os EUA da negociação, poderia se apropriar da trégua anunciada como uma vitória de Washington por meio de pressão, Machado afirma que não há como isso ocorrer, porque "tudo indica que a Ucrânia não vai respeitar o cessar-fogo", e que já há declarações de comandantes militares ucranianos dando a entender que as operações de Kiev seguem normalmente e que haverá ataques com mísseis nas próximas horas.
"Ainda que, evidentemente, caso tudo funcionasse, caso dê certo, caso a trégua seja respeitada pela Ucrânia, eu acredito que sim, seria bastante possível que o Trump se apropriasse, trouxesse ali como sendo uma vitória diplomática, porque é através desse tipo de apropriação ou de jogada que ele também aumenta a sua credibilidade dentro dos EUA, porque nós sabemos que o apoio dos EUA a esse conflito é um apoio bastante polêmico."
Ele acrescenta que a impressão é que os EUA estão buscando uma maneira de se retirarem do conflito, porque ele traz custos políticos e financeiros e foi, inclusive, em grande parte responsável pela derrocada de Joe Biden.
"Então, os EUA agora estão buscando algum tipo de saída e, nesse sentido, eu não diria que a trégua foi pensada, projetada em resposta ou em uma jogada com essas declarações dos EUA, mas, de um jeito ou de outro, elas vão servir também para legitimar qualquer possível futura retirada dos EUA no que concerne tanto o apoio à Ucrânia quanto a própria participação nas negociações", explica o analista.
Ele afirma ainda que a indisposição de Vladimir Zelensky em negociar a paz já é observada há tempos e pode estar relacionada ao fato de que o ucraniano acredita que sua carreira politica e benefícios obtidos através dela estão atrelados à continuação do conflito, além de casos de corrupção noticiados que envolvem desvios da ajuda ocidental "por membros da elite ucraniana, incluindo a família Zelensky, a família presidencial".
"Então, [a intransigência de Zelensky] pode ter uma motivação financeira no sentido de garantir a continuidade dessa ajuda, por conta de esquemas de corrupção que estão em andamento na Ucrânia, ou mesmo um medo de que, com o fim do conflito e potencialmente a sua substituição [na presidência ucraniana], Zelensky considere que, em um cenário pós-operação, ele possa acabar sendo preso, possa acabar sendo levado a algum tipo de tribunal internacional, ou talvez tendo que ser exilado da Ucrânia, pela perda daquelas prerrogativas de segurança de que um presidente costuma dispor."
Rodolfo Magayver, brasileiro, oficial das Forças Armadas da Rússia, afirma à Sputnik Brasil também ser cético quanto à disposçao de Kiev para a trégua.
"Eu fico com um pé atrás se tratando da Ucrânia. Eles não respeitaram os Acordos de Minsk", afirma.
Ele acrescenta que Zelensky, quando concorreu à presidência ucraniana após alcançar a fama como comediante em um seriado de televisão, venceu Petro Poroshenko com a promessa de que ia acabar com a guerra civil na Ucrânia, "algo que nunca aconteceu". O oficial afirma que Putin sempre buscou a paz, diferentemente de Zelensky.
"Zelensky, como sempre foi um comediante, ainda tentou fazer chacota diante de uma situação séria", afirma o oficial, em referência à postura de Zelensky sobre os referendos nas novas regiões russas.