Uma fala do presidente da Câmara de Vereadores de Palmeira dos Índios, Madson Monteiro, durante a 5ª sessão ordinária da Casa Legislativa, gerou forte repercussão e provocou indignação pública, especialmente entre lideranças indígenas e figuras do meio cultural. A declaração, segundo críticos, teria atribuído a responsabilidade pela falta de água na cidade à comunidade indígena da Fazenda Canto, sugerindo, sem apresentar provas, que haveria "desvios na rede que passa na área indígena".

O episódio ganhou ainda mais visibilidade após a publicação de um vídeo de protesto do ex-secretário de Cultura, Cássio Júnior, nas redes sociais. Com tom firme e indignado, ele classificou a fala como "criminosa, preconceituosa e desinformada", alertando para o perigo da criminalização dos povos indígenas e o uso político de narrativas discriminatórias.

“Então, o que eu poderia deixar de recado ao presidente da Câmara de Palmeira dos Índios e aos demais vereadores, é que antes de comentar qualquer coisa sobre a população indígena, conhecer a realidade, vir conhecer nossas comunidades, nossas aldeias, tenho certeza de que as lideranças que todos nós temos de braços abertos para encontrá-los e falar a nossa realidade”, disse Cássio Junior.

Reação da comunidade indígena

No vídeo, Cássio lembra que o problema da água não é culpa dos indígenas, mas sim da privatização do serviço público de abastecimento, feita com a concessão à empresa Águas do Sertão. Ele cita exemplos internacionais de países que reestatizaram o saneamento básico após experiências malsucedidas com a privatização.

“A França, o Reino Unido, os Estados Unidos já entenderam que a água não pode ser tratada como mercadoria. Aqui, além de privatizarem, agora tentam jogar a culpa da má gestão nas costas do povo indígena.”

O ex-secretário ainda destacou que a comunidade da Fazenda Canto é referência na agricultura familiar, com cinco famílias fornecendo alimentos para merenda escolar no município de Igaci. Ele critica o fato de essas mesmas famílias ainda não terem acesso ao Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) em Palmeira dos Índios, mesmo com a influência direta do presidente da Câmara na indicação da atual secretária municipal de Agricultura.

“Antes de reduzir o indígena a furtador de água, conheça a realidade da Fazenda Canto. É uma comunidade produtiva, organizada, e aberta ao diálogo. Não é no preconceito que se constrói um município melhor.”

Silêncio oficial

Até o momento, Madson Monteiro não se manifestou oficialmente sobre o caso, tampouco apresentou documentos ou relatórios técnicos que embasem sua declaração. A Águas do Sertão e a CASAL, citadas por ele como fonte da informação, também não divulgaram nota confirmando ou negando a acusação.

A repercussão do caso deverá se intensificar nos próximos dias, especialmente em meio aos debates sobre direitos indígenas, acesso à água, e a atuação das empresas concessionárias no sertão alagoano.