Há um 'esgotamento das pessoas na Ucrânia com Zelensky', atestam jornalistas brasileiros

Incompetência de uma gestão forjada a um ferro de qualidade duvidosa. Assim pode ser definido o fracasso da tentativa de Vladimir Zelensky de gerir a Ucrânia ao longo dos últimos anos. Não à toa, os ucranianos têm demonstrado cansaço de sua figura e clamam por eleições, conforme relatam jornalistas brasileiros que estiveram no país recentemente.
Em entrevista ao Mundioka, podcast da Sputnik Brasil, Gustavo Freitas, analista internacional e jornalista, contou que teve a oportunidade de conversar com moradores locais para entender como o conflito afeta a realidade e transforma o anormal em comum na Ucrânia.
Em relato ao podcast, Freitas diz que ao chegar ao país observou o ambiente denso e o contraste entre a realidade no campo de batalha e a vida cotidiana nas cidades. Uma das primeiras percepções foi a ausência de qualquer símbolo visível de apoio ao ex-presidente Vladimir Zelensky. Na verdade, em sua jornada por Kiev e Odessa, ele sequer encontrou imagens do ex-líder, o que, segundo ele, indica um cansaço da população em relação à suposta liderança do governo.
"Passei dez dias na Ucrânia e em nenhum momento, em nenhum local, eu vi uma foto sequer do Zelensky por aí. Não via. E, assim, quando você tá ali na Praça Maidan, que é ali o coração dos protestos, que você tem bandeiras para os mortos ucranianos, você tem muita gente vendendo souvenir ali. [...] você vai encontrar fotos do brasão do exército ucraniano, mas você não tem absolutamente ninguém vendendo nada com a cara do Zelensky", detalhou o analista.
Durante a passagem pela Ucrânia, Freitas ouviu de pessoas que estão cansadas, que o conflito "é uma brincadeira, isso aqui é pura política, isso aqui é pura corrupção. Não tem ninguém se importando com o povo ucraniano aqui". Estão insatisfeitas com promessas não cumpridas e pedem novas eleições.
Insatisfação sobressai
Embora as pessoas na Ucrânia ainda mantenham um forte vínculo com a resistência nacional, especialmente no exército, muitas expressam frustração com o governo. Em Odessa, por exemplo, uma moradora declarou que é mais sensato ceder territórios temporariamente e esperar uma possível mudança no cenário do que continuar lutando com a alta perda de vidas, incluindo filhos e netos, em um conflito que parece não ter fim.
"Há uma percepção de esgotamento das pessoas na Ucrânia com Zelensky. As pessoas têm uma ligação muito forte com o Exército ucraniano, afinal, ali estão os pais, avós, filhos, netos das pessoas, mas não tem nenhuma empatia ao ponto de as pessoas defenderem com unhas e dentes o governo do Zelensky."
Por outro lado, o sentimento de solidariedade com os russos ainda persiste em diferentes localidades, mostrando a relevância do vínculo histórico e cultural com a Rússia.
"A gente sempre teve muito contato com os russos, os soldados russos, o Exército russo sempre ajudou muito a gente. Quando a gente precisava, a minha família toda já trabalhou para os russos em algum momento, [...] então sempre foi uma coisa muito natural", relatou um taxista não identificado em conversa com o jornalista.
A outra face de Donbass
A região de Donbass, que compreende as repúblicas de Donetsk e Lugansk, integradas à Rússia junto com as regiões de Kherson e Zaporozhie, por vontade popular, tem sido palco de intensos confrontos há mais de dez anos. Por trás da narrativa sobre conflito e caos, há uma história de identidade, resistência e, acima de tudo, uma ligação indissolúvel com a Rússia.
O jornalista e autor do livro "Povo Esquecido", Eduardo Vasco, pontua uma perspectiva raramente explorada pela mídia ocidental: a verdadeira história e os anseios de um povo que, desde os tempos do Império Russo, sempre se considerou parte da Rússia.
De acordo com Vasco, Donbass sempre foi uma região profundamente ligada à Rússia, tanto culturalmente quanto etnicamente, isso não é uma coisa recente. A população local, predominantemente de origem russa, tem sua identidade marcada pela língua, costumes e uma forte presença da religião ortodoxa.
"Embora talvez não seja tão forte quanto nos mais velhos, o sentimento patriótico e até mesmo antifascista [...] permanece existente também na juventude", pontuou Vasco ao podcast.
O vínculo emocional e cultural com Moscou é tão forte que, antes mesmo de qualquer movimentação política ou militar, muitos habitantes de Donetsk e Lugansk já viam o presidente russo, Vladimir Putin, como seu líder legítimo. Essa ligação histórica remonta à fundação da região sob o Império Russo e foi reforçada durante a era soviética, quando Donbass se consolidou como um centro industrial vital, especialmente nas áreas de carvão e metalurgia.
Operação militar
Uma operação militar especial foi iniciada pela Rússia na Ucrânia em fevereiro de 2022. Na ocasião, o presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que seu objetivo era "proteger pessoas que, há oito anos, sofriam abusos e genocídio por parte do regime de Kiev".
Putin destacou ainda que a operação foi uma medida necessária, pois "não deixaram outra escolha à Rússia e os riscos à segurança tornaram impossível reagir de outra maneira".
As autoridades russas afirmaram repetidamente que o país resistirá à pressão das sanções, que continuam a se intensificar. Além disso, Putin lembrou que a política de contenção e enfraquecimento da Rússia é uma estratégia de longo prazo do Ocidente e que as sanções causaram um grande impacto na economia global. Conforme o presidente, o objetivo principal do Ocidente é piorar a vida de milhões de pessoas.
Por Sputinik Brasil