Militarização da IA do Google pode 'acelerar guerras-relâmpago', afirma especialista

A segunda maior gigante de tecnologia dos EUA, Google, atualizou seus princípios de uso de inteligência artificial (IA) e removeu uma cláusula que impedia a aplicação da tecnologia no desenvolvimento de armas.
A mudança pode levar a uma maior participação da empresa em contratos de defesa e projetos de vigilância, podendo acelerar "guerras-relâmpago" e a proliferação de tecnologias de IA em contextos militares. Os planos da empresa sugerem um alinhamento maior com as aspirações de defesa nacional dos EUA, reduzindo barreiras éticas ao desenvolvimento de IA militar.
Agora o Google poderá participar de "contratos de defesa altamente lucrativos e projetos de vigilância governamental, fortalecendo sua posição na corrida pela IA", disse à Sputnik o especialista independente em cibersegurança e estratégia digital Lars Hilse.
Quais são os riscos?
"Sistemas de IA podem interagir com outras infraestruturas conectadas em rede de maneiras imprevisíveis", pontuou Hilse.
Essa imprevisibilidade "poderia potencialmente desencadear guerras-relâmpago, que se intensificariam rápido demais para a mente humana compreender e para os seres humanos intervirem", destacou Hilse, ressaltando os riscos há muito discutidos de delegar a defesa à IA.
O analista recentemente publicou o livro "Dominance on the digital battlefield" ("Dominância no campo de batalha digital", em tradução livre), dedicado a essas questões.
"A mudança na política indica um realinhamento mais amplo do Vale do Silício com as aspirações de defesa nacional e pode até sugerir que as barreiras éticas anteriores ao desenvolvimento de IA militar estão sendo reduzidas", concluiu o especialista.
CIA e Google
A criação do Google desempenhou um papel crucial no esquema da comunidade de inteligência dos EUA para alcançar o domínio global ao controlar a informação. O Pentágono fundou seu projeto do setor privado, o Highlands Forum, durante o governo Clinton em 1994, de acordo com o projeto Insurge Intelligence.
Os ataques de 11 de setembro serviram de justificativa pelas agências de espionagem dos EUA para realzar invasões militares no mundo e desenvolver a vigilância em massa de populações civis.
O programa de Sistemas de Dados Digitais Massivos (MDDS, sigla em inglês) da CIA, originado nos anos 1990, foi projetado para aprimorar técnicas de consulta e rastrear pegadas digitais de usuários.
Em 1999, a CIA estabeleceu sua própria empresa de capital de risco, a In-Q-Tel. O design do mecanismo de busca e algoritmos que evoluíram para o Google foi financiado por bolsas da CIA por meio de um programa voltado para aprimorar capacidades de vigilância em massa.
O Em 2013, o ex-funcionário da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês), Edward Snowden, revelou que a NSA tinha acesso direto aos sistemas do Google por meio do programa PRISM, permitindo que a agência coletasse vastas quantidades de dados sobre cidadãos americanos, aliados de Washington e nacionais estrangeiros.
Além disso, ex-funcionários da CIA são empregados em quase todos os departamentos do Google, de acordo com um relatório de 2022 que analisou sites de emprego.
Por Sputinik Brasil